O meteorologista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) Nuno Lopes disse, esta segunda-feira, à Lusa que “é muito pouco provável” que o sucedido no Porto no fim de semana volte a acontecer, sem descartar totalmente essa possibilidade.
“Que pode voltar a acontecer, pode. Que é provável, não. É muito pouco provável”, disse hoje à Lusa, por Skype, o chefe da divisão de Previsão Meteorológica e Vigilância do IPMA.
Nuno Lopes explicou que para o fenómeno de fortes chuvas e enxurradas suceder novamente, “para além das condições estarem todas reunidas, tem de ser exatamente naquele sítio”.
O concelho do Porto registou, no sábado, em menos de duas horas, 150 pedidos de ajuda por causa das inundações em habitações e vias públicas, principalmente na baixa da cidade, disse à Lusa fonte da Proteção Civil local.
As enxurradas causaram também danos em algumas habitações na zona das Fontainhas.
“Aquilo basta ser 10 quilómetros a norte que já não tem o mesmo efeito”, explicou o responsável à Lusa, comentando que o fenómeno ocorreu “quase no ponto ‘certo’, onde podia dar” para causar as enxurradas, devido à impermeabilização dos solos na cidade e à capacidade de escoamento.
Nuno Lopes disse até que “podia ter sido um bocadinho pior, se tivesse sido mais afinado”, considerando que “aquela zona impermeabilizada [da cidade] é muito complicada”.
“Foi mesmo azar”, resumiu, lembrando “um evento com muitas semelhanças em 2008”.
Em causa está uma “passagem de um sistema frontal com convecção forte embebida, semelhante a um episódio de 07 de outubro de 2008”, disse também fonte oficial do IPMA à Lusa.
“Já estava previsto que ocorresse muita precipitação, de forma persistente, ao longo do dia de sábado, e com um novo episódio ao longo de domingo”, explicou Nuno Lopes à Lusa.
Associada à precipitação prevista estava um sistema frontal, que “normalmente tem uma frente quente e uma frente fria” e “a uma depressão que está algures”, tendo as frentes “uma parte próxima da superfície, que se chama superfície frontal”.
“Normalmente, a acompanhar a superfície frontal, e até a superfície frontal fria, há, digamos, um agravamento da situação”, que sucede quando há “rajadas mais fortes” e se dá pico da precipitação.
No meio deste fenómeno há a convecção, que “tem a ver com movimentos verticais”, e “quanto mais forte for essa convecção, quanto mais elevado for esse movimento vertical, maior a quantidade [de água] na atmosfera que ele pode apanhar para despejar”.
Nos últimos eventos climatológicos em Lisboa e no Porto “tem havido convecção forte que não tem sido bem captada pelos modelos”, disse Nuno Lopes à Lusa.
“Nós sabemos que ela pode existir, temos alguns parâmetros onde tentamos aferir se ela está lá, se podemos ter essa convecção forte ou não, mas é sempre difícil”, acrescentou.
Segundo o meteorologista, “não há ciência, nesta altura, que identifique onde é que isso vai acontecer”, mas parece haver “mais disponibilidade de água na atmosfera para despejar”.
“O que aconteceu foi um bocadinho azar, se quiser. Ou seja, houve convecção forte exatamente sobre a cidade do Porto, que é uma zona impermeabilizada”, resumiu.
Fonte: Jornal de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: André Rolo / Global Imagens