Pesquisar
Close this search box.

Dia dos Namorados. Cinco casais no coração do cinema

Ava Gardner e Frank Sinatra, Vivien Leigh e Laurence Olivier, Tony Curtis e Janet Leigh, Rita Hayworth e Orson Welles, Anne Bancroft e Mel Brooks, Lucille Ball e Desi Arnaz (sobre estes últimos Aaron Sorkin fez um filme em 2021, Being the Ricardos, com Nicole Kidman e Javier Bardem)…

A lista de casais, na sua maioria relativamente efémeros, podia continuar. Esta é a Hollywood do tempo das grandes estrelas, que concentrou também uma extensa narrativa romântica, ou apenas escaldante, fora do perímetro dos filmes, mas sempre no interior do imaginário da indústria.

Hoje temos Jennifer Lopez e Ben Affleck, Zendaya e Tom Holland, ou Joaquin Phoenix e Rooney Mara, depois das separações de Brad Pitt e Angelina Jolie, e, ainda antes, de Tom Cruise e Kidman. Mas haverá comparação com o glamour maciço da época do star system? 

Percorremos cinco casos, cinco pares de atores que se conheceram em rodagens ou se encontraram algures nas lides do cinema clássico americano. Um exercício vintage para inspirar o dia. 

Humphrey Bogart e Lauren Bacall

Se há casal que representa uma certa magia (perdida) da Hollywood clássica é Bogie e Bacall. Conheceram-se na rodagem de Ter ou Não Ter (1944), de Howard Hawks, e foi amor para o resto da vida dele, que morreu em 1957.

A culpa do encontro dos dois na grande tela pode ser atribuída à mulher do realizador, a socialite Slim Keith, que a topou na capa de março de 1943 da Harper’s Bazaar e arriscou a recomendação ao marido: Lauren Bacall tinha apenas 19 anos quando se lançou nesse primeiro filme, ao lado de um maduro Humphrey Bogart, de 43, que terá forjado um humor infantil para ajudá-la a relaxar no set

O resultado ficou à vista numa espécie de sentimento palpável. A chamada química romântica, que a campanha publicitária dos estúdios Warner Bros. reforçou ao designar Bacall como “The Look”. 

Esse princípio de interação – que, segundo a própria, não significou amor à primeira vista – fez esbater a diferença de idades e garantiu outros reencontros registados pela lente do cinema e eternizados pelo molde da ficção, de entre os quais À Beira do Abismo (1946), também de Hawks, será mais um dos exemplos que pertencem ao capítulo célebre deste romance, com Bogart a deixar a sua imagem de marca numa encarnação do detetive Philip Marlowe.

Caso para dizer que o film noir, na sua especificidade de cigarros acesos e diálogos sexy, os uniu para sempre, à frente e atrás do ecrã. Bacall morreu em 2014. Passam 10 anos a 12 de agosto, e o seu centenário assinala-se a 16 de setembro. 

Paul Newman e Joanne Woodward

Embora seja quase impossível destronar Bogart e Bacall como “o” par de Hollywood por excelência, Paul Newman e Joanne Woodward afiguram-se um caso sério de relação duradoura.

E foi precisamente o desejo de estudar a longevidade desta história de amor que motivou a série documental The Last Movie Stars, de Ethan Hawke (disponível na HBO Max), um olhar sobre todas as fases de uma relação que é indissociável da própria vida do cinema – Newman e Woodward fizeram juntos mais de uma dezena de filmes, três produções da Broadway e vários outros projetos.

Conheceram-se em 1953, altura em que se cruzaram num casting de substitutos para a peça Picnic, mas aí só Newman ganhou o papel. Um pormenor de pouca importância face à atração sexual que se desenvolveu entre eles, apesar de Newman estar casado à época. 

Quem começou por vingar em Hollywood foi, no entanto, Woodward, que venceu um Óscar logo em 1958 pel’As Três Faces de Eva, somando já outras interpretações que davam conta do seu talento intuitivo.

A trajetória do sucesso de ambos mudou quando ela passou a ficar mais tempo em casa, para cuidar dos filhos, e Newman se enredou progressivamente na fama, de algum modo deixando-a na sombra.

Esta situação só voltou a mudar através de uma atitude introspetiva dele, que se fez realizador em parte para oferecer de novo destaque à mulher como atriz (vejam-se os maravilhosos Rachel, Rachel, A Influência dos Raios Gama no Comportamento das Margaridas e Algemas de Cristal), reconhecendo que o percurso dela definhou em benefício do dele. 

A última vez que contracenaram foi num filme de James Ivory, Mr. e Mrs. Bridge (1990), e foram casados durante mais de 50 anos, até à morte de Paul Newman, em 2008, aos 83. Joanne Woodward é viva e faz daqui a poucos dias (27 de fevereiro) 94 anos. 

Katharine Hepburn e Spencer Tracy

O que dizer de Katharine Hepburn e Spencer Tracy? Talvez este que é o segredo mais terno e mal guardado da velha indústria do cinema americano.

Foi no set de A Primeira Dama (1942), de George Stevens, que os seus destinos se cruzaram numa paixão imediata e sem hesitações, levando a uma vida partilhada até à morte de Tracy em 1967 – Hepburn acompanhou a deterioração da sua saúde (muito devido ao consumo de álcool), inclusive fazendo uma pausa de cinco anos na extensa carreira para cuidar dele até ao fim.

Nesse derradeiro ano de 67 ainda fizeram juntos Adivinha Quem Vem Jantar, de Stanley Kramer, na pele (branca) de um casal cuja filha está noiva de um médico afro-americano (Sidney Poitier). 

Embora seja quase impossível destronar Bogart e Bacall como “o” par de Hollywood por excelência, Paul Newman e Joanne Woodward afiguram-se um caso sério de relação duradoura.

E foi precisamente o desejo de estudar a longevidade desta história de amor que motivou a série documental The Last Movie Stars, de Ethan Hawke (disponível na HBO Max), um olhar sobre todas as fases de uma relação que é indissociável da própria vida do cinema – Newman e Woodward fizeram juntos mais de uma dezena de filmes, três produções da Broadway e vários outros projetos.

Conheceram-se em 1953, altura em que se cruzaram num casting de substitutos para a peça Picnic, mas aí só Newman ganhou o papel. Um pormenor de pouca importância face à atração sexual que se desenvolveu entre eles, apesar de Newman estar casado à época. 

Quem começou por vingar em Hollywood foi, no entanto, Woodward, que venceu um Óscar logo em 1958 pela ’As Três Faces de Eva’, somando já outras interpretações que davam conta do seu talento intuitivo.

A trajetória do sucesso de ambos mudou quando ela passou a ficar mais tempo em casa, para cuidar dos filhos, e Newman se enredou progressivamente na fama, de algum modo deixando-a na sombra.

Esta situação só voltou a mudar através de uma atitude introspetiva dele, que se fez realizador em parte para oferecer de novo destaque à mulher como atriz (vejam-se os maravilhosos Rachel, Rachel, A Influência dos Raios Gama no Comportamento das Margaridas e Algemas de Cristal), reconhecendo que o percurso dela definhou em benefício do dele. 

A última vez que contracenaram foi num filme de James Ivory, Mr. e Mrs. Bridge (1990), e foram casados durante mais de 50 anos, até à morte de Paul Newman, em 2008, aos 83. Joanne Woodward é viva e faz daqui a poucos dias (27 de fevereiro) 94 anos. 

Nesta relação “secreta” de 25 anos, marcada também por um enorme êxito chamado A Costela de Adão (1949, George Cukor), não deixa de ser curioso como o espírito independente e feminista dela se conjugou com o conservadorismo dele.

A verdade é que Spencer Tracy, casado à época em que conheceu Katharine Hepburn, nunca se divorciou da esposa, Louise Treadwell, assumindo que enquanto católico deveria evitar o escândalo familiar e manter a separação apenas no plano discreto da realidade quotidiana.

E Hepburn, que não tinha a menor intenção de voltar a casar depois de ter passado brevemente por essa instituição, aceitou a conjuntura. Ao comentar a lógica dos filmes em que contracenaram, a própria Hepburn deu algumas pistas sobre a natureza desta relação, sempre mantida em falso sigilo: “O ideal do homem americano é o Spencer.

Amante do desporto, um homem a sério, com aparência forte, cabeçudo, pescoço de varão, e por aí fora. Um homem. E eu represento a mulher – provoco-o, irrito-o, tento contorná-lo. Mas se ele pusesse de fora uma grande pata, poderia esmagar-me.” Será? Só uma mosca não esmagada para nos dar a versão real e íntima deste jogo de forças… 

Clark Gable e Carole Lombard

Escreve David Thomson no dicionário biográfico do cinema: “[Clark] Gable teve sucesso no grande ecrã graças à promessa de força por trás do sorriso – foi isso que tornou conhecido o seu sorriso”. Uma contração dos lábios e músculos faciais que fez dele um dos maiores galãs da história de Hollywood, conquistando meio mundo, mas não Carole Lombard…

Quer dizer, vamos com calma. Quando protagonizaram Casar por Casar (1932), consta que as suas personalidades não fizeram faísca durante a rodagem: Gable não tinha grande paciência para a postura agitada da loiraça Lombard, e Lombard não ia à bola com o estoicismo então demonstrado por Gable. 

Só quatro anos mais tarde, um encontro numa festa e uma dança atrevida proporcionaram a atração dos opostos. Enfim, opostos no sentido em que ele simbolizava o glamour romântico e dramático das grandes produções dos estúdios e ela se definia pelas comédias mais amalucadas (pense-se, por exemplo, no genial Doidos Milionários, de 1936).

Juntos eram dinamite de elegância hollywoodesca! Com os respetivos processos de divórcio despachados, casaram em 1939, resolvendo a lua de mel com uma escapadinha ao Arizona durante uma pausa das filmagens de E Tudo o Vento Levou, esse clássico de que Gable é o grande intérprete masculino. 

Porventura o mais trágico dos romances da terra dos sonhos, esta história acabou com a morte da bela Carole Lombard num acidente de avião em 1942. Tinha apenas 33 anos e muito para provar ao mundo, como se vê pelo seu último filme, Ser ou Não Ser, de Ernest Lubitsch, e aquele que fez imediatamente antes com Hitchcock, O Sr. e a Sra. Smith, a deixar a semente do que teria sido uma magnífica colaboração regular com o cineasta inglês.

De Clark Gable diz-se que nunca mais foi o mesmo. O sorriso esmoreceu para sempre, ou quase: no seu derradeiro filme, Os Inadaptados (1961), de John Huston, ainda o vislumbramos, melancólico e cansado, diante de outro anjo louro chamado Marilyn Monroe. Talvez a recordar Lombard. 

Elizabeth Taylor e Richard Burton

O caso de Taylor e Burton pertence a outro tipo de mitologia, digamos, mais escandalosa do que romântica.

Quando os dois trocaram olhares na rodagem de Cleópatra (1963) – por si só um ambiente desastroso de produção épica –, ela já tinha causado choque mediático com quatro casamentos, o último dos quais com Eddie Fisher, ex-marido da atriz Debbie Reynolds (a mãe de Carrie Fisher), que era amiga dela…

E, no entanto, bastou este encontro em Cleópatra para Liz Taylor, do alto da sua autoridade egípcia, trocar Eddie Fisher por Richard Burton e incendiar novamente a opinião pública. 

Não será preciso entrar em explicações psicanalíticas para justificar a vida amorosa de Taylor, cujo casamento com Burton se dividiu em dois, com uma primeira fase de 10 anos, até 1974, e outra logo depois, de 75 a 76, seguidas de mais dois matrimónios, num total de oito.

Mas tentando olhar a atriz para além da suposta excentricidade da sua vida privada, é possível imaginar que a criança que cresceu vigiada pelo grande ecrã, numa época em que a expressão da sexualidade era reprimida pela censura, tenha acumulado demasiada tensão e desejo… Talvez seja por aí. 

No que toca à lenda Liz e Dick, como eram chamados, fez corresponder a duração do romance ao número de filmes juntos (11), alimentando um estilo de presença pública pouco ordeiro. Ambos disseram que foram o amor da vida um do outro. 

Fonte e crédito das imagens: Diário de Notícias / Portugal