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Dia da Criança: os bastidores do Jardim Zoológico de Lisboa. 100 mil crianças visitam todos os anos os 2000 animais

O trabalho arranca bem cedo no Jardim Zoológico de Lisboa. Ainda antes das 07.00 começam a chegar os trabalhadores das várias áreas do Zoo, à porta de serviço.

Na cozinha, já se partem frutas, separam legumes e coze-se um panelão de ovos, para a alimentação de alguns animais.

“Isto é um refeitório muito grande para animais e temos animais com diferentes necessidades: uns são carnívoros, outros omnívoros, outros estritamente vegetarianos, como é o caso dos gorilas. Só os gorilas comem, diariamente, entre 27 a 30 quilos de alimentos por dia”, começa por explicar Ana Saraiva, engenheira zootécnica e responsável pelo departamento de nutrição.

“Anualmente, gastamos 400 toneladas de feno. Por mês, só em maçãs, são à volta de quatro toneladas; cenouras são duas toneladas. E estou só a referir-me aos alimentos mais consumidos diariamente”.

Para alimentar os cerca de dois mil animais, de aproximadamente 300 espécies, o Jardim Zoológico tem de comprar “a maior parte dos alimentos”. Porém, chega ajuda de alguns hipermercados.

“Eles têm quebras de certos produtos que não podem seguir o circuito comercial normal, por exemplo uma banana que tem um toque. Noutros casos, são alimentos que são testados, antes de irem para o circuito comercial, e há lotes que, depois, são colocados de parte e não seguem para o circuito de venda ao público: nós vamos buscar esse alimentos diariamente, essas doações desses excedentes”.

De seguida, é feita “uma seleção criteriosa, aqui na cozinha, do que está impróprio para consumo e do que conseguimos aproveitar”. “Mas essas ofertas não chegam para as nossas necessidades”, lamenta esta responsável. “São valores muito reduzidos, daí termos necessidade, todas as semanas, de comprar frutas e vegetais, com qualidade igual à que é utilizada no consumo humano”.

As dietas de todos os animais são elaboradas “em estreita relação com a equipa veterinária e a curadoria dos animais. Tem de haver sempre um intercâmbio e uma relação constante e diária para que, no fundo, os animais tenham uma alimentação o mais saudável possível”.

E há animais que comem muito: “Temos animais que fazem três ou quatro refeições diárias, como é o caso dos gorilas e de outros primatas. Outras espécies, como os carnívoros – por exemplo leões – fazem apenas uma refeição diária”. Na instalação dos elefantes, rinocerontes ou hipopótamos, animais de grande porte, “há sempre feno à disposição e eles vão comendo, de dia e de noite, conforme o apetite”.

Há ainda animais que se alimentam de “rações importadas ou insetos vivos. Tentamos dar a dieta, aos animais, o mais parecida possível com a alimentação natural, em meio selvagem”.

Aliás, manter os animais em instalações que lhes permitam estar da maneira mais aproximada ao que estariam na natureza foi o objetivo das grandes obras que foram feitas no Jardim Zoológico de Lisboa há cerca de 25 anos.

Se antes se viam macacos atrás das grades, hoje em dia os animais andam soltos, livremente, em áreas de dimensões apropriadas e com instalações que lhes permitem movimentar-se de forma o mais semelhante possível à da vida selvagem.

Da grande cozinha do Jardim Zoológico partimos ao encontro dos macacos aranha, onde não falta uma cria, de apenas um mês.

“São primatas da América do Sul e têm adaptações anatómicas específicas. Por exemplo, a cauda prende-se e eles agarram-se pela cauda para comerem. Usam a cauda para comerem os frutos e as folhas que estão mais altos, nas árvores”, explica Maria da Paz, tratadora principal da equipa de pequenos primatas.

“Aqui, na alimentação, tentamos criar oportunidades para que eles simulem os comportamentos que teriam na natureza”.

A comida é deixada em recipientes pendurados na instalação de madeira. Os macacos aranha, assim que os tratadores se afastam, vão aos cestos e revolvem as frutas e verduras que ali foram deixadas. “Colocamos a comida de maneira a eles terem de a ir buscar, tendo de se pendurar em altura, porque na natureza é assim que os macacos aranha comem. E, como vê, estão sempre a utilizar a cauda, é como se tivessem um quinto membro”.

No caso destes primatas, os tratadores entram directamente dentro da instalação. “Os animais selvagens não são animais de estimação. Não podemos tentar comparar comportamentos”, avança a tratadora. “Os tratadores que lidam com eles diariamente, neste caso em contacto direto, têm de ter atenção porque, tal como nós, eles não estão sempre bem dispostos”.

Por isso, antes da entrada nas instalações “é feita uma observação geral, em que vemos o comportamento dos animais. Depois, obviamente que eles não atacam, porque não têm razões para atacar, mas é preciso ter atenção, porque queremos mantê-los selvagens, não queremos domesticá-los. Fazemos o que temos de fazer mas não há contactos [por exemplo, festas] porque queremos que se mantenham como são e que se relacionem entre eles e não com o tratador”.

Mas se no caso dos macacos aranha os tratadores entram dentro da instalação com os animais soltos, com outros não é assim. “Com tigres, elefantes, rinocerontes, hipopótamos ou grandes primatas há contacto protegido. Isso significa que onde está o tratador não está o animal”, explica Maria da Paz.

O DN observou esse caso na instalação dos hipopótamos. Os animais não estavam no lago, que estava a ser limpo e onde a alimentação estava a ser colocada. “O animal passa de um espaço para outro, em segurança, e então o tratador faz o seu trabalho. Outro exemplo é o dos elefantes, que permanecem no interior da instalação o tempo que for necessário e o tratador faz, por fora, a limpeza, coloca a alimentação e volta a abrir aos animais”.

Maria da Paz desvenda: “Há um maneio específico para cada espécie e daí a necessidade de os tratadores conhecerem bem os animais. É um jogo diário, uma relação entre o animal e o tratador, para que o animal faça o que é necessário, que é entrar num espaço para se limpar o outro em segurança. Isso é feito com treino e experiência”.

Fonte: Diário de Notícias / Portugal

Crédito da imagem: Leonardo Negrão / Global Imagens

 

 

 

 

 

 

Apesar de a parte visível ao público serem os animais em exposição, o Jardim Zoológico de Lisboa tem várias missões, como garante o biólogo Diogo Gomes, responsável pelo serviço de educação. “Os pilares do Zoo são a educação, a investigação e a conservação. Todas as atividades que são feitas no Jardim Zoológico têm por base uma, duas ou até as três missões em simultâneo”.

No caso de Diogo, o biólogo coordena os programas educativos das escolas. E são muitos os alunos, de várias idades, a visitar o parque, todos os anos: estima-se que, pelo menos, 100 mil crianças ali passeiem e aprendam mais sobre os animais e a natureza todos os anos.

O Jardim Zoológico de Lisboa, que conta ainda com um hospital e três médicos veterinários, trabalha em rede com outros parques da Europa e do Mundo. A conservação das espécies é uma missão levada muito a sério. Diogo Gomes dá um exemplo “muito recente e que foi um sucesso, em que estivemos envolvidos em dezembro do ano passado: foi com o órix-de-cimitarra, uma espécie que desde o ano 2000 estava considerada extinta na natureza, e nós fizemos parte da reintrodução. Com a contribuição do nosso conhecimento e das várias técnicas que foram desenvolvidas pela comunidade zoológica, já há animais destes em meio natural. As reproduções são feitas com muito cuidado, para garantir uma diversidade genética na população sob cuidados humanos, e depois levar esses animais para a natureza. No caso do órix-de-cimitarra cimitarra foi possível, desde o ano 2000 até agora, uma espécie que estava extinta na natureza passar para uma situação de em perigo. As primeiras reintroduções foram feitas em 2006, na Tunísia, e agora, mais recentemente, no Chade. A taxa de sucesso de reintroduções e reproduções foi muito boa”.

No Jardim Zoológico de Lisboa existe, ainda, um cemitério para animais “onde as pessoas fazem uma última homenagem ao animal que fez parte da sua família. E não estão lá só cães e gatos, mas também aves, serpentes ou peixes”.

O pet hotel completa a oferta de serviços à comunidade. Aqui, os cuidadores podem deixar os seus animais de estimação e irem de férias descansados. “Os principais clientes são cães e gatos mas, até pelo conhecimento que temos de animais selvagens, podemos receber araras, catatuas, papagaios, tartarugas. Há ainda a mais valia de termos os nossos veterinários, caso aconteça algum incidente ou o animal fique doente”.