António Costa afirmou que há “espaço para crescer” nas relações comerciais entre Portugal e Brasil, que estão ainda “muito aquém do potencial” e garantiu esta segunda-feira a Lula da Silva que “o Brasil pode sempre contar com Portugal como um verdadeiro ponta de lança”.
O chefe do Executivo português relembrou o acordo para o desenvolvimento do avião cargueiro da Embraer, KC-390, e o protocolo para a futura produção do caça A-29 Super Tucano, adaptado para os padrões da NATO.
O primeiro-ministro mencionou, ainda, o acordo “estratégico” entre o Mercosul e a União Europeia, como também o cabo de internet que liga a América Latina à Europa, através de uma ligação marítima entre Brasil e Portugal.
“O Brasil é um dos 10 maiores investidores em Portugal e o segundo fora da Europa. Mas isso fica muito aquém da capacidade de investimento. Nós somos apenas o 18.º investidor no Brasil. Mas, francamente, 18º lugar não é a nossa posição. Temos que subir. Por isso, é fundamental aumentar o investimento de Portugal no Brasil”, defendeu António Costa.
O primeiro-ministro discursava na abertura do Fórum Empresarial Portugal Brasil, que junta, esta segunda-feira, em Matosinhos, cerca de 150 empresários dos dois países, visando a assinatura de um novo protocolo de entendimento entre a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) e a sua congénere Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX).
Para António Costa, os acordos celebrados entre os governos e os empresários portugueses e brasileiros “traduzem todo o potencial que existe e a vontade” de os dois países “trabalharem juntos”. Mas é preciso ir mais além.
“Há espaço para crescer”, diz António Costa
“Há espaço para crescer”, reforçou António Costa, referindo-se a investimentos bilaterais em áreas como os transportes, o turismo, a saúde e as novas tecnologias. Aos empresários brasileiros, o primeiro-ministro apontou todo o potencial que existe em Portugal ao nível da transição digital e energética. E sugeriu todos os projetos que estão a decorrer em Sines, no âmbito do cabo de fibra ótica que vai ligar a Europa à América do Sul, como um exemplo de “uma enorme oportunidade”.
Discursando de seguida, Lula da Silva concordou com as áreas apontadas por António Costa como sendo atrativas para o investimento brasileiro. E garantiu: “O Brasil quer construir definitivamente políticas de cooperação. Não queremos hegemonia. Queremos construir parcerias com empresas portuguesas”.
O presidente brasileiro disse que os governos brasileiro e português devem estabelecer uma meta nas relações entre os países para os próximos dois ou três anos. Lula afirmou ainda que Portugal não é apenas “uma porta” de entrada para a Europa.
“Esta parceria entre Brasil e Portugal é importante. Sempre se tratou Portugal como um país pequeno, como a entrada para a Europa”, apontou, de seguida, o presidente brasileiro, defendendo que prefere aliar-se a Portugal para os dois países criarem produtos para exportarem para a restante Europa do que vender diretamente a países como a Alemanha.
Mas, Lula da Silva não quer apenas palavras. “Na política, tem que se estabelecer metas, tem que se ter um projeto, não se deve ficar a governar de acordo com o vento”, sustentou.
Lula da Silva criticou o Governo de Bolsonaro e disse que o “Brasil esteve afastado do mundo praticamente seis anos”. O presidente brasileiro afirmou que a falta de investimentos no país está relacionada com a falta de estabilidade política, social e jurídica. O chefe de Estado brasileiro criticou ainda a taxa de juros do Brasil, a venda de empresas públicas e o regresso da fome ao país.
O presidente brasileiro voltou a repetir o discurso que tem feito sobre a guerra na Ucrânia: “O Brasil está de volta para ser protagonista internacional. É por isso que estou a dedicar-me, inclusive, em tentar parar de falar em guerra e construir a paz para que a gente possa produzir para a humanidade viver melhor”, referiu Lula da Silva.
Apoio para o acordo União Europeia-Mercosul
Antes, António Costa tinha garantido a Lula da Silva todo o apoio de Portugal para que se concretize finalmente ao acordo União Europeia-Mercosul. “O Brasil pode sempre contar com Portugal como um verdadeiro ponta de lança. Desta vez, tem que ser! Vamos trabalhar para concretizar esse acordo”, assegurou o primeiro-ministro.
Durante a cerimónia, que decorreu no Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto (CeiiA), em Matosinhos, Lula da Silva e António Costa vincaram as vantagens de os dois países falarem a mesma língua e trocaram elogios.
“Já nos encontramos há mais de 500 anos. Temos a vantagem de falarmos a mesma língua mas as novelas brasileiras foram-nos permitindo compreender o sotaque brasileiro. Temos é pena de não falarmos com o vosso sotaque”, chegou a atirar o primeiro-ministro português.
“Geringonça no Brasil não é uma coisa muito boa. É um amontoado de todas as coisas. Mas António Costa está a mudar a cara de Portugal”, declarou Lula da Silva, enaltecendo a forma como o Governo e o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, estão a conseguir colocar as suas divergências políticas de lado para estabelecerem “um regime de convivência em favor do seu povo”.
Fonte: Jornal de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Patrícia de Melo Moreira / AFP