Mais uma cimeira, mais uma viagem: a 28.ª Conferência do Clima da ONU (COP28), encontro anual do clima patrocinado pelas Nações Unidas, desta vez no Dubai, com início nesta quinta-feira e até o próximo dia 12 de dezembro, aprovou um fundo para desastres climáticos que ajudará nações vulneráveis a lidar com o impacto da seca, das inundações e do aumento da água do mar.
É, para os observadores, mais um falhanço em perspetiva: é um fundo reativo e não um financiamento preventivo. O mundo já se habituou a, entre cada cimeira anual, colecionar evidências de que o combate contra as alterações climáticas está perdido, mas os altos responsáveis mundiais insistem naquilo que, diz quem sabe, não serve para nada.
Mesmo assim, e segundo a versão oficial, o acordo marcou um “sinal positivo de impulso” no início da conferência de 2023, a COP28 – tendo como porta-voz o anfitrião, o sultão dos Emirados Árabes Unidos, Sultan al-Jaber, na cerimónia de abertura desta quinta-feira.
Al-Jaber, que é ministro da Indústria dos Emirados Árabes Unidos e também dirige a companhia petrolífera nacional, preside à 28ª reunião e o seu papel de liderança do sector do petróleo atraiu a reação dos críticos, que afirmam que as ligações profissionais deviam desqualificá-lo do cargo.
No discurso de abertura, Al-Jaber defendeu, citado pela imprensa internacional, que o mundo deve “engajar proativamente” as empresas de combustíveis fósseis na eliminação gradual das emissões, apontando para o progresso de algumas empresas petrolíferas nacionais na adoção de metas zero para 2050.
“Estou grato por eles se terem juntado a esta jornada de mudança”, disse. “Mas, devo dizer, não é suficiente, e sei que eles podem fazer muito mais”.
O líder do segmento na ONU, Simon Stiell, fez uma avaliação mais contundente, afirmando que deve haver um “declínio terminal” na era dos combustíveis fósseis se quisermos parar “o nosso próprio declínio terminal”.
É a mesma mensagem do secretário-geral, António Guterres, dirigida aos líderes de um sector que não têm a menor intenção de o encerrar. Nem de outra forma poderia ser, numa economia global que está baseada nos combustíveis fósseis e que não perspectiva, na prática, qualquer mudança de paradigma. Entre outras razões, porque não há uma alternativa financeiramente possível.
De qualquer modo, a festa é para continuar: com mais de 70 mil participantes, o evento de duas semanas é anunciado como o maior encontro climático de todos os tempos. Entre os participantes esperados estão dezenas de líderes mundiais, incluindo os chefes de Estado da França, Japão, Reino Unido, Egito, Arábia Saudita, Qatar, Jordânia e Brasil.
Também estão representadas multidões de ativistas, lobistas e líderes empresariais, incluindo o multimilionário Bill Gates. Do lado das ausências, as mais notadas são as dos presidentes da China e dos Estados Unidos, que de qualquer modo mandam mensagens de engajamento.
As emissões de gases com efeito de estufa ficam à porta, o que não será fácil dado que subiram ao longo de 2023, o ano mais quente já registado – o que talvez queira dizer que a COP27, quando quer que seja que tenha sido realizada, foi um falhanço.
Os cientistas cumprem, como Guterres, o seu papel: alertam que o mundo deve comprometer-se a acelerar a ação climática ou arriscar os piores impactos num planeta em aquecimento. O secretário-geral da ONU disse que os líderes devem almejar uma “eliminação completa” dos combustíveis fósseis, uma proposta contestada por algumas nações poderosas que têm dificultado negociações.
Segundo a ordem de serviço, os participantes devem rever a implementação dos termos da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCC), do Acordo de Paris e do Protocolo de Kyoto, um tratado vinculativo acordado em 1997 para que as nações industrializadas reduzam as emissões de gases de efeito estufa. R
Fonte: O Jornal Económico / Portugal
Crédito da imagem: Amr Alfiky