Oito cidades da região Norte vão poder experimentar, até ao final de 2025, o primeiro sistema conectado de mobilidade sustentável, em Portugal, que tem o seu expoente máximo num veículo elétrico, o BEN, com tecnologia inovadora e 100% nacional.
O veículo, com rede 5G – e potencialidade para condução autónoma – pode ser reservado através de uma app, tal como já acontece com as bicicletas ou trotinetas elétricas, explicou Manuel Ramalho Eanes, administrador da NOS, que lidera o consórcio Be.Neutral. “É uma espécie de Uber dos Uber”.
O projeto insere-se na Agenda Be.Neutral do PRR, que reúne um consórcio de 44 entidades científicas, tecnológicas e empresariais, e oito municípios do Norte, empenhados em antecipar as metas da neutralidade carbónica para antes de 2050.
No total, “este cluster de produtos e serviços ligado à mobilidade tem um potencial de criação de riqueza de 700 milhões de euros e de criação de 2200 postos de trabalho”, estima Manuel Ramalho Eanes.
O mais importante, porém, é a redução estimada de três milhões de toneladas de CO2.
O primeiro protótipo dos veículos inovadores, com tecnologia do CEiiA, Salvador Caetano, Simoldes e TMG, vai estar disponível ao público esta segunda-feira, no Museu do Design, em Guimarães, no âmbito do Demo Day Be.Neutral, onde a comissão executiva do consórcio se reunirá para fazer o acompanhamento do projeto e para o debate aberto sobre “Portugal na construção de uma nova indústria automóvel na Europa”.
Participam, para além dos parceiros NOS e CEiiA, também o presidente da Câmara Municipal de Guimarães e o secretário de Estado da Economia.
Em causa está um investimento da ordem dos 220 milhões de euros, 80% do qual financiado pelo PRR. Numa primeira fase serão lançados seis veículos elétricos urbanos, até final do proximo ano, que vão ser testados nas oito cidades que integram a Agenda Be.Neutral, avançou o administrador da NOS, que está encarregue da rede 5G que vai permitir a conetividade, a ativação dos radares e sensores dos veículos que possibilitam travar em função de barreiras ou a deteção de movimentos.
O consórcio está a criar um cluster industrial net-zero na região Norte com o objetivo desenvolver e industrializar novas tecnologias, produtos e serviços, na área da mobilidade, que contribuam acelerar a transição das cidades para a neutralidade carbónica.
O projeto arranca numa primeira fase na região Norte, mas tem potencial de replicação em cidades de todo o mundo. Do pacote fazem ainda parte um modelo de bicicleta e um autocarro ligeiro, com as mesmas características de conetividade para permitir a otimização das viagens.
“O veículo BEN é o primeiro a nível nacional e europeu totalmente neutro em carbono, em que as emissões resultantes do seu processo de produção são integralmente compensadas pelo seu uso”, refere o administrador da NOS. Tem ainda a particularidade, este veículo – bem como a bicicleta e o autocarro ligeiro – de o utilizador poder saber as emissões de CO2 que está a poupar de cada vez que os utiliza, através de uma aplicação desenvolvida pelo CEiiA.
Automóvel já lidera exportações do Norte
“Não é por acaso que a Agenda Be.Neutral, muito focada na mobilidade, avança no Norte”, disse o presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR- Norte).
Do total de 27 mil milhões de euros de exportações registadas pela região em 2023, a indústria automóvel lidera a lista das vendas ao Exterior, representando 21%, só a seguir surge o setor têxtil, com 19% e em terceiro lugar os equipamentos e maquinaria, com 12%, indicou António Cunha.
“Se tivermos em conta o enquadramento geográfico que liga a região Norte ao Sul da Galiza, temos aqui uma das principais regiões europeias no fabrico de componentes automóveis”, considera o presidente da CCDR-N. “E essa é uma razão de peso para a CCDR acompanhar com particular empenho esta agenda”.
Por outro lado, a região conta também com condições mais favoráveis na frente energética. “Se é verdade que cerca de 70% da energia usada por Portugal já vem de fontes renováveis, a região Norte gera 50% do total dessa energia limpa”, indica António Cunha.
Existe ainda a componente da captura de carbono, em que a região, mais arborizada do que a média nacional, tem condições para ter emissões de CO2 mais baixas, diz.
Tendo em conta este conjunto de fatores, “estamos convencidos de que temos condições, na região, para antecipar a meta da neutralidade carbónica que está prevista para 2050”.
Comprometidos com a Agenda Be.Neutral estão os municípios de Guimarães, Porto, Matosinhos, Vila Nova de Gaia, Viana do Castelo, Braga, Oliveira de Azeméis e Vila Nova de Famalicão.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Rui Dias