A Champions League está de volta esta semana e com a particularidade de Portugal se apresentar com três representantes na fase de grupos, o que acontece pela oitava vez na história, depois de o Sp. Braga ter ultrapassado o play off e se ter juntado a Benfica e FC Porto.
Os jogos desta semana reservam algumas curiosidades, a começar pelo reencontro do treinador Roger Schmidt com o RB Salzburgo, da Áustria, onde conquistou os primeiros troféus da carreira.
O Benfica recebe quarta-feira na Luz (20.00, Eleven) o campeão austríaco em título, equipa detida pela multinacional de bebidas energéticas, que curiosamente Roger Schmidt ajudou a catapultar para patamares mais altos – é consecutivamente campeão da Áustria há 10 anos.
Em 2012, o germânico Ralf Rangnick tornou-se diretor desportivo da equipa e avançou com um projeto para criar um clube que jogasse um futebol atrativo, formasse jovens valores e fizesse vendas por valores consideráveis.
Para surpresa geral, foi buscar um treinador que tinha acabado de subir uma equipa à II liga alemã, precisamente Roger Schmidt, que estava no Paderborn. Juntos criaram as bases do projeto de sucesso que é hoje o RB Salzburgo. E foi ali que o atual treinador do Benfica conquistou os seus primeiros troféus.
Apesar de na sua primeira época ter falhado o título (2012/13), o futebol vistoso, ofensivo e de constante pressão sobre o adversário agradou aos responsáveis e aos adeptos, que chegaram a colocar tarjas nas bancadas a pedir à direção para o manter.
No segundo ano em Salzburgo (2013/14), Schmidt arrasou, ganhando a liga austríaca (com 110 golos marcados) e a taça, atingindo os oitavos de final da Liga Europa. O sucesso foi tanto que lhe valeu o regresso à Alemanha, para treinar o Leverkusen.
Foi como treinador do RB Salzburgo que os seus treinos se tornaram notícia – quando uma equipa não recuperava a bola em cinco segundos, era acionada uma sirene. Além disso, foi criada uma filosofia transversal a todo o clube e a todos os escalões, com metodologias idênticas.
Foi também por essa altura que o clube se modernizou, com um centro de análises de dados estatísticos e infraestruturas e centros de treino modernos.
Nos últimos anos, o RB Salzburgo tornou-se numa escola de grandes talentos. Basta lembrar que por lá passaram, ainda jovens, craques como Sadio Mané, Erling Haaland, Naby Keita, Upamecano, entre outros. E quase todas as épocas conseguem fazer bons negócios.
Atualmente, o RB Salzburgo é orientado pelo austríaco Gerhard Struber, que chegou esta temporada do “irmão” norte-americano New York Red Bulls. É primeiro classificado da liga do seu país e tem como principais estrelas Pavlovic, Sucic, Solet, Dedic, Kjaergaard e Karim Konaté.
Além do RB Salzburgo, os outros adversários do Benfica no Grupo D são Inter Milão, finalista derrotado da época passada, e que deixou os encarnados pelo caminho nos quartos de final, e os espanhóis da Real Sociedad, onde atua o português André Silva.
Shakhtar quer ser orgulho de um povo
O FC Porto vai dar o pontapé de saída das equipas portuguesas na presente edição da Champions. Entra em campo amanhã (às 20.00 horas, Eleven Sports) para defrontar o Shakhtar Donetsk, equipa ucraniana que, por causa da guerra vai realizar os seus jogos como visitado na Alemanha, no Volksparkstadion, recinto do histórico Hamburgo, que faz uma travessia no deserto na Bundesliga 2, bem longe dos tempos em que conquistou a Taça dos Campeões (em 1983).
Os campeões ucranianos vão assim devolver as noites europeias a uma cidade apaixonada pelo futebol.
O Shakhtar está também cada vez mais longe dos tempos em que era uma equipa temível com um intenso perfume a futebol brasileiro – na última vez que defrontou os dragões, em dezembro de 2014 para a Liga dos Campeões (1-1, no Dragão), contava com 12 canarinhos no plantel, com destaque para Bernard, Taílson, Fred, Douglas Costa, Alex Teixeira, Dentinho e Luiz Adriano.
O poderio financeiro do proprietário do clube, Rinat Akhmetov, permitia à equipa ser competitiva na Europa, mesmo que a região do Donbass já estivesse a ser dizimada por combates com os separatistas pró-russos.
Jogavam então em Lviv e nos anos que antecederam a invasão da Rússia à Ucrânia atingiram os quartos-de-final da Champions por uma vez e os oitavos por três, uma delas com Paulo Fonseca como treinador. Isto além de ter vencido a Liga Europa em 2009, com Mircea Lucescu no comando técnico, tendo ainda chegado a duas meias-finais, uma delas com Luís Castro como treinador.
O Shakhtar continua a ser detido por Akhmetov, mas agora sem a capacidade de reter os seus maiores talentos. Desde que começou a guerra viu sair – alguns a custo zero – jogadores como Manor Salomon, Marlon, Pedrinho, Ismaily, Antônio, Dodô, David Neres, Mudryk, Tetê e, mais recentemente, o guarda-redes Anatoliy Turbin para o Benfica, que permitiu ao clube encaixar 10 milhões de euros, verba que serviu para voltar a investir no Brasil, de onde chegaram os jovens Pedrinho (Ath. Paranaense), Newertton (São Paulo) e Eguinaldo (Vasco da Gama).
A equipa, agora treinada pelo neerlandês Patrick van Leeuwen, continua a ser suficiente para dominar a nível interno, onde aparece na frente da tensa liga ucraniana, disputada em plena guerra, com a maioria das equipas deslocalizadas, sendo que o Shakthar costuma jogar no Estádio Olímpico de Kiev, que partilha com o rival Dínamo Kiev.
Os dragões apresentam-se como favoritos diante de uma equipa que, ainda para mais, não poderá contar com o avançado burquinês Lassina Traoré, uma das principais figuras, enquanto Matvienko se encontra em dúvida também devido a problemas físicos.
Os jovens médios ofensivos Sudakov e Bondarenko, bem como os veteranos Rakitskyi e Stepanenko serão o suporte de um conjunto que procura deixar orgulhoso o seu povo. E esse será o maior trunfo do Shakhtar na Champions, num grupo integrado ainda por Barcelona e Antuérpia.
Sp. Braga entre dois grandes
O Sp. Braga chega à fase de grupos da Champions depois de se ter apurado via play-off – afastou o Panathinaikos, da Grécia -, dez anos depois da última presença na prova milionária. Esta será a terceira participação dos minhotos nesta competição.
Os guerreiros do Minho, contudo, não tiveram muita sorte no sorteio, pois vão apanhar dois grandes – Real Madrid e Nápoles – e uma equipa da Bundesliga, o Union Berlim. A estreia é já quarta-feira, em casa (20.00, TVI), frente ao campeão italiano Nápoles, onde atua o português Mário Rui, agora treinado por Rudi Garcia e que tem como estrela maior o avançado nigeriano Victor Osimhen.
A equipa orientada por Artur Jorge não se tem dado bem com equipas italianas nos últimos anos nas provas europeias. Aliás, conta por derrotas os últimos quatro jogos – na época passada com a Fiorentina, na Liga Conferência, e em 2020-21 com a AS Roma.
Mas, curiosamente, foi frente a uma equipa italiana que os arsenalistas conseguiram o último apuramento para uma fase de grupos da Champions, depois de terem eliminado a Udinese no play off no desempate por grandes penalidades, na temporada 2012-13.
Refira-se que este apuramento para a fase de grupos da Champions foi um autêntico jackpot para o clube presidido por António Salvador, que vai embolsar para já mais de 30 milhões de euros – dois milhões pelas duas vitórias sobre o Panathinaikos no play off, 15,6 pela entrada na fase de grupos e ainda cerca de 14 milhões resultantes do valor associado ao ranking a dez anos da UEFA.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: RB Salzburg