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Cavaco sugere demissão a Costa, contraria Marcelo e deixa guião ao PSD

Arrasou a governação socialista, defendeu que António Costa perdeu a autoridade e sugeriu que se demita, contrariou o discurso de Marcelo Rebelo de Sousa de que não há alternativa ao atual Governo e deixou o guião ao PSD para chegar vitorioso às próximas eleições.

Cavaco Silva não costuma ser brando com o Executivo socialista, mas este sábado carregou nas tintas e deixou um retrato demolidor, com entrada direta para a lista dos discursos mais críticos de um antigo Presidente da República: “Nunca pensei que seria possível alguma vez um Governo descer tão baixo”.

Um país governado “aos solavancos” e de forma “desastrosa”, por um Executivo onde “escasseia a competência, mas abunda o populismo e a hipocrisia” e que tem pautado a sua ação por “erros, abusos de poder, omissões, mentiras e violação da ética política” – foi longa a lista de adjetivos nada abonatórios que o antigo Presidente da República usou para definir o atual poder socialista.

Aplaudido com entusiasmo quase a cada frase durante o discurso que encerrou o 3.º Encontro Nacional dos Autarcas Social-Democratas (ASD), que decorreu ontem em Lisboa, Cavaco Silva passou pela situação política e económica do país com uma mesma conclusão – a governação socialista não serve Portugal. Pelo meio ficou um recado para António Costa, que “perdeu a autoridade” e “não desempenha as competências que a Constituição lhe atribui”:

“Em princípio a legislatura dura até 2026, mas às vezes os primeiros-ministros, em resultado de uma reflexão sobre a situação do país, ou um rebate de consciência, decidem apresentar a sua demissão e têm lugar eleições antecipadas. Foi isso que aconteceu em março de 2011 [demissão de Sócrates]”.

Acusando o governo socialista de ter colocado o país “numa trajetória de empobrecimento” e numa “situação de profunda degradação” política – uma “governação desastrosa” -, Cavaco afirmou que a “ideologia do PS resume-se a uma dúzia de palavras: permanecer no poder e controlar o aparelho do Estado sem olhar a meios”.

O antigo chefe de Estado passou pela economia, pela educação, pela saúde e pela carga fiscal sempre com fortes críticas ao Governo, que ainda subiram de tom quando falou da TAP. “Nunca pensei que seria possível alguma vez um Governo descer tão baixo em matéria de ética política e de desprezo pelos interesses nacionais”, atirou, acusando o Executivo de se destacar apenas em duas áreas: a “mentira” e a “propaganda”.

“Durante praticamente um mês não houve um dia em que não fosse feita a demonstração de que o Governo mente”, continuou, sustentando que o importante para o Executivo socialista é “ter uma boa central de propaganda, com dezenas de funcionários”, com a intenção de “desinformar, iludir, anestesiar os cidadãos”.

Deixando a previsão de que o Governo “do dr. António Costa, apesar de beneficiar de apoios [europeus] em montantes gigantescos, vai deixar ao próximo governo uma herança muito pesada”, Cavaco deixou a sua antevisão do que o Executivo socialista fará no futuro: “A tendência será para distribuir benesses e comprar votos”.

Os recados a Belém e um guião para o PSD

Mas não foi só sobre o Governo que Cavaco Silva falou: parte relevante do discurso foi dirigida ao PSD, com recados para Belém pelo caminho. Se Marcelo Rebelo de Sousa disse recentemente que a oposição ainda não é alternativa ao atual governo, o ex-primeiro-ministro e ex-presidente da República deixou bem vincado que essa não é a sua leitura, defendendo que não só o PSD está preparado para exercer o poder, como o líder do partido, Luís Montenegro, tem todas as condições para ser primeiro-ministro.

Sentado na primeira fila da plateia, o atual presidente social-democrata terá dado o dia por ganho quando ouviu Cavaco afirmar: “O dr. Luís Montenegro tem mais experiência do que eu tinha quando subi a primeiro-ministro e está tão ou mais preparado do que eu estava”.

Para além disso, o PSD “tem vindo a apresentar propostas”, sustentou Cavaco Silva, afirmando que “é totalmente falsa a afirmação de que o PSD não tem apresentado políticas alternativas” às do Governo. 

“A liderança do PSD ainda não completou um ano e já apresentou propostas muito bem estruturadas, na emergência social, no Orçamento do Estado, na Educação, na Habitação” – algo “muito raro” num partido da oposição – com “muito maior qualidade do que as políticas do Governo nessa área”.

Pondo o foco na habitação, Cavaco acusou o Governo de “corroer a confiança” dos investidores e de ter enveredado por “um forte ataque à autonomia dos municípios”.

Questão diferente de apresentar propostas, prosseguiu, é avançar com um programa eleitoral: “Esse só deve ser apresentado na proximidade do ato eleitoral, como é normal”. Foi um dos vários conselhos que o antigo líder do partido deixou aos atuais dirigentes, uma espécie de “guião” eleitoral para os sociais-democratas.

A começar por uma questão divisiva, a política de alianças à direita: “É minha opinião que o PSD não deve cometer o erro de anunciar qualquer política de coligação tendo em vista as próximas eleições”. “Se o PS, que está em queda, não o faz, porque é que o PSD deve fazê-lo?”, questionou Cavaco, considerando que esta questão é “uma armadilha orquestrada pela central de comunicação do PS”.

O PSD “é a única opção credível” para resgatar o poder aos socialistas, à “oligarquia que se considera dona do Estado”, argumentou o antigo chefe de Estado, acrescentando que “o PSD e o seu líder estão a trabalhar democrática e seriamente para ganhar as próximas eleições”.

E, para Cavaco, não falta muito: “Falta convencer oito a 9% dos eleitores”. “Não me parece um resultado impossível de alcançar”, acrescentou, antes de deixar uma mensagem para dentro das hostes sociais-democratas – este objetivo “requer um trabalho de unidade à volta do líder”.

Nesse caminho, deixou ainda outro conselho: o PSD “não deve ir a reboque de moções de censura apresentadas por outros partidos, mais preocupados em ser notícia na comunicação social”, dado que “essas moções [de censura] servem o interesse do Governo socialista”.

No discurso, Cavaco Silva insistiu também que é “fundamental resgatar o debate político em Portugal”, com “seriedade, substância, urbanidade e respeito pelos adversários”, sublinhando que os outros partidos “não são inimigos, são adversários que devem ser respeitados”.

“Um estilo que o PSD deve continuar a seguir”. Foi o pretexto para evocar outro ex-primeiro-ministro e líder do partido: “Espero que a nossa democracia não volte a assistir aos ataques vergonhosos e miseráveis movidos pelo PS ao dr. Pedro Passos Coelho”.

Fonte: Diário de Notícias / Portugal

Crédito da imagem: André Kosters / Lusa