Vários presidentes executivos dos setores da banca e energia reuniram-se com Teresa Ribera, vice-presidente da Comissão Europeia, que tem a pasta da transição energética, para apontar a “posição estratégica” que Portugal e Espanha têm na agenda da transição energética europeia e para apelar a um conjunto de ações por parte de Bruxelas, incluindo um “sistema de incentivos eficazes”.
O encontro ocorreu durante o Fórum Económico Mundial, que se realiza em Davos, Suíça. Os gestores representavam os interesses de bancos como o BBVA e o Santander, e de energéticas como a EDP, a Iberdrola, a Moeve ou a Repsol, que se uniram no âmbito da Iniciativa Ibérica de Indústria e Transição Energética (IETI), um movimento intersetorial liderado pela consultora McKinsey.
E o que querem estas empresas? Que a União Europeia alavanque o potencial da Península Ibérica na revitalização da competitividade europeia com base na transição energética, através de cinco grandes “ações-chave”.
Num comunicado conjunto dos líderes das empresas que integram o IETI, Miguel Stilwell d’Andrade, CEO do grupo EDP, defende que a UE tem de “desbloquear todo o potencial” do “hub verde” que Portugal e Espanha podem ser, para “liderar a transição energética e a competitividade da Europa”.
Mas isso, prossegue, “exigirá a simplificação dos processos de licenciamento, maiores investimentos na rede elétrica e estabilidade regulatória tanto a nível nacional como europeu”.
Já Onur Genç, CEO do BBVA, argumenta que a UE precisa de “políticas climáticas industriais que forneçam sinais de procura claros e incentivos que impulsionem a transformação [energética] na escala e previsibilidade necessárias”.
“A transição energética é um fator crucial de reindustrialização para a Europa”, sublinha o CEO da Moeve (antiga Cepsa), Maarten Wetselaar, argumentando que quando se fala em competitividade é “necessário promover investimentos. “Isto só funcionará se o quadro em que os investimentos são realizados for atrativo e previsível”, atira.
Hector Grisi, CEO do Santander, refere que Portugal e Espanha têm uma “oportunidade única” para se tornarem em “centros verdes para indústrias críticas, sustentados pelo baixo custo da energia limpa”.
Além de um “sistema de incentivos eficazes”, para mitigar diferenças de custos entre as tecnologias mais ecológicas e as que dependem dos combustíveis fósseis, aquele grupo de gestores defende: “quadros regulatórios eficazes e estáveis”; redução dos “encargos administrativos e encurtar os processos de licenciamento”; o desenvolvimento de projetos “sólidos para garantir esquemas de financiamento robustos e estáveis”; e a implementação e expansão “eficiente” da rede elétrica de base renovável.
Para o grupo de gestores da IETI, aquelas cinco ações permitirão que Portugal e Espanha contribuam para reindustrialização da Europa, a partir de investimentos em fontes energéticas renováveis.
Para o IETI, os dois países estão “numa posição de liderança” para “impulsionar a expansão continental” de fontes de energia solar, eólica e baterias, “tirando partido da abundância de recursos renováveis, de uma rede robusta e capilar já existente que serve de base para futuras melhorias, de amplos terrenos para o desenvolvimento de energias renováveis e de um vasto mercado de power purchase agreement (PPA) (30% do mercado da UE em 2023)”.
A Península Ibérica tem, ainda, potencial para “aumentar a produção de biocombustíveis e de combustíveis à base de hidrogénio verde e outros combustíveis renováveis de origem não biológica”, segundo o IETI.
“Aproveitar a oportunidade para produzir hidrogénio verde rentável, que é 10% a 20% mais económico [em Portugal e Espanha] do que instalações equivalentes na Europa Central, ajudaria a Europa a atingir os objetivos de produção interna”, lê-se.
Haver um plano neste âmbito, segundo o IETI, se Portugal e Espanha tornarem-se “polos centrais de indústrias críticas”, já num cenário de uso de fontes energéticas renováveis, o PIB da Península Ibérica cresceria até 15%, e “criaria aproximadamente um milhão de empregos (300 000 em Portugal e 700 000 em Espanha), 20% dos quais altamente qualificados”, o que “aumentaria o rendimento do Estado em 5% a 10% e o total das exportações nacionais até 20%”.
Acresce que a reindustrialização da UE
O valor potencial em causa para recuperar a sua vantagem industrial é significativo, podendo atingir 1 bilião de euros em valor acrescentado até 2030, o que representa três a seis vezes o investimento anual adicional necessário para atingir o net zero.
Além dos CEO da EDP, da Moeve, do BBVA e do Santander, participaram no encontro com Teresa Ribera, Maria João Ribeirinho e Massimo Giordano, sócios da McKinsey, Josu Jon Imaz, CEO da Repsol, Francisco Reynés, presidente da Naturgy, e Ignacio Galán, presidente da Iberdrola.
No encontro marcaram também presença Maria da Graça Carvalho, ministra do Ambiente e Energia, e Pedro Reis, ministro da Economia de Portugal, bem como Sara Aagesen, ministra da Transição Ecológica de Espanha, Óscar López, ministro da Transição Digital e Função Pública de Espanha; Manuel de la Rocha, secretário-Geral do departamento de Assuntos Económicos e G20 no gabinete da Presidência do Governo de Espanha, e José Luis Escrivá, governador do Banco de Espanha.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: O Jornal Económico / Portugal