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As luzes do Cineteatro Turim vão voltar a brilhar em Benfica

A Igreja de Benfica assinala a chegada das 11.00 no exato momento em que nos aproximamos de uma das duas entradas para o mítico Cineteatro Turim, que a poucos dias de renascer ainda é alvo dos últimos retoques.

Cá fora, calceteiros arrumam as últimas pedras que vão dar acesso, no próximo sábado, dia 16, à entrada para a festa de inauguração do espaço cultural encerrado desde 2015.

“Não se encostem à parede que a tinta está fresca”, avisa alguém enquanto descemos as escadas para o palco. A sala de espetáculos é pequena – não tem mais do que 90 lugares -, mas está cheia de memórias e pequenos portais para as décadas de 80 e 90, quando o Turim arrastava multidões de jovens do bairro.

As cadeiras ainda são as originais, assim como a máquina de projeção, mas tudo o resto foi modernizado: há agora uma máquina de projeção digital, as paredes foram renovadas e o espaço exterior completamente reformulado.

“A ideia deste projeto é ter um pé no passado, no presente, mas a olhar para o futuro”, resume Miguel Ponces de Carvalho, vice-presidente da Associação Menino da Lágrima. É esta entidade, criada por amigos e vizinhos de Benfica, que vai ficar responsável pela exploração do Arcade Bar e assegurar a curadoria cultural às quartas-feiras.

“Essa será a nossa noite em conjunto com o nosso associado Nuno Markl, que vai ter aqui programação e que está aqui muito investido, até por motivos afetivos. Ele cresceu a vir a este cinema”, acrescenta.

As luzes do Cineteatro Turim vão voltar a brilhar em Benfica

Mais do que visitar o passado e reviver a nostalgia, os promotores – que inclui a Junta de Freguesia de Benfica (JFB), que financia as obras, a associação e uma empresa de Braga, responsável pela exploração do restaurante – querem que este seja um espaço de encontro de gerações.

Os pais terão oportunidade de revisitar clássicos do cinema das décadas de 80 e 90 e de jogar nas máquinas de Arcade, assim como os filhos, que vão poder conhecer filmes de culto e absorver parte da cultura pop da época.

“O evento não tem de terminar quando o filme chega ao fim. Podemos ter iniciativas culturais, como exposições, DJ sets e até bebidas e comida alusivas a um determinado filme”, detalha Ponces de Carvalho.

Novo olhar sobre a cultura

Deixamos para trás a sala que vai receber espetáculos de música, cinema e teatro, e seguimos caminho para a zona de restauração e de bilheteira. “A casinha da bilheteira é a original, vamos continuar a vender os bilhetes aqui”, aponta Ricardo Marques, presidente da JFB.

O entusiasmo na voz do autarca, eleito pelo PS, é evidente enquanto destaca cada detalhe da decoração, do conceito e, sobretudo, das pistas do passado. Em redor da bilheteira e das escadas que dão acesso ao piso de baixo, onde vai estar o Arcade Bar, estão ainda as vitrines onde outrora se fixavam cartazes de filmes em exibição. “Vai continuar igual”, assegura Ricardo Marques.

O Arcade Bar, explicam-nos Miguel Ponces de Carvalho e a sua presidente, Francisca Silva, será “o espaço onde os pais que vêm acompanhar os filhos podem estar a picar qualquer coisa, a beber um cocktail ou a provar uma cerveja artesanal”.

Pelo meio, terão à disposição um vasto conjunto de máquinas de jogos clássicos. “Vão poder mostrar esses jogos aos mais pequenos e, pela nossa experiência, as crianças gostam muito destas máquinas e do revivalismo”, diz Ponces de Carvalho.

Nem os candeeiros por colocar, os móveis por montar ou a tinta fresca que ainda cai sobre chão e paredes parece preocupar os promotores, que não têm dúvidas de que, desta vez, o Cineteatro Turim vai mesmo abrir portas.

A reabertura esteve prevista para julho, mas os atrasos na obra e na entrega de equipamento empurraram a data para a rentrée. No próximo sábado, as portas abrem-se pela primeira vez ao público desde 2015 e há muito para experienciar ao longo do fim-de-semana, logo a partir das 10.00.

A programação arranca com um desafio familiar nas máquinas de Arcade, segue-se uma sessão de teatro infantil e, mais tarde, a versão original do mítico Ghostbusters.

Ao final da tarde, Nuno Markl vai protagonizar uma mesa-redonda, antes mesmo dos concertos de músicos emergentes do projeto Lisboa Criola, de Dino D”Santiago, marcados para as 21.00. No domingo, o cartaz conta com cinema, musicais e sessões de stand-up comedy com Liliana Marques e convidados.

Também no momento de cortar a fita haverá uma exposição muito especial. Trata-se de um conjunto de obras de artistas nacionais e estrangeiros que reinterpretam o clássico Menino da Lágrima. “Vai ser uma exposição muito interessante, temos coisas espetaculares”, aponta a associação.

Dinamismo cultural no bairro

Ricardo Marques conta ao DN que não foi fácil fazer renascer o Cineteatro Turim, que continua a ser propriedade da família Moreira – cujo patriarca, Afonso Moreira, falecido este ano, empresta o nome à sala de espetáculos – e que agora cedeu o espaço à JFB por dez anos. “Falei pela primeira vez com o senhor Afonso Moreira em 2020.

Foi um namoro de algum tempo, porque ele tinha tido um problema com a Câmara Municipal de Lisboa (CML) e tinha dificuldade em confiar numa entidade pública para gerir isto”, conta. Hoje são as filhas Margarida e Anabela Moreira que gerem a propriedade e que estarão, numa cerimónia privada esta sexta-feira, no Turim para voltar a acender as luzes.

Benfica investiu 450 mil euros na recuperação do Turim, dos quais 150 mil foram comparticipados pelo programa municipal “Um Teatro em Cada Bairro”.

Daqui para a frente, o compromisso da junta é financiar o funcionamento do espaço com cerca de 200 mil euros, a que se juntam 100 mil anuais dados pela CML. “Há hoje uma forte aposta cultural na freguesia de Benfica. Vamos devolver este espaço cultural aos 38 mil moradores”, remata Ricardo Marques.

Fonte: Diário de Notícias / Portugal

Crédito das imagens: Rita Chantre / Global Imagens