A nau quinhentista que desde 2007 se encontra fundeada nas margens do rio Ave foi construída nos estaleiros Samuel & Filhos, um dos quatro que existem em Vila do Conde, que foi, no século XVI, de onde saiu a maior parte dos barcos para África e América. O estaleiro é da família de António José Carmo (foto), que desenhou as peças da embarcação que integra agora o Centro de Artes Náuticas (CdAN), juntamente com a Casa do Barco, a Alfândega Régia e o Centro de Formação da Construção Naval de Madeira.
A nau foi projetada em sala do risco tradicional. “Demorei cinco semanas a desenhar”, conta António, consultor da área de construção para o CdAN e um dos poucos especialistas nesta técnica, cujos mais antigos registos remontam ao século XVIII. Com ela, a estrutura e os elementos que compõem o barco são desenhados no chão à escala real. “Estes processos são desconhecidos, não estão escritos em lado nenhum. E a nossa sala de risco [de Vila do Conde] é considerada a mais avançada.”
Assim, como o objetivo do CdAN é preservar e recuperar a memória da história náutica da cidade, bem como salvaguardar as técnicas de construção, vão realizar-se várias formações, a começar por um curso de carpintaria naval, em parceria com a Formar, onde se “quer ensinar a construir através de processos geométricos que começam na sala do risco”. Haverá também oficinas de modelismo naval, “em que se vai trabalhar com modelistas locais”, informa Ivone Teixeira, uma das responsáveis pelo centro.
Quem quiser só perceber o que é uma sala do risco pode ir diretamente visitar a Casa do Barco, onde é explicada a evolução desta técnica, aqui aplicada a uma motora, embarcação de pesca que também ali se encontra em tamanho real. Lá fora, alguns metros ao lado, está a nau quinhentista e, em frente, a Alfândega Régia, que funciona como Museu de Construção Naval.
Centro de formação/biblioteca
Além de salas de formação, este polo alberga uma biblioteca que pertenceu ao arquiteto Carlos Carvalho, com 400 livros. “Foi a cereja no topo do bolo quando recebemos a doação, feita pelo filho”, diz Ivone Teixeira. O arquiteto, já falecido, passou mais de 30 anos a estudar as embarcações tradicionais. “Tivemos o primeiro contacto com ele quando organizámos o congresso internacional de construção naval de madeira”, lembra José Carmo.
Casa do Barco
Neste núcleo, partilhado com a loja de turismo, encontra-se a motora e a sala do risco – no chão, há maneira tradicional – onde se pode perceber como se criam os modelos para as peças da estrutura da embarcação. “Trabalhando na sala do risco poupa-se muito tempo na construção e evitam-se erros”, explica José Carmo. Um vídeo onde o próprio fala da arte da construção e vários objetivos ligados à história náutica fazem parte da exposição.
Nau quinhentista
A embarcação é uma réplica das naus do século XVI que eram construídas nos estaleiros de Vila do Conde. Encontra-se nas margens do Ave para dar a conhecer como se estruturava este tipo de navios, que faziam viagens de longo curso para as Américas e Índia. A vida a bordo é focada a partir de uma série de “personagens” que habitam o navio, seja o timoneiro, o capitão, o boticário ou a mulher enviada para a Índia ou Brasil para se casar.
Alfândega Régia
Centro de Artes Náuticas de Vila do Conde. Rua Cais da Alfândega (Nau e Alfândega Régia), Rua Cais da Lavandeiras (Casa do Barco), Praça José Régio (Centro de formação e biblioteca). Tel.: 252 248 468. Web: cdanportugal.pt. Das 10h às 18h. Encerra à segunda. Preço: 2 euros.
Fonte: www.evasoes.pt
Crédito das imagens: Artur Machado / GI