A vontade popular em conceder novo mandato de cinco anos a Recep Tayyip Erdogan foi superior, com o presidente a receber mais de 27,6 milhões de sufrágios para um mandato de cinco anos. Em percentagem, o resultado (52,1%) está em linha com o obtido nas anteriores presidenciais (52,5%).
25,4 milhões de turcos votaram em Kemal Kilicgdaroglu, o candidato que juntou seis partidos da oposição, conseguindo 47,8%.
Quando estavam ainda por contar votos, Erdogan dirigiu-se aos seus fiéis em Istambul e, apesar de proferir palavras de unidade, não deixou de criticar o adversário e de se despedir dele: “Bye bye Kemal”, disse e repetiu. Já Kilicgdaroglu, que num primeiro discurso não reconheceu a derrota, criticou as eleições “injustas” e disse temer pelo futuro da economia do país.
No topo de um autocarro na cidade natal e onde começou a carreira política como autarca, Erdogan foi igual a si próprio – magnético para os seus apoiantes e repulsivo para os seus detratores.
Como no discurso do final da primeira volta, Erdogan voltou a cantar o tema da sua campanha, mas a música foi outra depois de ter agradecido aos “irmãos e irmãs” pelo voto. Apesar de ter afirmado que “o único vencedor é a Turquia” e que espera ser merecedor da confiança dos eleitores, aproveitou para ajustar contas com o adversário.
Criticou Kemal Kilicdaroglu, “perito em cálculos eleitorais”, mas que só conseguiu eleger mais deputados porque o CHP se juntou com outros partidos pequenos. Ao homem que certa vez disse “ser incapaz de sequer pastorear uma ovelha”, despediu-se com um “bye bye Kemal”.
Também lembrou aos apoiantes de Istambul que as eleições locais jogam-se em 2024. O seu partido perdeu a autarquia, tal como Erdogan perdeu agora (tal como em Ancara e nas cidades costeiras e nas regiões de maioria curda).
“A maior mensagem das eleições é que ninguém pode esconder os feitos deste país. Vamos preservar a nossa unidade como uma nação”, assegurou Erdogan. Depois de um piscar de olho ao nacionalismo, tranquilizou os conservadores religiosos ao garantir que os valores LGBT não irão invadir o seu partido AKP nem o do aliado MHP. “A família é sagrada para nós.”
Erdogan, que disse ter recebido de imediato congratulações dos líderes do Azerbaijão, da Líbia e do Qatar, recebeu também mensagens de parabéns do russo Vladimir Putin e do húngaro Viktor Orbán.
O resultado das eleições, que tiveram uma participação de 85,7% (menos 1,2 pontos percentuais do que na primeira volta), não foi de pronto reconhecido por Kilicdaroglu. Num discurso duro, criticou o regime cada vez mais autocrático que impediu uma campanha justa.
“Não me esquivei a uma estrutura injusta. Não podia ficar silenciado quando milhões se tornam cidadãos de segunda classe”, afirmou, tendo agradecido aos eleitores, em especial às mulheres e crianças. O candidato kemalista disse estar preocupado com o caminho económico do país e assegurou que “a luta continua”.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Murat Cetin Muhurdar / Gabinete de imprensa da presidência turca / AFP