A Operação Pretoriano promete abalar o universo azul e branco a três meses do ato eleitoral marcado para abril. Adelino Caldeira, um dos administrador da SAD do FC Porto é suspeito de conluio com o líder da claque dos Super Dragões, Fernando Madureira, ontem detido, juntamente com a mulher e mais 10 elementos da claque afeta aos dragões e também visada na operação.
Segundo os dados do processo a que o DN teve acesso, o administrador portista, “através do oficial de ligação ao adeptos Fernando Saúl”, orquestrou um plano que “lograsse a aprovação da alteração de estatutos em benefício de todos os envolvidos”, juntamente com Fernando e Sandra Madureira, presidente e vice-presidente dos Super Dragões, a quem garantiu que “não perdiam regalias” e que teriam “ganhos tirados da bilhética para os jogos de futebol”.
De acordo com o Ministério Público, daí resultaram as agressões e o clima de ameaça e coação levadas a cabo por membros da claque portista na assembleia-geral extraordinária do clube de dia 13 de novembro, que terminou precocemente devido a agressões entre sócios, que deviam votar uma alteração estatutária importante com vista às próximas eleições e depois de André Villas-Boas ter revelado a intenção de marcar presença e de se candidatar à presidência – o que fez no dia 17 de janeiro.
Depois dos incidentes, o ex-treinador pediu que fosse aberta uma investigação às “agressões e intimidações múltiplas de uma guarda pretoriana” a sócios do FC Porto. Foi daí que resultou o nome da operação.
Os suspeitos intimidaram os associados “sob ameaça”, segundo se pode ler no documento: “Batam palmas filhos da p***”;“Não estão a bater palmas estão fo***os”; “És Villas-Boas, desaparece daqui se não levas mais”; “Vocês vão morrer”; “Vão todos levar nos cornos seus filhos da p***”; “Ou bazam ou vão morrer, tudo fora daqui filhos da p***, o Porto é nosso, que não está com Pinto da Costa vai morrer.”
“É falso que tenha instruído seja quem for a fazer fosse o que fosse na dita Assembleia Geral”, garantiu Adelino Caldeira, num comunicado em que lamentou “que a Justiça dê crédito e palco a quem, sem qualquer suporte, tenha no processo levantado suspeições absolutamente infundadas” sobre ele.
O administrador portista garantiu ainda que a seu tempo tomará conhecimento de quem “enlameou” o seu nome, envolvendo-o “nesta vergonhosa fabricação”, prometendo por isso “agir de forma a que o falso testemunho prestado seja exemplarmente punido”.
Carros de luxo e 50 mil euros em dinheiro
As diligências efetuadas pelas autoridades no âmbito da Operação Pretoriano, desencadeada ontem de manhã, resultou na detenção de 12 pessoas ligadas de alguma forma ao FC Porto. Além de Fernando Madureira e da mulher Sandra Madureira, foram também detidos Fernando Saúl, oficial de ligação aos adeptos dos dragões, Tiago Aguiar, funcionário do FC Porto, Vítor Catão, conhecido adepto portista e antigo presidente do São Pedro da Cova e mais 7 elementos da claque.
Segundo a PSP, foram emitidos “12 mandados de detenção e 11 buscas domiciliárias na área metropolitana do Porto, de que resultaram em 12 detidos, sendo 11 homens e 1 mulher”.
E foram apreendidos “equipamentos eletrónicos e demais documentos de interesse para a investigação em causa”, “estupefacientes vários, nomeadamente cocaína e haxixe”, “três veículos automóveis”, “vários milhares de euros”, “uma arma de fogo”, “artefactos pirotécnicos” e “mais de uma centena de ingressos para eventos desportivos”.
Fernando Madureira e Sandra Madureira pernoitaram na esquadra da PSP em Santo Tirso e serão esta manhã presente a juiz no Tribunal de Instrução Criminal do Porto, onde irá decorrer o primeiro interrogatório judicial aos 12 detidos no âmbito da Operação Pretoriano, que visou “devolver às instituições e aos cidadãos a sua liberdade de decisão e segurança”.
Segundo o MP, os detidos estão indiciados “da prática dos crimes de ofensa à integridade física no âmbito de espetáculo desportivo ou em acontecimento relacionado com o fenómeno desportivo, coação agravada, ameaça agravada, instigação pública a um crime, arremesso de objeto ou de produtos líquidos e atentado à liberdade de informação”.
Mas, segundo o advogado do líder dos Super Dragões, da mulher e de Fernando Saúl, “não há factos que justifiquem detenções” do seus clientes.
Gonçalo Cerejeira Namora referiu ainda à Rádio Observador que “o timing é calculado, calculista e persecutório”, que visa prejudicar Pinto da Costa no futuro ato eleitoral.
Para isso, segundo ele, a PSP “montou um circo” e decidiu “brincar com a liberdade das pessoas”, garantindo que nas buscas às residências dos seus três clientes não foram encontrados “quaisquer estupefacientes, armas ou engenhos pirotécnicos”.
Três adeptos suspensos pelo clube no dia das detenções
Horas depois da PSP do Porto revelar pormenores da Operação Pretoriano, o FC Porto anunciou ter suspendido três associados, entre seis meses e um ano, após ter instaurado outros tantos processos disciplinares, devido aos desacatos na reunião magna em causa.
“O FC Porto tomou conhecimento de diligências relacionadas com os acontecimentos da AG de 13 de novembro [do ano passado], que resultaram na detenção de dois dos seus funcionários presentes naquela reunião. Não sendo visado, o clube reitera a intenção de continuar a colaborar com as autoridades em tudo o que lhe for solicitado”, reagiu o emblema que desde 1982 é liderado por Pinto da Costa.
A três meses de um ato eleitoral ainda sem data marca, mas que segundo os estatutos tem se acontecer em abril, há três candidatos confirmados mas só um deles, Pinto da Costa, recebeu o apoio dos Super Dragões. André Villas-Boas e Nuno Lobo são os outros candidatos já assumidos.
Apenas Nuno Lobo reagiu ontem, mostrando-se “incrédulo” com o “timing” das detenções, “não manchou a imagem do FC Porto”.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Global Imagens