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A consoada lusotropical de uma família brasileira que passa o seu primeiro Natal em Portugal

“Pega o caldo da casca de camarão, bem temperado, vai jogando a farinha de trigo e o azeite de dendê até dar a consistência. “É um resumo da receita de Vatapá, prato típico do norte do Brasil, que Deyveson Oliveira, de 36 anos, junto com a família, vai levar para a Consoada com os amigos portugueses em Arganil, na Região Centro.

A mesa será lusotropical, com diversos tipos de bacalhau, batata a murro e legumes. A data será um marco da vida do imigrante: o primeiro Natal com a família em Portugal, que chegou ao país no mês passado.

Deyveson, a esposa Jacqueline Bezerril, e os filhos de 10 e 17 anos, vindos do Amapá, que pertence à região norte do Brasil, fazem parte das estatísticas de famílias brasileiras que vieram viver para Portugal. Têm ainda outra filha, de 13 anos, que vai chegar em 2024.

São quase 400 mil pessoas com título de residência – número que inclui os que obtiveram a autorização da CPLP, iniciada neste ano. Não é o primeiro Natal de Deyveson cá, mas é o primeiro ao lado da família, um reencontro que levou quase três anos para se concretizar. “Quis fazer tudo certo, juntar o dinheiro das passagens, me organizar primeiro, ter uma casa pra nós, para que eles não passassem nenhuma necessidade quando chegassem”, explica.

Portanto, este é um Natal mais feliz para todos. “Antes, nem tinha graça sem eles, fazia só chamadas de vídeo, a distância era muito difícil e solitária. Eu nem enfeitava a casa, só não passava totalmente sozinho, porque meus amigos me convidavam”, explica Deyveson ao DN.

Agora, é diferente. “Estou animado em levar a minha família para a casa deles e sinto ânimo em cozinhar. Nos outros anos eu só encomendava um bolo para levar”, recorda. Neste domingo, o casal vai confecionar um dos pratos típicos da sua terra.

“Aprendi ainda criança, com a minha mãe”, diz. Para concretizar a receita, o imigrante teve de conduzir cerca de 57 quilómetros até Coimbra, para comprar o azeite de dendê, ingrediente essencial na receita do vatapá. “Vou surpreender meus amigos portugueses”, acrescenta.

O prato tem “gosto de casa” para Deyveson e a família, já que a esposa é do Pará, estado vizinho. “É uma comida especial, que não falta em datas como o aniversário e o Natal, assim como tacacá e a maniçoba”, comenta.

As receitas são de origem indígena e têm como base temperos e as diversas partes da planta mandioca, desde as folhas até à goma. No Brasil, a mandioca também é conhecida como aipim ou macaxeira, dependendo da região do país. Em Portugal não é incomum encontrá-la, seja em mercados brasileiros ou em frutarias.

Se a comida tem semelhanças com o Brasil, o clima nesta época é bem diferente. “Em Macapá acordamos com 30 graus, já suando, aqui é frio dentro das casas, até mais do que na rua às vezes”, brinca. A família está a habituar-se ao clima, mas, ao mesmo tempo, já morou na região Sul do país, em Santa Catarina, onde costuma fazer frio em comparação com o Norte brasileiro.

Deyveson acrescenta que o clima europeu combina com o Natal e a decoração, que também é utilizada no Brasil, como a imitação de neve, o Pai Natal com roupa polar e os ursos. “Aqui é a realidade do imaginário que vemos no Brasil nos filmes”, complementa. Desde que a família chegou, Deyveson levou-os a passear e a ver as luzes natalícias, chamadas em algumas regiões brasileiras de “pisca-pisca”.

Atualmente, o imigrante trabalha na Santa Casa da Misericórdia, depois de passar por outros trabalhos mais braçais. Ele também abriu um ginásio de Jiu-Jitsu, que já praticava no Brasil. As crianças já estão na escola e a esposa está à procura de um trabalho. O Natal e a Passagem de Ano terão para esta família um gosto luso-brasileiro, com amizade, integração e afeto.

O que é costume saborear-se na ceia brasileira

Por ser um país continental, as tradições podem variar em cada região, mas alguns pratos dominam a ceia da noite do dia 24 e o almoço do dia 25 – sim, são pelo menos duas festas para celebrar à volta da mesa.

Uma ave grande é comum em muitas das mesas brasileiras. Pode ser um peru ou o chester, uma galinha grande que foi criada para fazer concorrência com a carne de peru. A história é curiosa e pode ser conhecida em detalhes no episódio Avis rara, do podcast Rádio Novelo Apresenta.

Nos acompanhamentos, a tradicional fafora, que tem como base a farinha de mandioca, com os ingredientes a gosto, como bacon, cebola e cenoura. A polémica nas famílias é a uva passa, amada por uns, odiada por outros.

O salpicão é outro acompanhamento tradicional, com gosto agridoce. É feito geralmente com frango desfiado, maionese, pimentos e frutas, como maçã, manga e abacaxi. Quanto à uva passa, a polémica é a mesma da farofa.

O arroz também está presente, com um nome nada brasileiro: arroz à grega, mas que foi inventado no Brasil. Leva milho, ervilha, cenoura, e cebolinho. Em algumas regiões é conhecido como arroz primavera, por ser colorido.

Para adoçar, além das frutas tropicais, o panettone, o pudim de leite condensado e o pavê – uma torta de bolacha com natas, encerram as refeições especiais.

Fonte: e crédito da imagem: Diário de Notícias / Portugal