O embaixador israelita na ONU, Gilad Erdan, pôs uma estrela amarela no peito, durante uma reunião do Conselho de Segurança, esta segunda-feira, garantindo que a usaria com orgulho se o conselho não condenar o Hamas.
“Alguns de vocês não aprenderam nada nos últimos 80 anos. Alguns de vocês esqueceram por que esta organização foi criada”, disse o embaixador, denunciando o silêncio do Conselho de Segurança sobre os ataques sem precedentes do movimento islamita em Israel, em 07 de outubro.
O Conselho de Segurança – que continua profundamente dividido sobre a situação no Médio Oriente – não adotou qualquer resolução sobre a guerra entre Israel e o Hamas.
“De hoje em diante, cada vez que olharem para mim, vão lembrar-se do que significa permanecer em silêncio perante o mal”, disse o embaixador israelita.
“Tal como os meus avós, e os avós de milhões de judeus, a partir de hoje, a minha equipa e eu usaremos estrelas amarelas”, acrescentou Erdan, levantando-se para pendurar uma estrela amarela, numa referência ao símbolo cujo uso foi imposto aos judeus pelo regime nazi da Alemanha, na primeira metade do século XX.
“Usaremos esta estrela até que acordem e condenem as atrocidades do Hamas”, prometeu o embaixador.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, classificou os ataques de 07 de outubro como “o pior crime cometido contra os judeus desde o Holocausto”.
A reunião do Conselho de Segurança de segunda-feira foi convocada de emergência pelos Emirados Árabes Unidos, na sequência da expansão das operações israelitas na Faixa de Gaza, e foi marcada por ‘briefings’ de várias agências da ONU que atuam no terreno, que expuseram o “nível de destruição sem precedentes” que o enclave enfrenta.
“O atual cerco imposto a Gaza é um castigo coletivo. (…) O nível de destruição não tem precedentes, a tragédia humana que se desenrola sob a nossa vigilância é insuportável”, disse o líder da agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA), Philippe Lazzarini.
Ao longo da reunião, a maioria dos Estados-membros do Conselho salientou a necessidade de Israel proteger os civis palestinianos, com o Reino Unido – até agora um sólido aliado de Israel na guerra de Gaza – a manifestar-se contra qualquer ideia de “transferência massiva de habitantes de Gaza para países vizinhos”, em referência aos alegados planos de Israel.
Apesar de manter o seu apoio a Israel, a embaixadora britânica, Barbara Woodward, distanciou-se de algumas práticas ou projetos israelitas.
A diplomata apelou expressamente “a Israel para que aborde o número crescente de ataques e assassínios na Cisjordânia ocupada”, insistindo que “é sua responsabilidade proteger os civis palestinianos naquele local”.
Da mesma forma, pediu que os ataques em Gaza sejam regidos “pelos princípios da proporcionalidade, distinção e necessidade (…), evitando danos aos civis”, assim como apelou a uma maior cooperação internacional para garantir “pontos de acesso suficientes” para a entrada de ajuda humanitária em Gaza, um dos aspetos críticos da atual crise.
Finalmente, culpou exclusivamente o Hamas pelo início deste conflito, mas defendeu a Autoridade Palestiniana do Presidente Mahmoud Abbas “como o representante legítimo do povo palestiniano”.
Num sinal da crescente preocupação de Washington com o aumento do número de mortos palestinianos, a embaixadora norte-americana junto à ONU disse que o Presidente, Joe Biden, reiterou no domingo ao primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que “embora Israel tenha o direito e a responsabilidade de defender os seus cidadãos do terrorismo, deve fazê-lo de uma forma consistente com o direito humanitário internacional”.
“Condenamos os assassínios de civis palestinianos e instamos Israel a prevenir estes ataques, trabalhando com a Autoridade Palestiniana”, apelou a embaixadora, Linda Thomas-Greenfield.
Durante duas semanas, o Conselho de Segurança da ONU expôs as suas profundas divisões sobre esta guerra e os seus impactos, rejeitando quatro projetos de resolução.
Algumas propostas foram rejeitadas pelos Estados Unidos, aliados de Israel, porque não mencionavam o direito de Israel se defender; outras, apresentadas pelos EUA foram rejeitadas pela Rússia e pela China, porque não apelavam claramente a um cessar-fogo.
Na sexta-feira, perante este impasse no Conselho de Segurança, a Assembleia Geral da ONU assumiu a responsabilidade no processo, ao adotar por ampla maioria uma resolução não vinculativa solicitando uma “trégua humanitária imediata”, mas sem mencionar o Hamas.
Nessa altura, o embaixador israelita classificou a proposta como uma infâmia.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Michael M. Santiago – Getty Images / AFP