Os antigos armazéns vinícolas Abel Pereira da Fonseca, na Zona Oriental de Lisboa, vão acolher um novo espaço cultural e de comércio, que abre parcialmente esta quarta-feira e que vai existir até o edifício ser transformado num “projeto imobiliário”.
O arranque do 8 Marvila será feito com um novo espaço da Galeria Zé dos Bois, o clube Outra Cena e o restaurante Mato.
“A forma como surgiu a visão para este projeto foi muito natural. Pegar num espaço desta dimensão e com a história que tem, é um desafio bastante enriquecedor. Olhamos para este espaço e questionámos: “o que era isto no passado?”. A partir desta questão, começamos a trabalhar na nova vida que queríamos dar a este espaço”, refere José Filipe Rebelo Pinto, curador do 8 Marvila.
“A renovação teve em consideração a história de Abel Pereira da Fonseca, e a própria história de Marvila, que sempre foi uma zona industrial e incorporamos uma linguagem industrial no projeto”, acrescenta o mesmo responsável.
O primeiro piso do edifício hoje existente na esquina da Praça David Leandro da Silva com a Rua do Amorim foi erigido em 1910, sendo que os Armazéns Vinícolas Abel Pereira da Fonseca foram ampliados pelo célebre arquiteto Norte Júnior em 1917, com a edificação de uma fachada alusiva ao formato das adegas de vinho.
O edifício serviu originalmente para armazenar vinho produzido no Bombarral pela Sociedade Abel Pereira da Fonseca, fundada em 1906 e que fechou atividade em 1993.
Desde o final da década de 1990, o edifício tem sido palco de vários eventos – por exemplo, em 1998, foi cedido à Câmara de Lisboa para atividades de animação cultural e turística integradas no “Caminho do Oriente”, em articulação com a Expo 98. Mais recentemente, acolheu nas suas instalações espaços de coworking e restaurantes.
O 8 Marvila “requalificou a característica fachada e seguiu uma filosofia de reutilização, reaproveitando mais de metade do entulho, madeira, ferro, chapa, incluindo os armários contadores dos armazéns”, lê-se num comunicado, que adianta ainda que este projeto ocupará 22 mil metros quadrados.
Neste novo fôlego dos armazéns Abel Pereira da Fonseca, a traça industrial vai estar unida com a vegetação que vai ocupar os diversos espaços.
“A Planta Livre é o parceiro oficial dos espaços verdes do 8 Marvila, que reflete a prática sustentável do projeto, com plantas e flores espalhadas pelo espaço. A Planta Livre está ainda presente com o seu próprio espaço comercial”, refere o projeto, que deve o seu nome à freguesia onde se encontra e ao número da porta principal do complexo.
Sala de concertos para 1500 pessoas
A partir de quarta-feira, quem passar pelo 8 Marvila terá acesso ao clube Outra Cena (que funcionará no segundo piso), a um novo espaço da Galeria Zé dos Bois, cuja sede fica no Bairro Alto, e ao restaurante Mato. De referir que a Zé dos Bois apresenta logo no primeiro dia a performance “Woyzeck Fuck”em”ol”, de Cláudio Silva, Carolina Dominguez e Pedro Paiva.
“Em breve, vai estar integrado no espaço uma sala de concertos com lotação para 1500 pessoas e galerias de arte”, adianta o 8 Marvila. Uma das galerias será a Because Art Matters.
Para quinta-feira está marcada a abertura do restaurante Mato, da autoria do curador José Filipe Rebelo Pinto. Na praça central do 8 Marvila, haverá uma esplanada, um bar e duas rulotes de comida, a Oficina e a 15 Gramas. Está também já confirmada a presença de espaços de restauração como a Taqueria Paloma, o The Pastry Lab e o Dear Breakfast.
O edifício irá acolher igualmente nove campos de padel e 22 lojas de empreendedorismo independente, desde roupa em segunda mão a decoração e design.
Os primeiros negócios confirmados são a RCICLA (restauro de bicicletas), a The Lisbon Frame (fotografia analógica), a Black Mamba e a Teddy Hats (roupa), a Napo Runa (design e decoração), CUBA Nº 160 (vinhos) e o estúdio de tatuagens de Elisa Rezende. Há ainda “diversos espaços à disposição para eventos”.
O local “irá crescer ao longo do seu período de vida, numa operação de reurbanização que pretende dinamizar a Zona Oriental de Lisboa com uma oferta de produção local de cultura, comércio, restauração e até desporto”. Este período de vida deverá ser entre três e cinco anos.
Os responsáveis do 8 Marvila referem que o edifício, de propriedade privada, “terá como destino futuro um projeto imobiliário”. Até lá, “pretende ser um exemplo de reaproveitamento, de uma Lisboa que utiliza os seus espaços como uma montra para uma cidade alternativa e empreendedora”.
“É um espaço de comunidade, com uma componente cultural e uma componente social de partilha, que espera envolver a cidade e, em particular, a região de Marvila”, remata José Filipe Rebelo Pinto.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
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