A inflação continua a descer, mas vamos subir taxas de juro em mais 0,25%”, anunciou esta quarta-feira (14 de setembro) o Banco Central Europeu (BCE). No entanto, o fim do aperto pode estar próximo, dependendo, claro, do andamento da inflação até ao final do ano, acenou a instituição.
“O conselho do BCE considera que as taxas de juro diretoras atingiram [agora] níveis que – se forem mantidos durante um período suficientemente longo – darão um contributo substancial para o retorno atempado da inflação ao objetivo”, revelou a entidade sediada em Frankfurt.
As taxas de juro da zona euro continuam assim a ascensão imparável (desde julho do ano passado, a taxa central principal subiu de 0% para 4,75% agora).
Este valor da taxa diretora de refinanciamento (o custo que o BCE cobra aos bancos quando estes lhe pedem fundos normais) sobe assim para o segundo valor mais elevado desde que existe a zona euro, igualando o nível que vigorou entre maio e agosto de 2001.
“O conselho do BCE decidiu aumentar as três taxas de juro diretoras em 25 pontos base [0,25 pontos percentuais]” e assim “a taxa de juro das operações principais de refinanciamento e as taxas de juro aplicáveis à facilidade permanente de cedência de liquidez e à facilidade permanente de depósito serão aumentadas para 4,5%, 4,75% e 4%, respetivamente, com efeitos a partir de 20 de setembro de 2023”, revelou a entidade presidida por Christine Lagarde.
Luz ao fundo do túnel
O BCE explica que continua bastante incomodado com o nível atual de inflação, mas que agora já pode começar a avaliar se deve terminar este aperto brutal nos juros, que subiram de 0% em julho do ano passado para 4,75% agora.
Assume também que o crescimento económico de vários países do euro já está a sofrer com menos procura (investimento e consumo) devido ao agravamento dos juros, mas que isso não pode dar margem para complacências com os preços elevados.
“A inflação continua a descer, mas ainda se espera que permaneça demasiado elevada durante demasiado tempo” e “o conselho do BCE está determinado a assegurar o retorno atempado da inflação ao objetivo de médio prazo de 2%”.
“O aumento das taxas de juro hoje decidido reflete a avaliação do conselho do BCE das perspetivas de inflação, à luz dos dados económicos e financeiros disponíveis, da dinâmica da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária”, explicou Lagarde em conferência de imprensa.
Por exemplo, as novas “projeções macroeconómicas de setembro para a área do euro elaboradas por especialistas do BCE indicam uma inflação média de 5,6% em 2023, 3,2% em 2024 e 2,1% em 2025, o que representa uma revisão em alta para 2023 e 2024”, mas “uma revisão em baixa relativamente a 2025”.
“A revisão em alta em relação a 2023 e 2024 reflete sobretudo uma trajetória mais elevada para os preços dos produtos energéticos” e “as pressões subjacentes sobre os preços permanecem altas, embora a maioria dos indicadores tenha começado a abrandar”, argumentou.
No entanto, neste impasse, surge uma pequena luz ao fundo do túnel que ainda não brilhava na reunião de julho passado. As economias estão a passar cada vez mais dificuldades devido à tal quebra forte na procura, mas há sinais de que os preços podem estar a acalmar.
Segundo o BCE, “os especialistas do BCE reviram ligeiramente em baixa a projetada trajetória da inflação excluindo preços dos produtos energéticos e dos produtos alimentares para uma média de 5,1% em 2023, 2,9% em 2024 e 2,2% em 2025”.
No entanto, “os anteriores aumentos das taxas de juro decididos pelo Conselho do BCE estão a ser transmitidos de forma vigorosa. As condições de financiamento tornaram-se mais restritivas e estão a refrear cada vez mais a procura, o que constitui um importante fator para fazer a inflação regressar ao objetivo.”
“Perante o crescente impacto na procura interna desta maior restritividade e o enfraquecimento do enquadramento do comércio internacional, os especialistas do BCE reduziram significativamente as suas projeções para o crescimento económico. Esperam agora que a economia observe uma expansão de 0,7% em 2023, 1% em 2024 e 1,5% em 2025”.
Dito isto, com esta depressão provocada nalguns segmentos da atividade económica e com a subsequente queda em alguns preços, o BCE considera pela primeira vez desde que esta crise começou que pode haver margem para parar de apertar, mas manter o aperto atualmente em vigor.
Com base na atual avaliação, o BCE considera nesta fase “que as taxas de juro diretoras atingiram os níveis que – se forem mantidos durante um período suficientemente longo – darão um contributo substancial para o retorno atempado da inflação ao objetivo”. É a grande novidade no discurso, além da subida anunciada de taxas.
O BCE começa a ver espaço para, eventualmente, para de subir juros. No entanto, não vê possibilidade de os descer. Os níveis atuais são para manter durante muito tempo, o tal “período suficientemente longo”.
Estudos recentes do FMI deixam antever que pode ser ano, ano e meio, outros analistas dizem que este aperto pode durar até dois anos. Depende.
“As futuras decisões do conselho do BCE assegurarão que as taxas de juro diretoras sejam fixadas em níveis suficientemente restritivos, durante o tempo que for necessário”, rematou Christine Lagarde.
“Más notícias para quem possui crédito à habitação”
Numa nota enviada aos jornais, Miguel Cabrita, responsável pela área de crédito na consultora imobiliária Idealista Portugal, refere que, com a decisão de hoje, “o BCE mantém a sua trajetória sem interrupções, transmitindo uma mensagem clara de que o objetivo principal é controlar uma inflação, que ainda se mantém demasiado alta”.
Segundo o consultor, “são más notícias para quem possui crédito à habitação e para aqueles que planeiam comprar casa através de um empréstimo, pois é provável que a Euribor reflita rapidamente este aumento”.
“Resta saber como este último aperto afeta a atividade económica e a inflação, que são os indicadores que realmente nos dirão quando este ciclo de aumentos das taxas chegará ao fim”, conclui.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Julien Warnand / EPA