Quatro dias após o fim da Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, o Papa Francisco anunciou esta quinta-feira a nomeação de D. Rui Valério como o novo patriarca de Lisboa. O até agora bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança sucede a D. Manuel Clemente e vai tomar posse no início de setembro.
Aos 58 anos, Rui Manuel Sousa Valério, natural da Urqueira, concelho de Ourém, é o 18º patriarca de Lisboa.
Ordenado padre em 1991, em Fátima, pertencente aos Missionários Monfortinos, foi o primeiro padre português daquela congregação a ser ordenado bispo (em novembro de 2018).
Tendo como lema episcopal ‘in manibus tuis’ (nas tuas mãos), D. Rui Valério vai tomar posse da diocese no dia 2 de setembro, sábado, às 11:00, na Sé Patriarcal, diante do Cabido, segundo informa o Patriarcado de Lisboa.
A entrada solene tem lugar no dia seguinte, domingo, dia 3 de setembro, às 16:00, no Mosteiro dos Jerónimos.
Numa mensagem que pode ser lida no site do Patriarcado de Lisboa, D. Rui Valério manifesta que, neste momento, três sentimentos tomam conta do seu coração, um dos quais “está contido nas palavras temor e tremor”. A “intenção de escutar” e a “alegria do serviço” são os outros sentimentos que expressa após a nomeação do Papa Francisco para que seja ele o novo patriarca de Lisboa.
“Três sentimentos tomam conta do meu coração na circunstância do chamamento deste pobre e humilde servo do Senhor para Patriarca de Lisboa”, começou por declarar D. Rui Valério na mensagem que pode ser lida no site do Patriarca de Lisboa.
“O primeiro [sentimento] está contido nas palavras temor e tremor: A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque olhou para este humilde servo e, embora conhecendo a dimensão e natureza dos seus limites, o chamou à grandiosa missão de servir a Igreja de Lisboa”, destacou.
“Assim, com temor e tremor, ciente da minha fragilidade, mas por amor a Cristo e à sua Igreja, na mais estrita fidelidade ao Santo Padre e em espírito de obediência, na graça de Deus e na alegria do Espírito, digo com Nossa Senhora “Sim, faça-se segundo a Vossa Palavra””, lê-se na mensagem.
Referindo-se à “intenção de escutar”, cita uma passagem da Bíblia. “Muitas vezes e de muitos modos, falou Deus aos nossos pais, nos tempos antigos, por meio dos profetas. Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por meio do Filho (Hb 1, 1-3)´, na prontidão e alegria dos jovens, nos gestos e palavras do Papa Francisco, na disponibilidade e serviço de tanta instituição e na generosidade de muitas pessoas”.
Já sobre o terceiro sentimento, a alegria no serviço, indica que “na presença do Senhor, de quem recebeu o maravilhoso dom da esperança e da vida nova e o mandato missionário de o levar aos recantos mais escondidos da interioridade de cada um de nós, bem como aos quatro cantos do mundo inteiro, a Igreja de Lisboa estará à altura da confiança que Cristo Jesus uma vez mais lhe confiou”.
Na nota, D. Rui Valério agradece ter sido a escolha do Papa Francisco, sem esquecer o seu antecessor. “Agradeço ao Senhor a sua confiança. Agradeço à Santa Igreja: o encorajamento do Santo Padre, o apoio do Senhor Núncio Apostólico e o estímulo e amizade do Senhor D. Manuel Clemente, a quem saúdo reconhecendo, grato, o exemplo de Bom Pastor que nos ensina a dar a vida pelo povo de Deus, para que esse mesmo povo tenha vida em abundância”, sublinha.
D. Rui Valério que, anteriormente, classificou a situação dos abusos sexuais de menores na Igreja como “um autêntico murro no estômago”, não esquece as vítimas nas primeiras palavras como nomeado a patriarca de Lisboa.
“Saúdo os irmãos e irmãs vítimas de abusos por membros da Igreja, meus irmãos; partilho da vossa dor e, juntos, vamos prosseguir, com esperança, no caminho da cura total do vosso e nosso sofrimento, da tolerância zero”, lê-se na mensagem.
D. Manuel Clemente, que completou 75 anos a 16 de julho – idade para a apresentação da renúncia ao cargo – afirmou, anteriormente, que o seu sucessor devia ser “um bispo a condizer com a juventude”.
Em entrevista à agência Ecclesia, afirmou que “a diocese de Lisboa está num estado em que precisa (…) de ser recomposta na sua equipa episcopal”.
“É absolutamente necessário olhar para Lisboa e esse olhar passa, com certeza, por quem tem de reorganizar o serviço episcopal. E não sou eu”, declarou o patriarca. D. Manuel Clemente recordou que, no Patriarcado, o ano pastoral começa, por norma, a 1 de setembro, referindo, na altura, que esperava até essa data uma nomeação do seu sucessor, por ser “uma boa altura para recomeçar, também sem demorar muito”. O que veio a verificar-se com o anúncio feito pelo Vaticano esta quinta-feira.
“É preciso alguém que reorganize a vida da diocese, em termos episcopais. E que também proponha ao Papa os seus colaboradores”, disse ainda D. Manuel Clemente na entrevista à Ecclesia.
O primeiro monfortino português a chegar a bispo
Rui Valério foi o primeiro padre português ligado aos Monfortinos a ser ordenado bispo, em novembro de 2018, estando desde então à frente da diocese das Forças Armadas e das Forças de Segurança.
Com 58 anos, Rui Manuel Sousa Valério nasceu em Urqueira, no concelho de Ourém, bem próximo do Santuário de Fátima, na véspera de Natal de 1964.
Aos 11 anos, deu entrada no Seminário Monfortino, em Fátima, onde estudou, tendo em 1984 ingressado no noviciado, em Santermo-in-Colle, Bari, Itália, e feito a primeira profissão religiosa em 06 de setembro de 1985. Cinco anos depois fez os votos perpétuos e, em 1991, foi ordenado padre em Fátima.
Rui Valério estudou Filosofia, na Pontifícia Universidade Lateranense, em Roma, bem como frequentou Teologia, na Pontifícia Universidade Gregoriana, onde concluiu a licenciatura, em 1992, com a especialização em Teologia Dogmática.
Em Leuven, na Bélgica, frequentou, entre 1995 e 1996, o curso de Espiritualidade Missionária, no Centro Internacional Monfortino e, na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, em 1997, iniciou o Doutoramento em Teologia.
A sua ligação às Forças Armadas, que agora cessa por via da nova nomeação, começou em 1992, como capelão no Hospital da Marinha, tendo em 2008 sido nomeado capelão na Escola Naval.
Passou por paróquias de Castro Verde, na diocese de Beja, e no Patriarcado de Lisboa, tendo também trabalhado, durante alguns anos, na formação dos Postulantes dos Missionário Monfortinos.
Em 2016, foi nomeado, pelo Papa Francisco, como “Missionário da Misericórdia”, durante o Ano Jubilar.
Nos últimos anos, foram várias as vezes em que sublinhou o papel dos militares portugueses como construtores da paz nas missões internacionais onde estão envolvidos, bem como enalteceu o desempenho das forças de segurança.
Também a questão dos abusos sexuais de menores no seio da Igreja esteve entre as suas preocupações.
Na missa crismal deste ano, o prelado, perante os capelães militares, qualificou os abusos sexuais de menores como “um autêntico murro no estômago” perpetrado por “indignos membros da Igreja”.
“O nosso coração está (…) cheio de amargura. Ao drama da guerra que há mais de um ano envolve a Ucrânia, barbaramente agredida pela Rússia, a Europa e o mundo, junta-se a má nova, agora comprovada com testemunhos e provas, de hediondos abusos molestadores perpetrados por indignos membros da Igreja, sobre vítimas inocentes e indefesas”, afirmou, então, na cerimónia realizada na Igreja da Memória, em Lisboa, catedral do Ordinariato Castrense.
Agora, aos 58 anos, Rui Valério ascende ao cargo de 18.º patriarca de Lisboa.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Patriarcado de Lisboa