O Conselho Interprofissional do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto aprovou, sexta-feira, um quantitativo de 104 mil pipas de mosto, menos 12 mil que em 2022.
A Região Demarcada do Douro vai poder transformar 104 mil pipas (550 litros cada) de mosto em vinho do Porto na vindima deste ano.
O quantitativo de benefício é o mesmo de 2021, mas menos 12 mil pipas do que em 2022. A decisão saiu da reunião do Conselho Interprofissional do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), esta sexta-feira, no Peso da Régua.
A emissão do comunicado de vindima é um dos momentos mais aguardados pelos viticultores da região, pois é a partir dele que podem começar a fazer contas à vida em termos de rendimento pelas uvas produzidas para vinho do Porto. Por normal, o preço de uma pipa ronda os mil euros.
O presidente do IVDP, Gilberto Igrejas, explicou que o quantitativo aprovado na reunião assenta na necessidade de apostar na “consciencialização e valorização da Região Demarcada do Douro e dos seus vinhos em prol da sustentabilidade”.
A redução das 12 mil pipas é justificada por Gilberto Igrejas “tendo por base a crise inflacionista a que se assiste em alguns mercados”, bem como “quebras nas exportações para os principais mercados que consomem vinho do Porto”.
Embora a produção se tenha abstido na votação em relação ao quantitativo propriamente dito, o presidente do IVDP disse que “a decisão é unânime em torno da consciencialização da medida para valorizar os vinhos da Região Demarcada do Douro e da sua sustentabilidade”.
O vice-presidente do IVDP indicado pelo comércio, António Filipe, justificou que, “em função do estado do mercado, dos stocks das empresas, das perspetivas económicas, das taxas de juro e do histórico”, esta profissão determinou que as 104 mil pipas eram “o valor máximo” até onde poderia ir.
“A produção entendeu abster-se sobre esta matéria, mas foi a proposta que foi aprovada e agora iremos trabalhar com estes números em prol e a favor da região”, sublinhou.
O vice-presidente do IVDP representante da produção, Rui Paredes, destacou o “momento muito complicado para a produção”, derivado do “aumento de custos” neste ano, que “tem sido terrível”. A despesa tem crescido “não só no granjeio, mas também devido ao aparecimento de muitas doenças”.
“A quebra acentuada na exportação” de vinho do Porto está a deixar “preocupados” os produtores, segundo Rui Paredes. Mas isto também despertou a consciência para “não pedir o mesmo valor do ano passado (116 mil pipas)”. Todavia, a produção gostaria de “manter o valor que o setor recebe anualmente”.
“Passamos uma mensagem em que, de boa-fé, não aceitamos as 104 mil pipas porque a decisão não veio com o envelope de que vamos aumentar na mesma percentagem o valor a pagar por pipa para, pelo menos, manter o rendimento do viticultor. Não obstante, demos uma carta em branco no sentido de eles [produção] tentarem que isso aconteça o mais rapidamente possível”, explicou Rui Paredes, para quem é “importante que não exista uma clivagem grande” entre as duas profissões.
O representando da produção ainda sublinhou que “a produção tem de ter sustentação”, para que a Região Demarcada do Douro não vire um grande lar de idosos”, uma vez que “os jovens não ficam na região” porque “o litoral é um grande íman para todos”.
“Corremos o risco de qualquer dia não haver ninguém que trate esta paisagem”, que é Património Mundial da Humanidade há quase 22 anos.
Rui Paredes ainda salientou a necessidade de haver “maior fiscalização” para “impedir a entrada no Douro de uvas de fora da região”.
Fonte: Jornal de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Miguel Pereira da Silva / Global Imagens