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O DNA Português de Santos

A influência portuguesa na Cidade de Santos é de fácil  constatação. Sazonalmente relembrada por textos, apresentações, reportagens e demonstrada por características arquitetônicas de alguns edifícios, pela presença das calçadas de “pedras portuguesas” em mosaicos, por exemplo.

Há de se apontar também a presença de uma pujante a participativa comunidade de portugueses e luso-descendentes, muitos destes cidadãos portugueses, fazendo da cidade e região relevantes nas eleições à Assembleia da República, que reserva duas cadeiras à representantes eleitos por cidadãos portugueses residentes fora de Portugal e da Europa, formando um dos 22 Círculos Eleitorais de Portugal.

Outro indicador indelével da presença e influência portuguesa na cidade de Santos é o número de entidades cívico-esportivo-culturais-educacionais onde esta ancestralidade se faz vívida. Seja  na Sociedade Portuguesa de Beneficência, mantenedora do um complexo hospitalar; no Centro Cultural Português de Santos, resultado da fusão do Centro Português de Santos com a Sociedade Musical União Portuguesa e mantenedor Rancho Folclórico Verde Gaio, de um dos mais importantes do país.

O Clube de Regatas Vasco da Gama; na Escola Portuguesa de Santos, Associação Atlética Portuguesa,  – tradicional clube de futebol do Estado de São Paulo e um dos clubes fundadores da Federação Paulista de Futebol; o Centro Beneficente Madeirense, incorporado pela Casa da Madeira de Santos;  o Elos Clube de Santos – Cellula Mater, entidade originária e idealizadora do movimento elista no Mundo Luso-Brasileiro.

A Fundação Lusíada de Santos, responsável pela primeira faculdade de medicina da cidade;  Associação das Bordadeiras do Morro de São Bento, além de diversas entidades que não estão mais em atividade, mas com histórico de efetiva participação nesse contexto.

Entre essas citamos  o Rancho Folclórico Tricanas de Coimbra, a Sociedade Musical Luso-Brasileira, a Sociedade Portuguesa de Socorros Mútuos D. Pedro I e o Centro Republicano Português de Santos.

Há ainda antigas publicações como os jornais Bandeira Portuguesa, A Vanguarda, Anuário da Comunidade Portuguesa e as revistas A Tradição Portuguesa e a Revista do Centro Português, que reforçam a constatação desta presença portuguesa na cidade.

Pode-se ainda utilizar como marcador da presença e influência portuguesa em Santos o emprego do “TÚ” sem a concordância do sujeito nas conversas corriqueiras. “Tu viu o filme?”, Tu vai almoçar agora?”, “Tu faz isso aqui?”

Neste caso, o amálgama de idiomas, linguagens e sotaques de uma cidade portuária e receptora de migrantes e imigrantes que oportunizou essa “variação santista” torta do uso cotidiano e não-formal da segunda pessoal do singular.

Mas há uma influência portuguesa que está presente na gênese da cidade, literalmente. Trata-se do estabelecimento da Santa Casa de Misericórdia de Todos os Santos, em 01 de novembro de 1543 foi uma iniciativa de Brás Cubas, buscando atrair para as costas do Enguaguaçu, sesmaria concedia à ele por Martim Afonso de Souza, os navios que utilizavam o Porto das Naus, em São Vicente, pioneiro como trapiche alfandegado, porém sem muitas estruturas de apoio às embarcações e nenhuma aos tripulantes.

Brás Cubas viu uma oportunidade de lucrar, promovendo o comércio de víveres em suas terras, bem como o uso pago dos trapiches por ele construídos: oferecer cuidados aos tripulantes enfermos.

Para isso, inspirou-se na Santa Casa de Lisboa, erigindo em Santos a segunda instituição de misericórdia das Américas e a mais antiga em funcionamento. Havia ainda conveniência da região das suas terras se localizar junto à um largamar com águas calmas, abrigado de ventos e com mais espaço para fundeio que o Porto das Naus.

Logo um pequeno povoado se estabeleceu entre os Morros e suas fontes de água, a Santa Casa e os trapiches e, além de pequenas lavouras e criações, brasileiros (cortadores de Pau-Brasil), carpinteiros, ferreiros, artesãos, tecelões e guias-tradutores ofereciam seus serviços para os navios que aportavam.

Em dois anos, em 1545, aquele povoado recebeu o Foral de Vila, dado o crescimento econômico e importância estratégia atingidos. O ponto aqui é que, o espírito empreendedor do fundador Brás Cubas inspirou-se em uma instituição portuguesa pioneira para dar cabo às suas espirações.

O êxito do povoado que originou a Vila de Santos está umbilicalmente ligado à fundação da Santa Casa de Misericórdia de Santos e esta, inspirada na primeira Santa Casa portuguesa.

Assim, além de ser uma cidade fundada por um português, que serviu de praça fortificada à Coroa Portuguesa, e depois de colonizada, recebeu levas de imigrantes portugueses que se estabeleceram em diversos locais de Santos que os faziam recordar das paisagens de Funchal, Lisboa, Porto e Arouca, além de centenas de pequenas freguesias, vilas e conselhos minhotos, trasmontanos, madeirenses, durienses e alentejanos, a cidade de Santos tem em suas “cadeias de DNA” a presença de “genes” autenticamente portugueses.

A “receita” para o sucesso do “embrião” da urbe santista repousa no exemplo e influência que os Estatutos da Santa Casa de Misericórdia de Lisboa exerceram em Brás Cubas para dar cabo aos seus empreendimentos.

O Lema, em latim, da cidade de Santos, presente em seu Brasão d’Armas diz que a cidade ensinou à Pátria a Caridade e a Liberdade. Ambos aprendidos pelos santistas graças à instituições portuguesas que os inspiraram.

* Luiz Paulo Neves Nunes. Professor e geógrafo. Coordenador do Centro de Inovação Tecnológica de Guarujá, professor da Etec Alberto Santos Dumont, do Centro Paula Souza, diretor do Centro Cultural Português de Santos, conselheiro da Associação Atlética Portuguesa, associado ao Elos Clube de Santos – Cellula Mater.

Segundo-Secretário da Associação Profissional do Geógrafos de São Paulo – APROGEO-SP, associado da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC, membro da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Guarujá e sócio-correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.