Unir a margem Norte à margem Sul do rio Tejo era um dos grandes objetivos a alcançar com a construção da Ponte Vasco da Gama, inaugurada há precisamente 25 anos, ainda a tempo da Expo”98.
Tal como a grande exposição mundial provocou uma transformação radical do espaço ocupado hoje pelo Parque das Nações, também a travessia entre Lisboa e o Montijo era recebida, a 29 de março de 1998, com grande entusiasmo. “Esta ponte é, acima de tudo, um traço de união entre os portugueses e um motivo de orgulho para Portugal”, apontou o então primeiro-ministro, António Guterres.
As palavras daquele que ocupa hoje a cadeira de secretário-geral da ONU faziam referência à responsabilidade partilhada pelo Partido Social Democrata (PSD) e pelo Partido Socialista (PS) na concretização da obra.
Cavaco Silva era líder do governo quando, em 1995, foi assinado o contrato para a construção e exploração da nova infraestrutura com a Lusoponte, mas seria Guterres a inaugurar a obra de quase 900 milhões de euros. O custo, assegura ao DN o engenheiro Armando Rito, não era à época considerado um entrave.
“Este concurso foi extremamente exigente. As exigências técnicas e estéticas eram prioritárias”, explica um dos projetistas envolvidos na construção da ponte. Mais do que o valor, estava em causa a “durabilidade” e a “segurança”.
Aos 86 anos, Armando Rito recorda que foi necessário produzir “legislação especial” para aquela empreitada e que era essencial assegurar a resistência a eventuais sismos de larga escala. “Foi uma obra que teve cuidados e preparação como não vejo agora ser feito em coisa nenhuma”, acrescenta.
O engenheiro reconhece a capacidade técnica de todos os profissionais envolvidos na construção da Vasco da Gama, que durou cerca de três anos, e assume-se “satisfeito por ter abraçado aquele desafio”. Os resultados alcançados em “qualidade e segurança” merecem hoje destaque por Armando Rito, como mereceram há 25 anos por personalidades ainda presentes no teatro político da atualidade.
O atual presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, foi um dos 1500 convidados para o primeiro passeio oficial ao longo dos 17 quilómetros num dia que considerou como sendo “de muita alegria para todos os portugueses”.
“É uma ponte entre dois governos e é bem o símbolo daquilo que os portugueses, a engenharia portuguesa, a capacidade portuguesa é capaz de fazer”, sublinhava em declarações à RTP.
A abertura ao público da última grande obra do século XX causou uma verdadeira corrida de curiosos, que ao longo de todo aquele domingo de março fizeram questão de percorrer a ponte.
De acordo com relatos da estação pública de televisão, que acompanhava a inauguração, terão circulado mais de 11 mil veículos entre as duas margens do Tejo em apenas uma hora e vinte minutos. A viagem era de contemplação e a baixa velocidade, de tal forma que foram registados dois acidentes ligeiros por “distração” dos condutores.
A eterna terceira travessia
Passam os anos, mudam as necessidades do país ao nível das infraestruturas e, de tempos a tempos, o tema da terceira ponte sobre o Tejo volta ao debate público.
Em novembro do ano passado, a apresentação do Plano Ferroviário Nacional (PFN) recuperou a ideia de uma nova travessia entre Chelas e o Barreiro para permitir uma redução de 30 minutos no acesso de Lisboa ao Alentejo e ao Algarve. Armando Rito não rejeita a proposta, mas realça ser importante que “o dono da obra, que somos todos nós, deve exigir a maior qualidade possível”.
“A ideia de que o mais barato é que defende os interesses do Estado não é verdadeira, mas sim aquilo que dura mais”, afirma. A equipa coordenadora do PFN aponta 2050 como horizonte temporal à concretização da obra.
No que diz respeito a eventuais alterações à Ponte Vasco da Gama, nomeadamente a possibilidade de introduzir uma linha ferroviária leve, o engenheiro diz que é possível, embora alerte que implicaria a redução da largura da faixa de rodagem. “Do ponto de vista da resistência estou convencido que seria possível, uma vez que seria, com certeza, um metro ligeiro”, aponta.
Dos 897 milhões às toneladas de aço: alguns números
897. Milhões de euros foi o montante investido na construção da Ponte Vasco da Gama, sendo que 319 milhões tiveram origem no Fundo de Coesão da União Europeia e 299 milhões foram emprestados pelo Banco Europeu de Investimentos.
17. Número de quilómetros da travessia entre a margem Norte e Sul do rio Tejo.
11. Trabalhadores perderam a vida durante o processo de construção da infraestrutura e mereceram uma homenagem, com um minuto de silêncio, no dia da inauguração.
100 000. Toneladas de aço foram usadas para fabricar as armaduras que suportam a ponte
3300. Número máximo de pessoas envolvidas no projeto que demorou cerca de três anos a ser concluído.
13,05€. Valor máximo de portagem cobrado aos veículos da classe 4 que circulem no sentido Sul-Norte. As viaturas pertencentes à classe 1 pagam 3,05 euros.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Paulo Spranger / Global Imagens