“Nem falo como católico. Se falasse como católico seria ainda mais contundente.” Entrevistado pela RTP e pelo jornal Público, com transmissão esta quinta-feira à noite na estação pública de televisão, o Presidente da República foi devastador sobre a posição da Conferência Episcopal Portuguesa quando ao abuso de menores na Igreja: “Passou ao lado dos problemas todos.”
Ou seja, “ficou aquém em todos os pontos importantes”: “no da responsabilização”, ao “não tomar posições preventivas” quanto a padres suspeitos de abusarem de menores e “aquém quanto à reparação” devida às vítimas. “Foi tudo ao contrário” do que deveria ter sido, sendo isso agravado porque “a Igreja é uma instituição fundamental na sociedade” que “faz falta ao país”.
“Se falha numa situação tão básica, isso repercute-se em todo o país.” Portanto, apesar de dentro da hierarquia estar “cada um para seu lado”, o que importa agora é, rapidamente, na opinião do chefe de Estado, uma “reflexão complementar para reencontrar caminhos”.
Numa entrevista marcada para assinalar os seus sete anos como Presidente da República, Marcelo, embora notoriamente bem-humorado, revelou-se pouco simpático tanto para o governo como para o PSD.
“Hoje estou a pôr a mão muito pouco por baixo”, disse, em relação ao governo, depois de ter entrado a matar na entrevista, considerando a maioria PS como uma “maioria requentada” e “cansada” visto que só foi obtida ao fim de seis anos de governação.
“Num contexto de guerra e de gestão de crise estamos a gerir o dia-a-dia e a olhar para o curto prazo e não para o longo prazo”, afirmou – mas não se esquecendo de salientar pelo meio que afinal “os números foram melhor do que se esperava”.
Ainda assim, acrescentou, o que espera é que a legislatura vá até ao fim (2026). Porém – e ficou o solene aviso – nada está garantido nesse sentido: “Não me peçam para dizer que renuncio ao poder de dissolver [a Assembleia da República]”.
Se, como explicou, a realidade for “mais imaginativa do que a nossa imaginação”, desenvolvendo-se uma “situação patológica” consubstanciada “no tal irregular funcionamento das instituições” previsto na Constituição, então dissolverá, provocando assim eleições antecipadas.
Mas para isso, acrescentou ainda – e aqui num recado ao PSD – terá ainda de se desenvolver uma outra circunstância: “A existência de uma alternativa”. Essa alternativa existe “aritmeticamente mas não politicamente”, dado que há dois partidos (IL e Chega) que não comunicam entre si – “portanto os votos não somam”.
Para o Presidente, além do mais, “a alternativa para ser forte tem de ter um partido claramente mais forte do que os outros”, o que as sondagens mostram que atualmente não acontece. Pelo meio, questionado sobre o regresso de Pedro Passos Coelho, deixou transparecer que a solução do PSD deve passar por manter Luís Montenegro na liderança: “Dança quem está na roda” e “só entra quem está de fora se o que está na roda sair”.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Gustavo Bom / Global Imagens