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CEO da TAP garante ter condições para se manter no cargo

Christine Ourmières-Widener, (CEO) presidente executiva da TAP, disse esta quarta-feira, no Parlamento, que a saída de Alexandra Reis da companhia aérea deveu-se a “divergências na implementação do plano de reestruturação” da empresa. Foi “a única razão”, disse a CEO da TAP nos esclarecimentos aos deputados sobre a indemnização de 500 mil euros, paga pela companhia aérea, à antiga administradora Alexandra Reis, ex-secretária de Estado do Tesouro.

A gestora afirmou, perante os deputados, que tem “provas escritas” de todo o processo. Disse que recebeu a confirmação escrita do acordo com Alexandra Reis, que lhe foi enviada pelo então secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Santos Mendes. Indicou que o Ministério das Finanças não esteve envolvido neste processo.

Christine Ourmières-Widener considerou que, na sequência deste caso, tem condições para se manter no cargo. “Tenho condições para ser CEO da TAP porque temos agido de boa-fé, completamente de boa-fé ao contratarmos aconselhamento jurídico externo e pedirmos a autorização para a indemnização”, disse.

A audição da responsável da TAP acontece na sequência do requerimento potestativo do Chega, depois de o grupo parlamentar do PS ter rejeitado a proposta de audição num primeiro momento.

Antes de responder aos deputados, a CEO da TAP fez uma intervenção inicial, em português. “Na gestão temos uma missão, percorrer um caminho para uma companhia sustentável e lucrativa até 2025. Estamos focados no trabalho que é preciso fazer”, começou por dizer.

Afirmou que se trata de um “caminho percorrido com competências e esforço dos trabalhadores da TAP” e que o “trabalho desenvolvido mostra já efeitos positivos”.

Notou que a TAP teve no ano passado teve “uma das melhores receitas da sua história” e que no “3.º trimestre teve o melhor resultado trimestral de sempre”.

“A TAP podia ter acabado em 2021, como aconteceu com outras companhias aéreas. A opção do Governo foi salvar a TAP como ativo do país, de acordo com um plano de reestruturação, validado por Bruxelas”, destacou.

“Tem sido um caminho difícil, com vários obstáculos e adversidades numa conjuntura exigente e de grande competitividade dos mercados “, assumiu a presidente da TAP. Disse, no entanto, que o trabalho já começou por “dar frutos”.

Referiu que no final do ano passado “a greve do SNPVAC teve um impacto direto na receita de oito milhões de euros”.

De acordo com o plano de reestruturação,”desenvolveu-se um esforço de redução de despesa focada na redução equitativa da sua massa salarial” e num conjunto de medidas que geraram redução de custos.

Christine Ourmières-Widener falou que se está a concretizar o “maior plano de transformação da história da empresa”. “É um esforço de todos que está a dar frutos”.

Chega. TAP parece “uma espécie de bordel de indemnizações”

O presidente do Chega, André Ventura, é quem fez as primeiras perguntas à CEO da TAP. “Consegue dar um rol de indemnizações que tenham sido pagas desde que assumiu a função? Há, ou não, mais casos como o da indemnização paga à ex-secretária de Estado, Alexandra Reis?. Qual o histórico de indemnizações desde que entrou”

Referindo outro caso que chegou ao seu conhecimento, o presidente do Chega disse que começa a aparecer que a TAP é “um bordel de indemnizações”.

André Ventura pede esclarecimentos sobre a informação que a TAP fez chegar à CMVM, dando conta que comunicou que “Alexandra Reis renunciava ao cargo porque iria abraçar novos desafios profissionais”. “Quem renuncia a um cargo não recebe meio milhão de euros para sair”, afirmou Ventura para perguntar: “Mentiu à CMVM?”.

A CEO da TAP explicou, depois, a razão da saída de Alexandra Reis da companhia aérea. “Havia divergências na implementação do plano de reestruturação. Na equipa executiva, é crucial haver um alinhamento relativamente à implementação do plano. Essa foi a única razão para a saída de Alexandra Reis da companhia aérea”, disse a presidente executiva da TAP.

Christine Ourmières-Widener deu o exemplo da decisão de aumentar a oferta para 2022 como um dos pontos de divergência, adiantando que foi “uma discussão muito difícil”.

TAP obteve aprovação do secretário de Estado das Infraestruturas para a indemnização. Confirmação por escrito

Respondendo à pergunta do deputado do Chega André Ventura sobre com quem do Governo foi discutida a indemnização a Alexandra Reis, a responsável da transportadora disse que esteve em contacto, “desde o início”, com o então secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Mendes.

“Eu obtive a aprovação através do secretário de Estado das Infraestruturas. […] Eu assumi, tendo em conta a forma como trabalhamos em conjunto, que o acordo [para a indemnização] com o secretário de Estado foi feito com a concordância do Ministério das Finanças”, realçou Christine Ourmières-Widener.

Sobre a eventual existência de outros casos semelhantes ao de Alexandra Reis, a CEO da TAP disse não ter conhecimento de outras saídas da companhia com indemnizações avultadas, apenas de uma indemnização ao seu antecessor, Antonoaldo Neves, quando a TAP tinha gestão privada.

No que diz respeito à pergunta de Ventura sobre se a administração da TAP mentiu à CMVM aquando da comunicação da saída de Alexandra Reis, Christine Ourmières-Widener explica que “a comunicação está ligada ao acordo que foi assinado com Alexandra Reis”.

Após uma nova ronda de perguntas, a CEO da TAP reitera que o interlocutor do Estado no processo de indemnização foi o secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Mendes.

Christine Ourmières-Widener voltou a falar na razão que levou à saída de Alexandra Reis da TAP. “Houve também um desalinhamento” na área dos recursos humanos, “em relação ao que podia ser possível em 2022”. “Tivemos também algum desalinhamento em relação à frota”, acrescentou.

Referiu-se ao processo de Alexandra Reis como sendo “absolutamente excecional” quando abordou a participação de uma sociedade de advogados externa à empresa. “O departamento jurídico da empresa só foi envolvido quando a negociação estava fechada”, esclareceu. Acrescentou que a comunicação feita à CMVM sobre a saída de Alexandre Reis foi feita pelo consultor externo.

“Toda a comunicação que fizemos e toda a discussão foi completamente recomendada por advogados. Eu sou uma CEO, não sou uma advogada, estou a gerir uma organização muito complexa, é por isso que contrato advogados. Tudo o que fizemos foi recomendado por advogados, incluindo a comunicação que foi publicada”, afirmou Christine Ourmières-Widener.

Questionada pelo deputado socialista Carlos Pereira, se a TAP costuma recorrer a serviços jurídicos externos neste tipo de processos, a presidente executiva da companhia respondeu que o caso de Alexandra Reis foi uma “situação excecional”.

“Mas, em termos de boas práticas, é recomendado trabalhar com advogados externos quando se gerem processos como este, que tem de ser muito confidencial, não só para respeitar a pessoa envolvida, mas também para garantir a confidencialidade da discussão, que é muito sensível”, referiu.

A responsável da companhia aérea confirmou também que o processo da indemnização a Alexandra Reis foi tratado, do lado da TAP, pela sociedade de advogados SRS Legal.

A presidente executiva da TAP aludiu à investigação que está em curso pela Inspeção-Geral das Finanças (IGF) salientando que, caso haja algum “resultado dessa investigação”, a TAP irá “agir em total conformidade” com esses resultados.

Nesta audição, a gestora da TAP garantiu ainda que, no processo de indemnização de Alexandra Reis, “não fez nada sem deixar por escrito”. “Por isso, há provas escritas do processo, dos diferentes passos da discussão e também da aprovação do acordo final”, referiu.

A presidente da TAP salientou designadamente que recebeu a confirmação escrita do acordo com Alexandra Reis, que lhe foi enviada pelo então secretário de Estado das Infraestruturas Hugo Santos Mendes.

Christine Ourmières-Widene sublinhou, durante a audição, que “os resultados demonstram que a gestão da empresa está em linha com o plano, que está a funcionar”. “Creio que a comunicação dos resultados, em meados de março, vai confirmar que estamos a fazer tido o que sabemos para que a empresa esteja muito melhor em termos financeiros”, sustentou.

No seguimento das perguntas do PCP, a presidente da TAP disse concordar que “todos os ataques à companhia aérea de bandeira não são bons para a empresa, não são bons para os trabalhadores e não são bons para o valor da empresa”.

Após a ronda de perguntas do Bloco de Esquerda, Christine Ourmières-Widener afirmou que o seu salário “é público” e que sofreu um corte correspondente de cerca de 30%.

“Entendi que havia uma coordenação entre o secretário das Infraestruturas e o Ministério das Finanças”

A CEO mencionou as conversações com os sindicatos dos trabalhadores da empresa e afirmou que a administração está a trabalhar com as estruturas sindicais “para a retenção de modo a garantir que os recursos críticos não deixem a organização”, referindo-se à área da engenharia e tecnologias de informação. Uma situação muito complexa, classificou. “Não podemos eliminar os cortes salariais devido ao compromisso que temos no plano de reestruturação”, salientou.

CEO da TAP confirma que houve a participação de um consultor externo, sociedade de advogados, no processo referente à indemnização a Alexandra Reis. “Estas transações são muito complexas e é essa a razão pela qual contratamos advogados”, justificou. Disse ainda que a comunicação à CMVM foi feita de boa-fé.

Reiterou que, neste processo, o seu principal contacto foi o secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Mendes. “Entendi que havia uma coordenação entre o secretário das Infraestruturas e o Ministério das Finanças, mas não contactei diretamente ninguém das Finanças”, notou.

Depois do BE referir denúncias de uma tripulante sobre perseguição a colaboradoras mulheres, a CEO da TAP afirmou que a empresa criou um canal para denúncias anónimas.

Disse estar “muito orgulhosa da equipa”, mas admitiu: “Se existirem factos que têm de ser verificados e erros que são cometidos, a organização tem cada vez mais capacidade de aprender com os respetivos erros, e melhorar.

Após a terceira, e última, ronda de perguntas dos deputados, a gestora da companhia aérea afirmou que é necessário garantir que a TAP é sustentável e uma empresa lucrativa” e que “daí advém os sacrifícios dos trabalhadores e dos cidadãos portugueses”.

“Penso que todos estes ataques e comentários não ajudam. E é verdade que, como CEO, não é fácil. Muitas pessoas dizem-me que ser presidente executiva da TAP talvez seja o trabalho mais difícil do país, porque estamos todos os dias nas notícias”, considerou a gestora.

“O Ministério das Finanças não está envolvido neste processo”

A gestora afirmou que “há sempre coisas para melhorar, para corrigir, podemos sempre melhorar”. Disse ainda que “tudo isto tem impacto na motivação”.

“Tenho empregados a chegar ao meu escritório, quando o seu salário é publicado na imprensa. Há pessoas a chorar no meu gabinete quando os seus nomes surgem nos jornais, vendo as suas vidas devassadas em relação a tudo o que fazem. E trabalham dia e noite para alcançarem bons resultados. Sim, é difícil. Há pessoas a sofrer. É com isso que lidamos todos os dias, mas não podemos perder o nosso foco”, relatou.

Continuou dizendo que todos os dias são resolvidos problemas, que são tomadas decisões. “Todas as nossas decisões são todas corretas e perfeitas? Claro que não”, disse a gestora, garantindo que estão a trabalhar “arduamente”.

“Tenho estado sempre a agir de boa fé”, disse, referindo-se à investigação da Inspeção-Geral das Finanças (IGF), que a contactou, indicando que a administração está a dar toda a informação pedida. “Fomos contactados por todas as entidades”, disse, dando como exemplo a CMVM. Acrescentou que toda a informação será tornada transparente para o público.

Sobre a questão se houve contacto com o ministro das Finanças, a gestora disse que “diretamente, não”. “Estou certa que a única que única coisa que o ministro das Finanças me irá aconselhar é dizer a verdade e nada mais do que a verdade”.

No que se refere ao contacto com o secretário de Estado das Infraestruturas, a CEO da TAP indicou que era feito com o setor financeiro da empresa. “O Ministério das Finanças não está envolvido neste processo”.

Valor da indemnização. “É muito dinheiro”, admitiu gestora da TAP

Voltou a referir que a administração da TAP vai aguardar pelos resultados da investigação da IGF sobre a indemnização e que vão “agir em conformidade”. “Iremos sempre agir de acordo com as boas práticas governativas”, sublinhou.

Falou depois do que ganha como gestora da TAP. “Fui recrutada baseada num contrato. Tento garantir todos os dias que sou merecedora do meu salário. Estou a tentar garantir estar à altura com a tarefa que tenho em mãos”, assegurou.

Se a investigação concluir que a indemnização a Alexandra Reis foi ilegal, Christine Ourmières-Widene admitiu pedir a devolução do dinheiro pago à ex-secretária de Estado do Tesouro.

“Se houver alguma devolução de dinheiro, tal será feito de forma diligente”, afirmou.

Sobre o valor da indemnização a Alexandra Reis, a gestora disse que a discussão começou com um valor e que terminou num nível diferente. “Mas, concordo, ainda assim é muito dinheiro. O resultado destas negociações foi constatado como aceitável perante a aprovação formal do nosso acionista [Estado] e a recomendação dos nossos consultores”.

O caso da indemnização de meio milhão de euros paga à antiga secretária de Estado Alexandra Reis, pela saída antecipada da administração da TAP, levou à demissão do ex-ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, e a uma remodelação no Governo.

A Inspeção-Geral de Finanças está a preparar um relatório sobre o caso, mas o Correio da Manhã avançou, em 14 de janeiro, que a Parpública e a Direção-Geral do Tesouro e Finanças (DGTF) não foram informadas, nem autorizaram o pagamento da indemnização a Alexandra Reis.

Além da polémica indemnização, a TAP tem feito manchetes nos jornais por outros motivos, entre os quais a contratação de uma amiga pessoal de Christine Ourmières-Widener para assumir a direção do departamento de melhoria contínua e sustentabilidade, ou a intenção de substituir a frota de carros da empresa para administradores e diretores.

O negócio não andou para a frente e a companhia decidiu, então, atribuir 450 euros aos diretores que não chegaram a receber carro, para usar numa plataforma eletrónica de transporte.

No que diz respeito a questões laborais, a TAP está em negociações com o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) para evitar uma nova greve de tripulantes no final do mês, depois de uma paralisação de dois dias, no início de dezembro, que teve um impacto de cerca de oito milhões de euros na empresa.

Fonte: Diário de Notícias / Portugal

Crédito da imagem:  Gerardo Santos / Global Imagens