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Marcelo lembra Bento XVI como um “símbolo de defesa dos valores da Igreja Católica”

Marcelo Rebelo de Sousa enviou uma mensagem de condolências ao Papa Francisco “manifestando profunda consternação” pelo falecimento o papa emérito Bento XVI.

Para o Chefe de Estado português, “ao longo dos seus oito anos de Pontificado, o Papa Bento XVI permaneceu um símbolo de estabilidade e de defesa dos valores da Igreja Católica: o Amor ao próximo, a Solidariedade e o apoio aos mais pobres e aos mais desprotegidos e a importância do Perdão e da Reconciliação”, pode ler-se no site da Presidência da República.

Na mesma nota, é dito que Marcelo Rebelo de Sousa, “enquanto Português, recordou a Visita Apostólica de Sua Santidade o Papa Bento XVI a Portugal, em maio de 2010, por ocasião do 10.º aniversário da beatificação dos Pastorinhos de Fátima, Francisco e Jacinta Marto, não esquecendo as palavras de apreço então expressas relativamente ao nosso país”.

Também o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, lamentou a morte do papa emérito, dizendo que esta “mergulha em luto profundo a Igreja Católica e os seus fiéis. Homenageio a sua memória, destacando a estatura intelectual e o gesto fundacional da resignação”.

O primeiro-ministro, António Costa, lembrou ter recebido Bento XVI em Lisboa quando ainda era presidente da câmara e refere que “o seu trabalho e dedicação permanecerão um referencial para os fiéis em todo o mundo”.

“Enorme clareza doutrinal”

O cardeal-patriarca de Lisboa realçou este sábado a “enorme clareza doutrinal” do papa emérito Bento XVI, destacando, em particular, a abertura ao diálogo “dentro e fora da Igreja”.

Manuel Clemente considerou, em declarações à agência Ecclesia, que este é o momento para “uma ação de graças” pela vida de Bento XVI, “pelo que ela significou, pelo seu pontificado e pela sua enorme clareza do ponto de vista doutrinal, que não foi de modo algum de fechamento, mas de grande abertura à atualidade, das pessoas com quem dialogou, dentro e fora da Igreja e na maneira como ele conseguiu expressar as verdades da (…) fé, numa linguagem coerente, clara e atual”.

Na sua mensagem, o cardeal-patriarca sublinha, por outro lado, a “coragem” de Joseph Ratzinger ao pedir a resignação ao papado, “quando sentiu não ter condições para continuar a exercer o ministério”.

Para Manuel Clemente, Bento XVI foi uma figura “gigantesca, do ponto de vista teológico, filosófico, pastoral e pontifical”.

O patriarca de Lisboa evocou ainda as deslocações de Bento XVI a Portugal, e a sua ligação à mensagem de Fátima: “Muito ligado a Portugal, onde veio, teve ocasião de visitar Fátima, com os pastorinhos, com a explicação da terceira parte do segredo de Fátima, que tantas dúvidas levantava e que afinal liga a mensagem e Fátima e o que os pastorinhos viveram à vida e ao drama da Igreja e do mundo, neste século e no século passado”, assinalou.

Um legado que desafia a alargar a racionalidade

Por sua vez, o arcebispo de Braga, José Cordeiro, numa nota publicada na página da arquidiocese na Internet, recorda “com viva gratidão” a eleição do cardeal Joseph Ratzinger para o papado, em 2005.

“Estava em Roma e fui convidado a comentar para a RTP os acontecimentos: as exéquias de São João Paulo II; o conclave; o dia do fumo branco e o início do ministério petrino de Bento XVI”, escreve José Cordeiro.

“O Papa Bento XVI deixa-nos um legado que nos desafia a alargar a racionalidade, isto é, à harmonia da fé e da razão na construção de um mundo melhor: “As palavras de Jesus nunca cessam de ser maiores do que a nossa razão; superam, sempre de novo, a nossa inteligência… Crer significa submeter-se a esta grandeza e crescer pouco a pouco rumo a ela”, acrescenta.

Renúncia fica para a história

Ainda a nível nacional, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas, considerou que Bento XVI “vai ficar sempre na história da Igreja”, em particular pela renúncia ao pontificado.

“Bento XVI fica na história da Igreja, nomeadamente pelo grande passo quando assumiu que já não estava em condições de governar a Igreja”, considerou José Ornelas, conforme escreve a agência Ecclesia.

Para José Ornelas essa decisão resultou de uma “visão realista”, que veio de um Papa com “solidez teológica”. “A sua interpretação deste passo fica, sem dúvida, como um legado para a história da Igreja”, acrescentou o presidente a CEP.

Ornelas recorda ainda um papa que fez “uma transição muito importante”, da reflexão teórica, a partir da sua “solidez teológica”, para uma “visão pastoral”.

Segundo o presidente da CEP, Bento XVI, que sucedeu a São João Paulo II, procurou novas linguagens de “compreensão e comunicação da Igreja, na sua diversidade, e que deu passos no diálogo ecuménico”.

“É um homem que, na sua biografia, conta com uma posição fundamental, sobretudo nos campos da racionalidade, da relação entre razão e fé. É um papa que me habituei a ler como indicador da teologia do Vaticano II, na sua seriedade e fundamentação, no horizonte da fé para o homem moderno”, observou o presidente da CEP.

O também bispo da Diocese de Leiria-Fátima recordou, ainda, a ligação de Bento XVI à Cova da Iria, que visitou em maio de 2010, e, em particular, à interpretação do chamado Segredo de Fátima, cuja terceira parte foi divulgada em 2000, com um comentário teológico do então cardeal Joseph Ratzinger.

Para José Ornelas, Bento XVI promoveu uma “reinterpretação atualizada da Mensagem de Fátima, na linha do que o Santuário nacional fez ao longo de decénios, favorecendo o diálogo entre a tradição e o mundo contemporâneo”, lê-se na publicação da Ecclesia.

A mesma publicação termina com uma frase proferida por Bento XVI, em 13 de maio de 2010, na homilia da missa a que presidiu na Cova da Iria, em Fátima: “Iludir-se-ia quem pensasse que a missão profética de Fátima esteja concluída”.

Relação especial com Fátima

O reitor do Santuário de Fátima, Carlos Cabecinhas, lembrou este sábado a “relação muito especial” de Bento XVI com Fátima, onde esteve por duas vezes, em 1996, ainda cardeal, e em 2010, já como pontífice.

Carlos Cabecinhas sublinhou o “grande amor à Igreja” que Bento XVI revelou aquando da sua renúncia, e lembrou que foi Joseph Ratzinger, então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que fez o comentário teológico à terceira parte do chamado segredo de Fátima.

O reitor do Santuário da Cova da Iria, numa mensagem sobre a morte do papa alemão, evocou a visita de Bento XVI a Fátima, em maio de 2010, no décimo aniversário da beatificação dos videntes Francisco e Jacinta Marto, considerando-a uma “peregrinação particularmente significativa e festiva”.

Na sua mensagem, Carlos Cabecinhas exprime “uma profunda gratidão para com o Papa Bento XVI” por parte do Santuário.

“A gratidão de quem viu nele um pastor, a gratidão de quem pode beneficiar do aprofundamento teológico que ele deu à mensagem de Fátima, a gratidão de quem vê nele um grande amor à Igreja que foi aquilo que conduziu sempre no seu ministério, mas também no ato de renunciar ao seu pontificado”, afirmou.

Chefe dos bispos alemães deixa crítica

Embora saudasse Bento XVI como um “teólogo impressionante e pastor experiente”, o chefe da Conferência dos Bispos Alemães foi crítico sobre o histórico de Bento XVI sobre o escândalo de abusos sexuais no seio da Igreja Católica. “Ele pediu perdão aos afetados e ainda assim as perguntas permaneceram sem resposta”, disse Georg Baetzing.

Elogio dos anglicanos

O papa emérito Bento XVI “foi um dos maiores teólogos da sua época”, disse o arcebispo da Cantuária, Justin Welby. “O Papa Bento XVI foi um dos maiores teólogos da sua época – comprometido com a fé da Igreja e firme na sua defesa”, disse o principal clérigo anglicano.

Um “teólogo notável” para os ortodoxos

O chefe da Igreja Ortodoxa Russa, Patriarca Kirill, saudou Bento XVI como um “teólogo notável” e defensor dos valores “tradicionais”. “A autoridade incondicional de Bento XVI como teólogo destacado permitiu-lhe dar uma contribuição significativa para o desenvolvimento da cooperação intercristã… e para a defesa dos valores morais tradicionais”, disse o patriarca russo em comunicado.

Líderes internacionais lamentam morte

O presidente francês, Emmanuel Macron, prestou homenagem a Bento XVI, elogiando-o pelo seu trabalho em prol de um “mundo mais fraterno”. “Os meus pensamentos estão com os católicos de França e do mundo, enlutados pela partida de sua santidade Bento XVI, que lutou com alma e inteligência por um mundo mais fraterno”, escreveu no Twitter.

O chanceler alemão, Olaf Scholz, prestou homenagem ao papa emérito classificando-o como um “líder especial da igreja” que ajudou a moldar a Igreja Católica.

“Como um papa ‘alemão’, Bento XVI foi um líder especial da Igreja para muitos, não apenas para este país”, escreveu Scholz no Twitter. “O mundo perdeu uma figura formadora da Igreja Católica, uma personalidade argumentativa e um teólogo inteligente”.

Numa declaração separada, o presidente alemão Frank-Walter Steinmeier descreveu Bento XVI como alguém que “fez do diálogo entre fé e razão o trabalho de sua vida” e que também procurou o diálogo com judeus, muçulmanos e todas as denominações cristãs em todo o mundo.

Steinmeier também observou que Bento XVI foi confrontado pelo escândalo de abusos sexuais que abalou a Igreja Católica em todo o mundo. Ele “sabia do grande sofrimento das vítimas e do imenso dano à credibilidade da Igreja Católica”, disse Steinmeier.

A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, elogiou Bento XVI como um “gigante da fé e da razão” após sua morte aos 95 anos.

Meloni disse ainda ter transmitido ao Papa Francisco que ela e seu governo compartilham a sua dor pela morte de “um cristão, um pastor, um teólogo, uma grande figura da história, que a história nunca esquecerá”.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, lamentou este sábado a morte do papa emérito Bento XVI e lembrou o “sinal forte” enquanto “servo de Deus e da sua Igreja” quando este renunciou ao pontificado.

“A morte do papa Bento XVI entristece-me. Bento XVI havia dado um sinal forte com sua renúncia, vendo-se primeiro como um servo de Deus e da sua Igreja. Uma vez que sua força física diminuiu, ele continuou a servir por meio do poder das suas orações”, escreveu na rede social Twitter.

Na mesma mensagem, a líder da Comissão Europeia aproveita para enviar condolências a todos os católicos.

O presidente russo, Vladimir Putin, elogiou Bento XVI como um “defensor dos valores cristãos tradicionais”. “Bento XVI foi uma eminente figura religiosa e estatal, um defensor convicto dos valores cristãos tradicionais”, escreveu Putin numa mensagem de condolências ao Papa Francisco, divulgada pelo Kremlin.

Fonte: Diário de Notícias / Portugal

Crédito da imagem: Ettori Ferrari / EPA