Paz, solidariedade e confiança. Foram os três desejos expressos este domingo pelo primeiro-ministro na tradicional mensagem natalícia, um discurso breve em que António Costa defendeu que Portugal tem razões para estar confiante no futuro, mesmo quando “tanta incerteza nos rodeia no cenário internacional”.
Uma confiança no futuro que, para o primeiro-ministro, se justifica “pelo que estamos a fazer no presente”. A começar pela “solidariedade” com que o país tem enfrentado – “em conjunto, lado a lado” – tempos “exigentes”. Uma resposta solidária que, na perspetiva do líder do Executivo, é um garante de “confiança na mobilização de todos em torno dos desafios estratégicos que se colocam ao nosso País. E são quatro: “Reduzir as desigualdades, acudir à emergência climática, assegurar a transição digital e vencer o desafio demográfico”.
Mas não só. Outra razão que Costa aponta para olhar o futuro com confiança é a “trajetória sustentada de redução do défice e da dívida”, que o líder do Executivo diz colocar o país “ao abrigo das turbulências do passado”. Também o “investimento que temos feito nas qualificações, na ciência, na inovação, e na transição energética e climática” garante que Portugal está “no pelotão da frente para vencer os desafios do futuro”, argumenta o primeiro-ministro. Razões suficientes para acreditar que o país conseguirá “garantir às novas gerações, que em Portugal terão a liberdade para seguir os seus sonhos e as oportunidades para construírem o seu futuro”.
Solidariedade com a Ucrânia
Mas foi pelo desejo de paz que António Costa iniciou aquela que é já sua oitava mensagem de Natal – um desejo que “todos ansiamos desde que o horror da guerra regressou à Europa, com a invasão da Ucrânia pela Rússia”. “Acompanhamos a dor e o sofrimento do povo ucraniano e batemo-nos, lado a lado com a Ucrânia, pela Paz e em defesa do direito internacional”, afirmou o primeiro-ministro, deixando uma palavra de “carinho especial” à comunidade ucraniana que vive em Portugal – dos que estão no país há vários anos aos que “vieram nestes últimos meses à procura de segurança”.
Também pela guerra e pelos seus efeitos, o primeiro-ministro evocou a solidariedade como o valor maior para enfrentar as consequências do conflito, a começar pelo aumento do custo de vida. “Este ano, a inflação atingiu níveis que não vivíamos há três décadas; as taxas de juro subiram para valores que os mais novos não conheciam; e a fatura da energia cresceu, tanto para as famílias como para as empresas”, evocou o líder do Executivo, sustentando que o país tem enfrentado “solidariamente” estas dificuldades. E isso inclui “famílias, empresas, instituições do setor social, autarquias, Estado” – “Estamos a lutar, lado a lado, para não deixar ninguém para trás, para proteger o emprego, para continuar a recuperar das feridas da pandemia, na economia, nas aprendizagens, na saúde, tanto física, como mental”.
Mais perto das “economias mais desenvolvidas”
Para o primeiro-ministro só com “este sentido de comunidade, de partilha, de solidariedade é que temos conseguido continuar a aproximar-nos das economias mais desenvolvidas da Europa” – uma frase que promete encontrar eco na oposição, sobretudo à direita, que tem insistido na ausência de crescimento económico do país, apontando as projeções da Comissão Europeia, que colocam a Roménia a ultrapassar Portugal em termos de pib per capita em 2024.
Uma crítica a que António Costa tem respondido sustentando que o país tem crescido acima da média europeia desde 2015 (com exceção do ano de 2020). “Quando crescemos acima da média europeia, nós aproximamo-nos mesmo dos países mais desenvolvidos, do pelotão da frente”, dizia António Costa, há cerca de um mês. Na mensagem de Natal, o primeiro-ministro voltou também a invocar o “investimento das empresas, as exportações e o emprego a crescerem”.
Já no final, Costa deixou uma palavra de “sincera gratidão aos profissionais, civis e militares, que, nesta quadra, asseguram o funcionamento de serviços essenciais”. E uma “palavra especial de afeto e conforto a todos aqueles que, por vicissitudes da vida, se encontram sozinhos nesta quadra”.
Fora da mensagem natalícia de António Costa ficou qualquer referência ao atual quadro político, no ano em que se dirigiu aos portugueses como líder de um Executivo de maioria absoluta. Com uma referência breve à saúde, outra ausência notória no discurso foi o Serviço Nacional de Saúde. Foi a primeira vez nos últimos quatro anos que o SNS esteve ausente da mensagem natalícia de António Costa, num ano em que os problemas no setor, sobretudo na área da ginecologia/obstetrícia, levaram à saída da ministra da tutela.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Clara Azevedo / GPM / LUSA