A nota informativa, divulgada sobre o acidente com o Elevador da Glória, onde morreram 16 pessoas, veio mostrar que os dois travões que foram acionados, o manual e o automático, não conseguiram imobilizar nem reduzir a velocidade do elevador que atingiu os 60 quilómetros por hora quando embateu contra o prédio do hotel.
Essa é a leitura de Carlos Oliveira Cruz, especialista em planeamento e gestão de transportes, que, em declarações à Renascença, considera que estes primeiros dados, divulgados no sábado à noite, são importantes e abrem caminho a uma investigação mais aprofundada, nomeadamente, sobre o sistema de travagem.
O professor do Instituto Superior Técnico leu a nota divulgada pelo Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários, e concluiu que os travões só funcionam com a ajuda do cabo.
“O relatório o que vem dizer é que de facto eles não foram suficientes para parar a cabina que continuou a ganhar velocidade. E este é que é o ponto porque eu achava, antes de ler o relatório, que estes dois travões tinham capacidade por si de, imobilizarem ou reduzir a aceleração, mas a forma como ele tem sido operado ao longo das últimas décadas, é que, sem o cabo, os travões por si só, quer o pneumático, quer o manual, não têm capacidade de imobilizar as cabines”, conclui o professor Carlos Oliveira Cruz.
Para o docente do Instituto Superior Técnico, esta nota informativa permite ainda colocar um ponto final em muitas especulações sobre a “integridade” do cabo que afinal de contas não rompeu, e a “falha está relacionada com a ligação do cabo à cabina número um”.
“Este sistema, que tem que funcionar numa lógica sincronizada e integral das duas carruagens e do cabo de ligação, deixou de ter essa lógica de funcionamento porque a cabine nº 1 ficou desligada” diz Carlos Oliveira Cruz.
“A cabine nº 1, que ia iniciar a descida e que, com a energia, com o peso da descida, ia tracionar o cabo e, com isso, puxar a nº 2, deixou de conseguir fazer. E isso também ajuda a explicar porque é a cabine que estava nos Restauradores, de repente deixou de subir e voltou para trás e embateu na zona do passeio” explica o professor do IST.
Este relatório, divulgado três dias após o acidente, mostra ainda que a inspeção diária não conseguia detetar qualquer anomalia no sistema.
“Os técnicos responsáveis visturiam o cabo de uma ponta à outra. A ligação do cabo à cabine, que é feita através de uma peça que se chama o trambolho, não é visível a olho nu. Ou seja, o cabo entra dentro desta peça e essa parte interior, onde é feita esta ligação através de uma peça que se chama a pinha, não é visível a olho nu” refere o professor do Instituto Superiro Técnico em declarações à Renascença.
Fonte: www.renascença.pt
Crédito da imagem:Tiago Petinga / Lusa