Pesquisar
Feche esta caixa de pesquisa.

Quem são os favoritos a ganhar a Volta a Portugal? Um guia das equipas nacionais em prova

A Volta a Portugal vai para a estrada na quarta-feira para mais uma edição. Quem são os principais favoritos e quais os objetivos das equipas portuguesas?

A Renascença conversou com os diretores desportivos das nove equipas portuguesas que prometem ser protagonistas na prova de maior importância do ano para o pelotão nacional.

Anicolor-Tien 21 é a favorita e quer defender o título

É praticamente unânime no pelotão nacional que a Anicolor-Tien 21 é a grande favorita a reconquistar a prova. Quase todos os diretores o dizem. Quer pelas individualidades, como pelo coletivo.

Desde o afastamento da W52-FC Porto do pelotão nacional devido a um escândalo de doping que a equipa de Rúben Pereira tem sido a mais dominante. Em 2022, venceram com Mauricio Moreira e voltaram a conquistar no ano passado com Artem Nych.

Para esta época, a equipa que relançou Julius Johansen para o World Tour voltou também a reforçar-se com ciclistas de experiência ao mais alto nível.

O espanhol Rúben Fernández conta com nove grandes voltas no currículo. Esteve nove temporadas no World Tour entre a Movistar e a Cofidis e é um dos principais nomes da equipa.

Também o veterano francês Alexis Guerin é outro dos candidatos. Apesar da carreira relativamente discreta no estrangeiro, venceu o GP Joaquim Agostinho, o Grande Prémio Internacional das Beiras e Serra da Estrela e foi terceiro na geral da Volta às Astúrias, uma prova que teve presença e vitória da poderosa UAE Emirates.

 

Artem Nych conquistou a camisola amarela perto do final e confirmou vitória no contrarrelógio final. Foto: Nuno Veiga/Lusa
Artem Nych conquistou a camisola amarela perto do final e confirmou vitória no contrarrelógio final. Foto: Nuno Veiga/Lusa

Ainda assim, o líder é o mesmo Artem Nych, que vai defender o título. “Desde o início da época que ele foi escolhido como o líder para a Volta, depositamos muita confiança nele, os outros terão naturalmente um papel muito importante e podem ser peças lançadas nas etapas”, assume Rúben Pereira.

Para a Anicolor, vencer etapas está “num plano secundário”. O foco total está em vencer a geral.

Nych, de 30 anos, chega em boa forma. A cumprir a sua quarta época na equipa, o russo conquistou o Grande Prémio Douro Internacional e o Grande Prémio O Jogo, que venceu de forma impressionante com um ataque a solo na última etapa.

Rúben Pereira reconhece que a Anicolor “é uma das favoritas, mas há outras equipas que partilham a mesma responsabilidade”, apontando o dedo para a Efapel, Tavira, reconhecendo curiosidade para perceber o que podem fazer a Petrolike, Israel Premier Tech Academy e Caja Rural.

Um antigo campeão para levar a Efapel à primeira vitória

O projeto da Efapel ainda é relativamente recente, embora o patrocinador tenha estado já presente noutras equipas ao longo dos últimos 15 anos.

José Azevedo, antigo ciclista e diretor desportivo de renome, é o cérebro da atual Efapel. Poderá ser na quarta participação que a equipa consegue vencer a Volta?

Em 2023, Henrique Casimiro foi 6.º, embora tenha entrado para o contrarrelógio final no segundo lugar. No ano passado, foi a vez do porto-riquenho Abner González relançar a carreira em Portugal com a camisola laranja da Efapel. Venceu a Senhora da Graça e ficou no 3.º lugar da classificação geral, regressando a Espanha para a Caja Rural esta temporada.

 

José Azevedo foi quinto classificado numa Volta a França e é agora o diretor desportivo da Efapel. Foto: Pedro Sarmento Costa/Lusa
José Azevedo foi quinto classificado numa Volta a França e é agora o diretor desportivo da Efapel. Foto: Pedro Sarmento Costa/Lusa

 

Em 2025, a Efapel reforçou-se com o uruguaio Mauricio Moreira, vencedor em 2022. É nele que se depositam esperanças: “O nosso objetivo é estar na luta pela vitória, etapas também é sempre um objetivo e vamos tentar agarrar essas oportunidades quando surgirem”, diz José Azevedo.

Apesar do foco estar no antigo campeão, José Azevedo escolhe ainda outros dois corredores que podem surpreender: “O Joaquim Silva é sempre alguém a ter em conta, tal como o Tiago Antunes”.

APHotels & Resorts/Tavira/SC Farense tem um trepador colombiano para atacar a vitória

O Tavira orgulha-se de ser a “equipa de ciclismo profissional mais antiga do mundo em atividade ininterrupta”. Desde 1979 que o Clube de Ciclismo de Tavira compete em Portugal e lá fora.

No entanto, desde 2010 que a equipa não vence a Volta a Portugal e desde 2020 que não conseguem sequer chegar ao pódio. Tudo pode mudar este ano.

Em fevereiro, o diretor desportivo Vidal Fitas recebeu uma chamada com a sugestão de acrescentar o colombiano Jesús David Peña à equipa.

Aos 25 anos, vinha de três temporadas ao mais alto nível na Jayco-AlUla, mas a época tinha arrancado e Peña não tinha equipa. O Tavira aproveitou a oportunidade.

 

Jesus David Peña é mais um ciclista internacional que tenta relançar a carreira em Portugal. Depois de três anos na Jayco-AlUla, Peña é forte candidato a vencer a Volta. Foto: AP Hotels & SC Farense
Jesus David Peña é mais um ciclista internacional que tenta relançar a carreira em Portugal. Depois de três anos na Jayco-AlUla, Peña é forte candidato a vencer a Volta. Foto: AP Hotels & SC Farense

 

Ao longo da época, tem mostrado que é um trepador de excelência à escala portuguesa. Venceu no Montejunto no Troféu Joaquim Agostinho, uma subida que estará também na Volta a Portugal, venceu também na Volta ao Alentejo e destacou-se no Gran Camiño, ao ser 5.º na etapa rainha.

Vidal Fitas tem, no entanto, mais do que uma opção para tentar lutar pela vitória: “Tendo um ciclista desta dimensão, é muito provável que consigamos disputar as etapas de montanha e, se conseguirmos isso, estaremos na luta pela geral quase de certeza. Mas tanto o David Peña como o Afonso Silva têm feito muito e podem estar na luta”.

Afonso Silva, de 25 anos, já celebrou este ano. Foi o vencedor do Grande Prémio Abimota, depois de ter vencido a primeira etapa e ter gerido a vantagem.

Tem sido uma temporada em crescendo. Venceu também a última etapa do Troféu Joaquim Agostinho, foi quarto no Memorial Bruno Neves e ficou em segundo lugar no Grande Prémio O Jogo, que liderou desde a segunda etapa, que venceu. Perdeu apenas para Nych na última etapa.

Credibom/LA Alumínios/Marcos Car vive a “melhor época de sempre”

A equipa de Hernâni Brôco mantém o sonho de vencer uma etapa na Volta a Portugal, algo que ainda não foi alcançado desde o início do projeto.

No ano passado, a 9.ª etapa consumou uma grande reviravolta na corrida com uma vitória de uma fuga que acabaria por dar o triunfo final a Artem Nych.

Nessa mesma fuga estava também Gonçalo Leaça, da Credibom, que chegou a ser virtualmente o camisola amarela e que acabou a prova como o melhor português no quarto lugar.

“Já ninguém se lembra do segundo no próximo ano”. Um dia na Volta a Portugal

A equipa vem da “melhor temporada de sempre”, segundo Brôco. Emanuel Duarte foi o vencedor da Taça de Portugal, venceu uma etapa no Grande Prémio O Jogo e promete ser uma surpresa na Volta a Portugal, vingando a queda no ano passado que o obrigou a abandonar na terceira etapa.

Também o açoriano João Medeiros venceu duas etapas no GP Abimota e uma no GP Douro Internacional, para além de ter terminado os campeonatos nacionais no terceiro lugar – um posto que lhe acabaria retirado por ter recebido ajuda indevida do carro da equipa.

Com um bloco muito jovem, como é imagem de marca da equipa, a equipa tentará “ganhar uma etapa e colocar alguém no top-5”.

“O Emanuel Duarte é o nosso líder, mas o Gonçalo Leaça terá também a sua oportunidade, depende do desenrolar das corridas”, diz o diretor.

Feirense-BEECELER perdeu Eulálio, mas não quer perder protagonismo

A equipa de Santa Maria da Feira mudou de patrocinador e de bicicletas em relação ao ano passado. A Volta a Portugal 2024 foi marcante para a na altura ABTF-Feirense.

O jovem Afonso Eulálio vestiu a camisola amarela durante quase toda a prova, que perderia para Nych. Foi um ano marcante para Eulálio que saltou diretamente do pelotão nacional para a Bahrain-Victorious e para um Giro d’Itália vistoso no apoio a Antonio Tiberi e Damiano Caruso.

Por cá, Diogo Gonçalves fez um dos melhores resultados da época para o Feirense-Beeceler ao ser terceiro nos nacionais, tendo a equipa acumulado outras posições dentro do “top-10” nas provas nacionais.

 

Afonso Eulálio é reforço da Bahrain Victorious

Afonso Eulálio é reforço da Bahrain Victorious

Corredor entra, assim, na primeira divisão do ciclismo mundial.

O líder da equipa voltará a ser o experiente António Carvalho, de 35 anos. É um dos trepadores mais conhecidos do pelotão nacional, tem três etapas da Volta no palmarés e fez pódio em 2022 e 2023.

Joaquim Andrade, diretor do projeto, diz que Carvalho “é sempre uma referência na Volta a Portugal, mas temos uma equipa com alguns homens a despontar que poderão causar surpresas.”

Até ao momento, o melhor resultado de António Carvalho é um 14.º lugar na terceira etapa do GP Abimota. Andrade acredita que “não é fácil fazer melhor, porque em 2024 foi mesmo espetacular”.

“Falhámos só na última etapa em linha, não conseguimos controlar a corrida. Os objetivos serão tentar fazer parecido, mas depende de muita coisa. Queremos uma boa prestação e ser protagonistas na competição”, prevê.

Tavfer-Ovos Matinados-Mortágua lamenta percurso “descompensado”

Vai ser um ano difícil para as equipas que se focam nos “sprinters”. A Tavfer é uma delas. Há dois anos, a equipa dominou o arranque da Volta a Portugal.

Leangel Rubén Linarez venceu a primeira e segunda etapa, enquanto João Matias conquistou a terceira. Ambos mantêm-se na equipa, mas o percurso desta edição é muito mais exigente, sem etapas completamente planas.

 

Esta Volta a Portugal não é para sprinters. "O percurso está descompensado”

Esta Volta a Portugal não é para sprinters. “O percurso está descompensado”

Equipas dedicadas aos velocistas lamentam um percurso desequilibrado, com um aumento das chegadas em alto. Diretores acreditam que “sprinters” puros e(…)

“Acho que esta edição não está nada compensada. Uma volta de dez dias com cinco chegadas em alto e sem contar com Santarém que termina a subir. Tem muitas chegadas para os homens da classificação geral, não para sprinters puros. No meu ponto de vista, está descompensado. Faltam etapas para o pelotão chegar inteiro”, lamenta Gustavo Veloso, diretor da equipa.

O projeto da equipa está todo virado para apoiar os sprinters da equipa. A Tavfer não tem ninguém pensado para a classificação geral. Que objetivos poderá ambicionar a Tavfer?

“O objetivo é discutir etapas, dar visibilidade aos patrocinadores. Se não der para discutir ao sprint, vamos tentar ir para as fugas e procurar outras classificações”, afirma.

Percurso mais duro agrada a Aviludo-Louletano-Loulé

A Volta de 2024 foi muito boa para a Aviludo-Louletano-Loulé. Os dois velocistas argentinos da equipa não vacilaram e conquistaram duas etapas.

German Tivani venceu logo a segunda e Tomas Contte levantou os braços na oitava. Mas o sucesso da Aviludo não se mede só aos sprints, porque a equipa assume também sempre a meta da classificação geral.

Embora reconheçam a menor probabilidade de vitória, a Aviludo tem tentado – e conseguido – colocar o espanhol Jesus del Pino no “top-10”. Na época passada, foi sétimo.

 

Foto: Nuno Veiga/Lusa
Foto: Nuno Veiga/Lusa

Com os mesmos protagonistas, os objetivos são os mesmos, segundo o diretor Américo Silva: “Este ano tivemos uma época bastante mais regular do que a do ano passado. Esse resultado pode ser repetido este ano”.

“O nosso grande objetivo é tentar vencer etapas. Todos os anos temos estado a colocar alguém nos dez primeiros, queremos repetir esse objetivo, mas não escondo que o principal é vencer etapas. O Del Pino fez sétimo no ano passado, no anterior fez décimo. Anda bem na alta montanha”, aponta.

O percurso mais duro não agrada a Tavfer, mas satisfaz a Aviludo porque Américo define Contte e Tivani como “sprinters” mais versáteis

“As etapas são um pouco mais duras do que no ano passado, tem mais uma chegada ao alto no Sameiro. É um percurso duro para os puros sprinters, os nossos são mais versáteis, o Tivani passa muito bem a montanha e o Contte aguenta também a média montanha”, atira.

GI Group Holding-Simoldes-UDO em busca da camisola da montanha

O diretor desportivo Manuel Correia não espera uma Volta a Portugal de grandes facilidades. O melhor resultado da época até ao momento foi um terceiro lugar de Adrián Bustamante no GP Mortágua.

Na época passada, a equipa conseguiu terminar nos dez primeiros em três etapas diferentes. Vencer uma seria o objetivo.

“O principal objetivo é tentar vencer uma etapa ou uma classificação secundária, para além de tentar dar visibilidade aos patrocinadores numa fuga”, explica Manuel Correia.

 

 Foto: Facebook
Foto: Facebook

O dirigente reconhece que “não é possível ambicionar a muito mais”.

“Em termos de classificação geral, não temos nenhum objetivo. Colocar alguém nos dez primeiros seria ótimo, mas não é o nosso foco. É preferível vencer uma etapa a fazer oitavo ou décimo. Vencer a camisola da montanha seria ótimo, a da juventude podemos também tentar com o Andrey Braguini, que foi segundo no ano passado”, termina.

Fonte: www.rr.pt