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Santo António não é só sardinha ou manjericos. Um guia para as festas de Lisboa

Sardinhas, manjericos e marchas populares enchem as ruas de Lisboa no mês de junho, mas poucos são os que sabem que o verdadeiro padroeiro da cidade não é Santo António.

Apesar de ser o santo mais celebrado, esse título pertence a São Vicente. Ainda assim, Lisboa rende-se ao Santo que nela nasceu – e é à sua memória que a cidade se entrega com alegria neste mês de festa.

Celebrada anualmente, a festa de Santo António é mais conhecida por Santos Populares, já que se estende durante o mês, e é neste período que os lisboetas saem para as ruas dos bairros mais emblemáticos da cidade.

Alfama, Graça, Bairro Alto e Bica são alguns dos bairros que se enchem ao final do dia, prolongando a vida pela madrugada dentro, com música típica e muita comida e bebida à mistura.

Embora o início oficial seja em junho, é nos últimos dias de maio que Lisboa se começa a vestir com cores e a enfeitar-se com os vasos de manjericos, frequentemente utilizados como centro de mesa ou oferecidos como presente.

Metro de Lisboa fecha às 20h00 na noite dos Santos Populares

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Enquanto empresa municipal, a EGEAC – Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural – é a entidade responsável pelo “eixo central da programação que se realiza em torno das festas populares”, refere Pedro Moreira, presidente do Conselho de Administração.

Dividido entre quatro momentos do ano, o orçamento é estipulado consoante a agenda programada. Desta forma recorre-se, não só ao orçamento e receitas próprias, mas também à colaboração e à celebração de parcerias com diversas entidades e patrocinadores que auxiliem a engrenem receitas e financiamentos para o desenvolvimento de um tão vasto leque de iniciativas”, diz Pedro Moreira à Renascença.

Para as festas de 2025, a Câmara de Lisboa atribuiu às coletividades e associações que organizam, um subsídio de apoio com o valor que ronda e ultrapassa os 2 milhões de euros.

“O incremento foi muito significativo, porque há uma aposta decisiva do presidente Carlos Moedas em dar condições para que as associações e as coletividades da cidade, que importa preservar e salvaguardar, possam ter a capacidade de desenvolver a sua atividade de forma mais enriquecida”, acrescenta o presidente da EGEAC.

Apesar do extenso período de festa, pode-se afirmar que o foco central do mês incide no dia 12 de junho, com os casamentos do Santo António e as Marchas populares. O presidente da EGEAC diz que “este é mesmo o dia mais longo do ano”.

Marchas: de Marvila a Alcântara

Como manda a tradição, as marchas populares vão desfilar na Avenida da Liberdade, contudo, apesar de muitos não saberem, já se estrearam.

O concurso das Marchas Populares tem início com a sua apresentação na Meo Arena, e só depois é que ocorre o desfile, naquela que é uma das principais avenidas da cidade, na noite de dia 12.

São 23 marchas no total, mas há sempre um convidado especial que, decorrente do intercâmbio cultural que se realiza com Macau, permite a participação de um agrupamento que virá dessa região, bem como a participação de agrupamentos de Lisboa em atividades culturais que se realizem em Macau.

Anualmente, é realizado um sorteio para definir o alinhamento das marchas, quer para a exibição na Meo Arena, quer para a Avenida da Liberdade.

Este ano, as marchas abrem com o agrupamento especial de Macau – Macau Street Dance -, seguida da marcha infantil das escolas de Lisboa – a tradicional marcha infantil da Voz do Operário -, a marcha dos Mercados e a da Santa Casa.

A partir daqui será “competição pura e dura” com as marchas em concurso: a primeira é a de Marvila, seguida da marcha do Bairro da Boavista, da Graça, do Castelo, de Alfama, de Carnide, a marcha de Benfica, a de Bela Flor Campolide, a de Madragoa, Alto da Pina, Beato, São Vicente, Penha de França, Olivais, Bica, Mouraria, Lumiar, Bairro Alto e, para terminar, a marcha de Alcântara.

Marchas populares vão encher a Avenida de música, dança e cor. Foto: António Cotrim/Lusa
Marchas populares vão encher a Avenida de música, dança e cor. Foto: António Cotrim/Lusa

Das Marchas aos arraiais

São os “vários arraiais que se organizam ao longo das várias ruas e ruelas da própria cidade de Lisboa, que vêm abrilhantar e criar uma dinâmica singular às ruas, fazendo com que Lisboa se distinga “das outras cidades europeias e até mundiais”, comenta Pedro Moreira.

Entre 28 de maio e 18 de junho, o arraial de Santo António acontece na Praça da Alegria.

O arraial dos Navegantes, no Parque das Nações, ocorre nos dias 6, 7 e 8 de junho, junto à Igreja da Nossa Senhora dos Navegantes. Nas ruas de Arroios, a festa é feita entre 6 e 12 de junho.

Belém, recebe o arraial entre 30 de maio e 15 de junho, no Parque dos Moinhos de Santana. Seguem-se o arraial da Vila Berta, na Graça, até 12 de junho e os Santos à Campolide, até 14 de junho, na Rua de Campolide (Quinta do Zé Pinto).

É entre 7 a 12 de junho que a rua da Penha de França se vai encher, seguindo-se do arraial no Paço do Lumiar, entre 7 a 21 de junho. É entre os dias 12 a 14, que o Complexo Desportivo Municipal de São João de Brito, em Alvalade, se enche de música.

Os santos também acontecem em Santos, no Terrapleno de Santos, até 15 de junho, bem como o Grande arraial Avenidas Novas, na Praça do Campo Pequeno. Já no Largo da Rosa, o arraial da Mouraria está de regresso entre 31 de maio e 21 de junho, mas é até 28 de junho, na rua Neves Costa que vai acontecer o arraial de Carnide.

Entre 20 e 23 deste mês de festa, as celebrações serão na Alameda Padre Álvaro Proença, em Benfica.

Nas ruas de Alfama, da Bica e no Miradouro de São Pedro de Alcântara (Bairro Alto), a música é o mês todo.

Foto: João Relvas/Lusa
Foto: João Relvas / Lusa

Casamentos de Santo António

Um dos pontos altos é a clássica iniciativa dos casamentos de Santo António, também a acontecer no dia 12.

“Os preparativos à despedida de solteiro já estão a desenvolver-se para terem, então, o seu clímax também nesse dia, nessa noite mágica da cidade de Lisboa”, esclarece Pedro Moreira.

No início de cada ano é aberto um concurso, no qual os casais que pretendem ser noivos de Santo António concorrem, mediante o preenchimento de um formulário que conta com várias premissas, como a obrigatoriedade de um dos noivos ter que residir em Lisboa e terem a intenção de aqui virem a morar. Depois, existe uma seleção, que tem como base um conjunto de fatores que vai permitir que sejam selecionados os 16 casais. Deste número é ainda considerado os casais que pretendem casar pelo civil e os que pretendem casar pelo religioso.

Programação diversa e multicultural

Apesar dos casamentos e das marchas serem os eventos com “maior visibilidade, existem depois um vasto leque de iniciativas, algumas delas que são transversais à própria cultura que se concretiza na cidade de Lisboa – que vai desde o teatro, a música nas suas várias vertentes “, diz Pedro Moreira, ao realçar que a entidade não se singe apenas a estes dois projetos.

Com uma programação que abraça desde a Feira do Livro ao Desporto, a passar pelo cinema, de forma a abranger um maior número de públicos, “as festas são festas de e para todos”, diz o presidente da EGEAC.

“Já não é só a vertente cultural que hoje em dia compõe este vasto programa da cidade de Lisboa e das festas de Lisboa”, confirma o presidente. No domingo passado, dia 8 de junho, na zona ribeirinha de Belém houve a corrida de Santo António, que já é uma tradição, mas que este ano bateu os recordes, atingindo mais de seis mil inscritos.

Santos Populares. Saiba que ruas vão estar cortadas ao trânsito em Lisboa

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Haverá ainda a possibilidade, “de uma vez mais, dialogar com o rio Tejo, através de uma associação que realizamos com a Marinha do Tejo e que irá possibilitar a todos os lisboetas e a quem visita a cidade, vislumbrar no rio Tejo as embarcações típicas que ao longo do tempo tiveram um papel de relevo no abastecimento da própria cidade”, explica.

A integração do Europride nas “próprias festividades de Lisboa”, será uma vertente de diversidade inerente, bem como o regresso do “Cine Conchas”, no Parque das Conchas, que marca os últimos dias do mês e os primeiros do mês de julho.

Acresce, ainda, um conjunto de ações de âmbito intercultural e multicultural, que se tem vindo a associar às festividades da cidade nos últimos anos.

“Vamos ter a festa da Tailândia, vamos ter a festa da Coreia, vamos ter a festa do Japão, e que este ano ganham um especial enfoque decorrente da Exposição Mundial do Osaka”, partilha Pedro Moreira. Além disto, faz ainda parte da programação a festa Holi, da Índia.

Da programação dos dias 28 e 29 de junho, e entre muitos convidados, fazem parte os D.A.M.A, o Roger Romero, o Buba Espinho e a Bárbara Bandeira, que irá atuar com a Orquestra Sinfónica da GNR.

As festas vão ter o seu clímax através de dois grandes espetáculos que “uma vez mais, no Terreiro do Paço, fecharão aquilo a que nós designamos do Programa das Festas de Lisboa”, assegura Pedro Moreira.

As festas de Lisboa atraem cada vez mais turistas. mas o eixo base serão sempre os lisboetas e os portugueses. Afinal, já designado por Carlos Moedas, os Santos Populares de 2025 são a “alma de Lisboa”.

Fonte: www.rr.pt

Crédito da imagem: José Frade / EGEAC