Foi já quase no final do discurso perante as duas câmaras do Congresso – numa espécie de Estado da Nação – que surgiu a guerra na Ucrânia, com Donald Trump a afirmar estar a trabalhar “incansavelmente” para acabar com a guerra.
“Milhões de ucranianos e russos foram mortos ou feridos desnecessariamente neste conflito horrível e brutal, sem fim à vista”, disse. “Os EUA enviaram centenas de milhares de milhões de dólares para apoiar a defesa da Ucrânia, sem segurança, sem nada.”
O presidente dos EUA revela ter recebido esta terça-feira uma carta do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na qual este se declara disposto a regressar “à mesa das negociações o mais rapidamente possível para aproximar a paz duradoura”.
Trump elogia esta atitude e disse estar agradecido pela carta, mas acrescentou: “Simultaneamente, tivemos discussões sérias com a Rússia e recebemos fortes sinais de que estão prontos para a paz”. .
Ou seja, não apenas não se concretizou a possibilidade, que chegou a ser noticiada esta terça-feira, do anúncio da assinatura de um acordo de exploração de minerais entre os EUA e a Ucrânia como Trump fez questão de trazer a Rússia para a equação no seu discurso.
“Neste processo é preciso falar com todas as partes”, disse.
A única ocasião em que falou do acordo dos minerais foi para citar parte da carta que Zelensky lhe escreveu e que aborda o assunto:
“Nós realmente valorizamos o quanto a América fez para ajudar a Ucrânia a manter a sua soberania e independência. Em relação ao acordo sobre minerais e segurança, a Ucrânia está pronta para assiná-lo a qualquer momento que seja conveniente”, leu Trump.
Contudo, o conteúdo da alegada carta de Zelensky é o mesmo que o líder ucraniano escreveu horas antes numa publicação nas suas redes sociais.
“Estamos a tirar o wokismo das nossas escolas e das nossas Forças Armadas”
Mais de meia hora depois de ter elogiado a medida da sua administração de ter determinado que “só há dois géneros na América”, e de ter referido a legislação que visa impedir que atletas transgénero compitam em modalidades que não seja no sexo em que foram registados à nascença, Donald Trump regressa ao Tema.
“Estamos a tirar o ‘wokismo’ das nossas escolas e das nossas Forças Armadas”, afirmou o presidente dos EUA. “Não queremos isso. O ‘wokismo’ é um problema. Ser ‘woke’ é mau”.
Trump acrescenta que assinou uma ordem executiva que proíbe as escolas públicas de “doutrinar” crianças com “ideologia transgénero” e que pretende que o Congresso aprove um projeto de lei que proíba e criminalize a mudança de sexo em crianças.
Acrescenta que assinou uma ordem executiva que ameaça reter o financiamento federal de hospitais que oferecem cuidados de “afirmação de género” a indivíduos com menos de 19 anos.
“Nós somos perfeitos como Deus nos fez”, concluiu.
Presidente dos EUA defende política das taxas aduaneiras
Durante o seu discurso, Donald Trump voltou a defender a sua política das taxas aduaneiras, afirmando que nos últimos anos o seu país tem sido “pilhado” pelo facto de os produtos fabricados nos EUA estarem sujeitos a estas tarifas quando entram em mercados como “a União Europeia, o Canadá, a China, a Índia ou o Brasil” mas produtos destes países não são igualmente taxados.
Trump voltou a referir a ideia da reciprocidade direta: “Se eles subirem as taxas, nós subiremos na mesma proporção”.
O presidente dos EUA admitiu que estas medidas poderão causar “perturbações” e que terá de haver “um período de adaptação”, mas voltou a garantir (contra as opiniões da maioria dos especialistas) que este é o caminho para “fazer a América rica outra vez”.
Trump diz ter reduzido o número de novos imigrantes ilegais para o menor valor de sempre
Entre os vários sucessos da sua curta administração, o presidente dos EUA afirma que conseguiu reduzir o número de atravessamentos ilegais da fronteira Sul dos EUA para “o valor mais baixo de sempre”.
“Os democratas dizem que era preciso uma nova lei, afinal só era preciso um novo presidente”, rematou Donald Trump.
Trump agradece a Elon Musk e diz que “toda a gente” naquela casa adora o DOGE
O presidente norte-americano entra numa fase de elogios ao novo Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla inglesa) cuja gestão está entregue ao multimilionário Elon Musk.
“Para combater ainda mais a inflação, reduziremos o custo da energia, mas também acabaremos com o desperdício flagrante de dinheiro dos contribuintes”, disse Trump.
Musk assiste ao discurso na galeria e levantou-se quando foi muito aplaudido pelos republicanos. “Obrigado, Elon”, disse Trump. “Ele está a trabalhar muito. E não precisava nada disto”, acrescentou.
Quanto o DOGE, disse ainda o presidente dos EUA, “yodos aqui, até mesmo deste lado” – e apontou para os democratas – “apreciam-no, estou crente. Simplesmente não o querem admitir.”
“A América está de volta”
O presidente norte-americano, Donald Trump, iniciou a sua intervenção com as palavras: “A América está de volta.
Trump prosseguiu com um resumo das suas medidas das últimas semanas, auto elogiando estas decisões.
“Há seis semanas, estava sob a cúpula deste Capitólio e proclamei o ‘amanhecer da era de ouro da América’, disse, “A partir desse momento, o que aconteceu foi uma ação rápida e implacável para inaugurar a maior e mais bem-sucedida era da história do nosso país”, afirmou.
Assim começou a referir elevados números de aprovação para estas medidas, o congressista democrata eleito pelo Texas Al Green interrompeu o discurso com palavras de protesto.
O lado republicano ainda tentou calar Green com gritos de “USA, USA”, mas foi escusado.
Segundo a imprensa internacional, Green gritou várias vezes a Trump: “Você não tem um mandato”.
O que espoletou a reação do democrata foi a frase de Trump: “Vencemos o voto popular com a maior diferença alguma vez vista”. Na realidade, o presidente dos EUA venceu por cerca de 1,5 milhões de votos, a diferença mais pequena desde Richard Nixon em 1968, escreve o The Guardian.
O presidente da Câmara dos Representantes, Mike Johnson, avisou Al Green uma vez para regressar ao seu lugar para que o discurso pudesse ser retomado mas, uma vez que o congressista não se calou, mandou ser expulso da sala.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Kevin Lamarque / REUTERS