Realizou-se esta quarta-feira a cerimónia, após cortejo fúnebre, de trasladação de Eça de Queiroz para o Panteão Nacional de Santa Engrácia, em Lisboa, que teve a presença do chefe de Estado, o presidente da Assembleia da República, o primeiro-ministro e o presidente da Fundação Eça de Queiroz, entre outros.
Panteão é “um lugar dos imortais”, destaca Marcelo
Recordando uma frase associada ao terramoto de Lisboa, o Presidente da República afirmou: “Não é suficiente enterrar os mortos e cuidar dos vivos. Precisamos também de cuidar dos mortos, mesmo quando continuam vivos”.
“E quantos escritores portugueses estão tão vivos como Eça de Queiroz?”, questionou Marcelo Rebelo de Sousa, dando alguns exemplos como Gil Vicente, Camões e Camilo Castelo Branco.
Panteão é “um lugar dos imortais”, afirmou o chefe de Estado.
“A maior homenagem a Eça será, sem dúvida, reeditá-lo, estudá-lo e, acima de tudo, lê-lo. Mas há atos de justiça, evidentes, como esta trasladação, mesmo não conhecendo as vontades do escritor sobre a matéria”, destacou.
“Como tive a oportunidade de dizer recentemente, a propósito de Camões, nunca haverá uma maneira certa de comemorar Eça, porque todas as comemorações ficam aquém, são, de algum modo, desajustadas (…)”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa.
Para o Presidente da República, “as verdadeiras homenagens são feitas pelos milhões de leitores de Eça”, referindo que “temos de cuidar da obra” do escritor.
O escritor português Eça de Queiroz
Aguiar-Branco: “É, mais do que qualquer outro, o escritor que nos descobre os vícios”
“Há críticas que só aceitamos quando são feitas pelos nossos. Há verdades que só os mais próximos nos podem dizer. Eça de Queiroz conquistou na cultura portuguesa esse estatuto”, começou por dizer o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco.
“É, mais do que qualquer outro, o escritor que nos descobre os vícios, o que nos denuncia, o que brinca, mesmo à distância do tempo, com os nosso defeitos coletivos”, afirmou Aguiar-Branco.
Para o presidente das Assembleia da República, Eça de Queiroz foi sobretudo um reformista com uma capacidade única de olhar o país, através de uma “escrita elegante e culta e de uma deliciosa ironia”.
Eça de Queiroz “foi um escritor, um grande escritor, mas foi muito mais do que um escritor. Foi, numa palavra, um reformista. E, naqueles tempos, reformista era insulto. Hoje, para uns tantos, não será muito diferente”, declarou o presidente do parlamento.
No seu discurso, José Pedro Aguiar-Branco começou por salientar a atualidade de Eça de Queiroz, assinalando que fala “de elites fascinadas com o estrangeiro e tantas vezes desligadas das vivências nacionais, de burgueses citadinos deslumbrados com o materialismo, de gente simples em serras abandonadas pelos círculos do poder, de jovens decididos a revolucionar o mundo que caem na resignação e no cinismo”.
“Fala-nos de burocracias que desesperam até os mais pacientes, e de políticos — imaginem – que lidam mal com as farpas da imprensa. Fala-nos de tudo isto e nós revemos tantas vezes na sua prosa os traços do nosso país, diferente em muitas coisas e parecido em tantas outras. Atrás de uma escrita elegante e culta e de uma deliciosa ironia, está uma capacidade única de olhar o país. Única e desapaixonada”, sustentou o antigo ministro social-democrata.
Trineto de Eça de Queiroz discursa no Panteão
Afonso Reis, trineto de Eça de Queiroz: “Serem hoje atribuídas honras de Panteão Nacional a Eça de Quiroz traduz 150 anos de centenas de milhares de leitores cujas vidas a obra queirosiana marcou de formas intimas que ninguém pode verdadeiramente conhecer. Após anos, Baião generosamente devolveu Eça de Queiroz à Lisboa que o amou e o criticou.”
Fonte: Diário de Notícias / Portugal