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Os momentos-chave do caos político instalado na Coreia do Sul

A Coreia do Sul mergulhou subitamente no caos político depois de o Presidente Yoon Suk-yeol ter imposto a lei marcial na terça-feira.

Yoon revogou a lei marcial alguma horas depois, na sequência de uma votação dos deputados que desafiaram a invasão do parlamento de Seul por soldados armados.

O presidente enfrenta agora uma moção de destituição, uma greve geral e manifestações de protesto.

Perceba o desenrolar dos acontecimentos desde terça-feira à noite, num apanhado dos momentos-chave feito pela agência francesa AFP.

Rumores de conspiração

Alguns deputados da oposição acusavam Yoon Suk-yeol de excessos autoritários desde há algum tempo.

Em setembro, um desses deputados, Kim Min-seok, afirmou que o Presidente estava a preparar uma conspiração depois de ter nomeado aliados e antigos colegas de turma para postos-chave da segurança nacional.

Na terça-feira à noite, começaram a circular rumores nos meios de comunicação social de que o chefe de Estado iria fazer um anúncio surpreendente.

Discurso surpresa anuncia lei marcial

Às 22:24 de terça-feira (menos nove horas em Lisboa em Lisboa), Yoon Suk-yeol apareceu em direto na televisão.

“Para proteger a Coreia do Sul liberal das ameaças das forças comunistas norte-coreanas e eliminar os elementos hostis ao Estado (…) declaro a lei marcial de emergência”, anunciou, para surpresa geral.

“A nossa Assembleia Nacional tornou-se um refúgio de criminosos, um antro de ditadura legislativa”, afirmou o Presidente, que desde que foi eleito, em 2022, nunca teve uma maioria no parlamento.

Imediatamente após este discurso, o líder da oposição, Lee Jae-myung, surgiu num vídeo a dirigir-se para o parlamento, e a apelar aos deputados e à população para se lhe juntarem.

Foi convocada uma sessão parlamentar de emergência.

Soldados no Parlamento

Enquanto os deputados tentavam entrar na Assembleia Nacional, helicópteros lançaram efetivos das forças especiais no recinto parlamentar. Outros soldados escalaram as vedações do edifício e partiram janelas.

Mas rapidamente se depararam com a resistência dos funcionários, que agarraram em móveis e em tudo o que puderam para barricar as entradas e impedir que as tropas entrassem no hemiciclo.

No exterior do parlamento, milhares de manifestantes pacíficos exigiram o levantamento da lei marcial e a demissão do Presidente.

Os Estados Unidos, um dos principais aliados da Coreia do sul, manifestaram “grande preocupação” pela situação.

O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, anunciou que estava a acompanhar a situação no país vizinho com “excecional e séria preocupação”.

Votação dos deputados

Apesar de a polícia e o exército terem cercado o edifício, 190 dos 300 deputados conseguiram entrar no parlamento, nalguns casos depois de terem escalado a vedação.

A sessão de emergência começou cerca da uma da manhã (hora local). Por unanimidade, e enquanto os soldados tentavam forçar a entrada no hemiciclo, os deputados aprovaram uma moção sobre o levantamento da lei marcial.

A Constituição sul-coreana obriga o Presidente a acatar o pedido do parlamento para revogar a lei marcial.

A reviravolta

Cerca das 04:40 de hoje, Yoon Suk-yeol fez um novo discurso na televisão.

“Vamos dar seguimento ao pedido da Assembleia Nacional e levantar a lei marcial”, anunciou, acrescentando que as tropas se iriam retirar do parlamento.

Queixa, greve, manifestação

A Confederação Coreana dos Sindicatos, com 1,2 milhões de membros, apelou hoje de manhã para uma greve geral ilimitada até à demissão de Yoon, descrevendo a tentativa de impor a lei marcial como “uma medida irracional e antidemocrática”.

O Partido Democrático, principal força da oposição, anunciou a apresentação de uma queixa contra o Presidente por rebelião.

Também o líder do partido no poder, Han Dong-hoon, exigiu publicamente explicações a Yoon.

“O Presidente deve explicar imediatamente e em pormenor esta situação trágica”, declarou Han na televisão.

Han disse também que “todos os responsáveis terão de prestar contas”.

Ao fim da tarde de hoje (hora local), milhares de manifestantes reuniram-se na praça central de Seul, Gwanghwamun, com a intenção de marchar até à Assembleia Nacional para exigir a demissão de Yoon.

Moção de destituição

Os seis partidos da oposição representados no Parlamento anunciaram a apresentação de uma moção para destituir Yoon, que será submetida a votação antes do final da semana.

Para ser adotada, a moção necessita de dois terços dos votos.

A oposição, que conta com 192 deputados em 300, só precisará de um pequeno número de deserções do campo presidencial para conseguir destituir Yoon.

Demissões

Ao início da noite de hoje (hora local), enquanto Yoon ainda não tinha aparecido em público, o seu ministro da Defesa, Kim Yong-hyun, anunciou que tinha apresentado a demissão.

Durante a manhã, o chefe de Gabinete do Presidente e vários conselheiros importantes anunciaram que se tinham demitido.

Silêncio a Norte

Desconhecem-se até agora quaisquer reações na Coreia do Norte à crise política no vizinho do Sul.

Fonte: Diário de Notícias / Portugal

Crédito da imagem: Han Myung-Gu / EPA