A Assembleia da República de Portugal assinalou os 49 anos do 25 de Novembro com uma sessão solene realizada esta segunda-feira no Palácio de São Bento, em Lisboa, com discursos dos representantes dos partidos políticos.
André Ventura, do Chega, declarou que, em 1975, havia “ocupação de terras, destruição de empresas” e “medo da guerra civil”.
Considerando que o país estava “sem rei nem roque” e “caminhava para uma ditadura soviética”, atirou: “Sem esquecermos o 25 de Abril, este é o verdadeiro dia da liberdade”.
O deputado citou por duas vezes o general Ramalho Eanes, presente na cerimónia: primeiro para concordar que “Abril ofereceu-nos a liberdade, mas esqueceu-se de criar cidadãos”; depois, para referir que a democracia portuguesa está limitada às “elites”.
“Tanta razão”, afirmou Ventura. Os deputados do Chega viraram-se para Eanes e aplaudiram-no de pé, e o general manteve-se impassível.
O líder do partido falou ainda de “novas ameaças”, como a “imigração descontrolada”, a violência nos bairros periféricos de Lisboa e Porto ou a “corrupção que Abril criou”. Alguns deputados do PS saíram da sala durante o discurso.
Vários parlamentares de Esquerda, entre eles Pedro Nuno Santos, usaram cravos ao peito. O PCP, recorde-se, recusou estar presente, com o BE a fazer-se representar por apenas uma deputada.
Rui Rocha, da IL, procurou responder aos que dizem que o 25 de Novembro não é uma data “consensual”: concordou com eles para lembrar que Ramalho Eanes e Mário Soares, dois protagonistas desse acontecimento, “não procuraram consensos com quem não defendia a liberdade”.
O liberal descreveu esse dia como “a derrota dos totalitários” e um “momento decisivo para a afirmação da democracia”.
Rui Rocha lembrou os tempos de “perseguições políticas, prisões arbitrárias, censura” ou “agressão à propriedade”, argumentando que, em 1975, o país estava perto de uma “nova ditadura instalada”.
Fazendo a ponte para o presente, acusou tanto a Esquerda como o Chega (sem nomear) de “derivas totalitárias” – os primeiros por promoverem o “wokismo”, os segundos devido a “nacionalismos exacerbados” e “protecionismos” na economia.
Joana Mortágua, do BE, descreveu a sessão solene como um “disparate” ao qual a Esquerda porá fim quando tiver maioria. Considerou que esta comemoração é uma “manobra dos derrotados de Abril”, que acusou de quererem “esvaziar” o “conteúdo revolucionário e popular” desse processo.
A bloquista realçou que o direito ao voto ou o pluralismo partidário “nasceu com o 25 de Abril” e não com Novembro. Acusou a Direita de “inventar um passado alternativo” e uma “lenda”, criticando a “deplorável disponibilidade do PSD para ceder às extremas-direitas”.
Filipa Pinto, do Livre, sustentou que a guerra civil foi evitada “não pela mão dos herdeiros do fascismo” mas sim por “quem nos trouxe a liberdade”.
Garantindo que tem “respeito” pelo 25 de Novembro, acusou a Direita de “usurpação e aproveitamento” desta data, afirmando que os partidos em causa vão contra a “verdade histórica” e a “importância fundadora” do 25 de Abril.
A parlamentar do Livre lembrou que não foi o 25 de Novembro que garantiu o voto universal, uma vez que este já tinha sido assegurado logo em novembro 1974.
Lembrando que 25 de novembro é, também, o Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres, Filipa Pinto recordou que, só este ano, já morreram 25 mulheres às mãos dos maridos e companheiros. Recebeu palmas da bancada do PS.
Paulo Núncio, do CDS, considerou que, no período entre o 25 de Abril de 1974 e o 25 de Novembro de 1975, “o PCP, a extrema-esquerda e os seus braços armados” tentaram “apropriar-se” da Revolução.
“Com o 25 de Abril ganhámos a liberdade, com o 25 de Novembro evitámos que a liberdade se perdesse”, referiu.
Fonte: Jornal de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Assembleia de República / Portugal