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Rafa Nadal terá sempre Paris. O adeus do El Toro, batido pela dor e a idade

Vencedor de 22 títulos do Grand Slam, Rafael Nadal, conhecido como El Toro de Maiorca vai retirar-se do ténis mundial. “Na vida, tudo tem um início e um fim e chegou o momento de meter um fim na carreira, que foi longa e bem coroada de sucesso”.

Foi desta forma que o espanhol, de 38 anos, anunciou ontem o adeus através de um vídeo publicado nas suas redes sociais, em que se confessou “entusiasmado” por poder despedir-se no seu país, em Málaga, durante as finais da Taça Davis, de 19 a 24 de novembro.

“Na realidade têm sido anos difíceis, em especial os dois últimos. Penso que não fui capaz de jogar sem limitações. É uma decisão que é evidentemente difícil”, atirou Nadal, que não joga desde que foi eliminado na segunda ronda dos Jogos Olímpicos Paris 2024, frente ao sérvio Novak Djokovic.

Antes tinha perdido na final do torneio de Bastad, na Suécia, frente ao português Nuno Borges. “Ser o último a defrontar o Nadal no circuito ATP foi e é uma honra para mim. E será certamente mais importante para mim do que será para ele. Eu venci e ergui o meu primeiro torneio ATP. Durante o torneio pensei várias vezes, ‘caramba, estou mesmo a disputar um troféu com o Nadal?’. Estava”, lembrou o tenista maiato ao DN, recordando o lado “cordial e respeitoso” que Nadal tinha até com os adversários.

Embora fosse expectável que fosse abandonar mais cedo ou mais tarde, a notícia do adeus de “um dos melhores de sempre” surpreende sempre, segundo Nuno Borges, que embora tivesse Roger Federer como ídolo, cresceu a ver jogar o espanhol a tornar-se “o rei da terra batida” e a ser “imagem de trabalho duro e desportivismo”.

Nadal é o segundo dos big 3 do ténis mundial nos últimos anos a retirar-se, depois de o suíço Roger Federer em 2022. Novak Djokovic ainda resiste aos 37 anos. Para o melhor português de sempre, João Sousa, que privou e treinou muitas vezes com o espanhol, ontem foi “um dia triste” para a modalidade.

“O Rafa ajudou-me no início da minha carreira, com algumas conversas sobre ténis e por isso é uma pessoa que admiro muitíssimo, não só como tenista, mas como pessoa. A sua humildade e respeito para com todos, fosse número um do mundo ou 1000 do ranking, estava sempre presente”, disse o português, que também se retirou este ano da modalidade.

Lenda teve início em Paris

Jeu-set-match. (jogo, set, vitória). Foi assim e repetidamente durante 14 anos no court central de Roland Garros. Rafael Nadal tinha 19 anos quando venceu o primeiro dos seus 22 Grand Slam, em Paris, em 2005, ano em que começou a desafiar o reinado de Roger Federer e se tornou ele no rei da terra batida. Três anos depois, o espanhol chegou a número 1 mundial e lideraria o ranking ATP durante 209 semanas.

Bronzeado por natureza, não fosse ele um maiorquino nascido em Manacor, de cabelo comprido, quebrou tabus e rompeu códigos da indumentária rígida do ténis com a sua camisola sem mangas, a expor os exuberantes bíceps, que serviam também de alerta para a força da pancada.

E foi assim, vitória, atrás de vitória, que o maiorquino cerrou os dentes aos mais fortes adversários e segurou o lugar entre a elite do ténis mundial. Primeiro treinado pelo tio Toni (Nadal), depois por um antigo n.º1 Carlos Moya.

E até os maiores dos maiores se curvaram perante El Toro, como ficou conhecido no circuito e cujo símbolo usou como imagem de marca.

Ontem, depois de saber do adeus do amigo, Roger Federer disse que foi uma “honra absoluta” ter partilhado o court com Nadal: “Que carreira, Rafa. Sempre esperei que este dia não chegasse. Obrigado pelas memórias inesquecíveis e por todas as tuas conquistas no desporto que amamos. Foi uma honra absoluta.”

“Hiperativo”, “confiante” e “fisicamente forte e bem constituído”, o tempo tornaria-o vítima da própria força. Nos últimos anos a dor passou a ser uma companhia inseparável. As agulhas, os bisturis, os anti-inflamatórios e as infiltrações passaram a ser tão vitais quanto as vitaminas e o ar para respirar. Tornou-se mestre da revitalização, graças ao irredutível espírito de sacrifício.

A conquista do último Grand Slam, Roland Garros, em 2022, foi o exemplo máximo dessa superação constante e obteve por isso o reconhecimento do torneio francês: “14 obrigados pelos milhões de memórias.”

Por isso Nadal terá sempre Paris – a frase marcante do filme Casablanca, dita por Rick (Humphrey Bogart) a Ilsa (Ingrid Bergman), no momento em que se despedem.

Desde então lutou para evitar o adeus, mas deixou de ser competitivo e optou pela saída com as cores de Espanha. Respeitado e reconhecido por todos, chegou a ser criticado pela humildade nos bastidores do circuito ATP, que ontem se despediu dele reconhecendo que “os courts nunca mais vão ser iguais”.

Também o Comité Olímpico Internacional se despediu da “lenda dos courts” que teve numa “carreira incrível”, que “inspirou muitos” e se despediu com dois títulos Olímpicos.

Futuro no golfe e no mar

O golfe é o que mais o apaixona depois do ténis e pode ser um caminho a seguir na reforma dos courts – já é campeão das Ilhas Baleares na categoria amador -, “e se tivesse um ídolo provavelmente seria Tiger Woods”.

Mas Nadal também adora futebol e raramente perde um jogo do Real Madrid, tendo-se tornado amigo de Cristiano Ronaldo, com quem partilha negócios na área da restauração.

“Rafa, que carreira incrível tiveste. A tua dedicação, paixão e incrível talento inspiraram milhões em todo o mundo. Foi uma honra ser testemunha da tua trajetória e poder chamar-te amigo. Parabéns por uma carreira assombrosa. Desfruta da tua retirada”, reagiu CR7.

O pai Sebastià e o seu agente, Carlos Costa, estão por trás de toda a estratégia económica do tenista, que há algum tempo vem fortalecendo o lado empresarial. O tenista é um dos investidores da Mabel Capital, que comprou os prédios do emblemático quarteirão da Pastelaria Suíça, junto à praça do Rossio, em Lisboa, por 62 milhões de euros.

Através da holding Aspemir investe em mais de uma dezena de empresas nas áreas do turismo, lazer, habitação de luxo, audiovisuais ou energias renováveis, além da Academia Nadal que abriu em 2016 em Manacor e que já tem uma sucursal no Kuwait, liderada pelo antigo tenista português Nuno Marques.

Nadal cresceu no seio de uma família abastada de Maiorca, amante do mar e é um entusiasta da vela e dos barcos. E é coproprietário de uma equipa de barcos elétricos, que vai participar no Mundial E1, com um catamarã avaliado em cinco milhões, e defensor do projeto E1 Blue Action Programme, projetado para restaurar os ecossistemas marinhos ao longo das orlas das cidades das oito etapas programadas da competição e que é liderado pelo renomado ecologista marinho português Carlos Duarte.

“Rafa simboliza o espírito desportivo de elite e resiliência. Sei que o Rafa compartilha da minha paixão e compromisso com a conservação marinha e estou ansioso para ter o seu apoio nesta importante jornada de restauração dos ecossistemas marinhos em grande escala”, disse o também professor universitário quando assinou parceria com o agora mais recente reformado do ténis mundial.

Fonte: Diário de Notícias / Portugal

Crédito das imagens: EPA