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Gulbenkian. Mais luz e mais jardim no novo Centro de Arte Moderna

O terreno é o mesmo, mas quase tudo é novo no Centro de Arte Moderna que a Fundação Calouste Gulbenkian se prepara para inaugurar em ambiente de grande festa, no fim-de-semana de 21 e 22 de Setembro.

Mais luz natural, mais jardim, mais sustentabilidade, mas também muito mais arte são os lemas deste novo/velho edifício, que encerrara para obras em 2020.

Tudo sob a “proteção” da maior novidade do espaço: a gigantesca Engawa, elemento da arquitetura tradicional japonesa que se propõe estabelecer uma ligação harmoniosa entre o espaço interior, mais íntimo, e o exterior, mais mundano. Sem dúvida, um traço de autoria do arquiteto japonês, Kengo Kuma, responsável pelo projeto.

A esta nova identidade arquitetónica corresponde também um aumento significativa da área expositiva (com reforço anti-sísmico da estrutura) – cerca de 900 m2 – e toda uma nova área de jardim, que permite ligar a Rua Marquês de Fronteira à Avenida de Berna.
Esta nova parcela resulta da aquisição de dois hectares de jardim contíguos ao Parque desenhado, na década de 1960, por Gonçalo Ribeiro Telles e António Viana Barreto, em que o arquiteto paisagista Vladimir Djurovic se inspirou para esta nova intervenção.
Como nos explica Paula Corte-Real, que também trabalhou no projeto, “a prioridade foi dada à sustentabilidade ambiental e ao respeito pelos ciclos da Natureza.”
Foram mantidas as árvores já existentes que se encontravam em bom estado, acrescentadas outras novas, mas de porte já considerável e “foi criado todo um sistema de aproveitamento de água da chuva que desemboca, uma vez percorrido todo um circuito novo, no lago grande do jardim.”
Estamos, pois, perante uma pequena “mata urbana”, com um elevado índice de biodiversidade, capaz de estabelecer uma transição subtil, muito natural, com o jardim original da Gulbenkian. Nesta época do ano, o visitante poderá, assim, conviver em harmonia com espécies como chapins, toutinegras ou libelinhas.
Assim, como lembrou António Feijó, presidente da Gulbenkian, ficam também resolvidas, “algumas das críticas ouvidas em 1983, quando o CAM abriu ao público e que iam no sentido de o edifício ser um obstáculo cego e abrupto no final do Parque.”
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As preocupações com a sustentabilidade estenderam-se ainda à intervenção arquitetónica sobre o edifício original de betão, da autoria do arquiteto britânico Leslie Martin. Como referiu Lourenço Rebelo de Andrade, arquiteto envolvido nesta obra, a pala de 100 metros de comprimento tem uma cobertura de 3274 telhas de cerâmica brancas, “totalmente produzidas em Portugal, tal como as madeiras utilizadas.”

Para além desta preocupação com a origem das matérias-primas, a pala proporciona ao edifício um “ambiente de frescura, que permite reduzir a utilização de ar condicionado.”

 

Nesta primeira temporada do novo CAM, Leonor Antunes, antiga bolseira da Fundação, é a primeira artista a receber carta branca da direção do CAM, uma iniciativa que, de acordo com o diretor da instituição, Benjamin Weil, é para continuar, já que “os artistas utilizam muito bem essa liberdade criativa que lhes propomos.”

 

Leonor Antunes usou-a, apresentando uma monumental instalação escultórica intitulada Da desigualdade constante dos dias (patente de 21 setembro até 17 fevereiro 2025), que ocupa todo o espaço da Nave e que estabelece um diálogo com um conjunto de obras da coleção permanente do CAM, escolhidas pela artista.

 

Uma exposição coletiva, Linha de Maré, inaugura a nova galeria destinada a mostrar obras da Coleção (as chamadas reservas visitáveis), dando a ver um importante conjunto de peças que questiona a relação do ser humano com o mundo natural, desde o final do século XIX até aos nossos dias.
O Espaço Engawa, também ele novo, vai acolher O Calígrafo Ocidental (21 setembro – 20 janeiro 2025), uma mostra que documenta a relação de Fernando Lemos com o Japão, desde os tempos em que este solicitou uma bolsa à Gulbenkian para estudar caligrafia naquele país. As obras agora apresentadas pertencem ao Instituto Moreira Salles, no Brasil, onde a viúva depositou o espólio do artista.
Serão ainda apresentadas várias exposições enquadradas na Temporada de Arte Contemporânea Japonesa, iniciativa lançada no ano passado para celebrar os 40 anos do CAM. Go Watanabe apresenta a obra site-specific, M5A5 (de 21 setembro a 4 de novembro) e Chikako Yamashiro terá a partir de novembro a exposição Song of the Land (29 novembro a 3 janeiro 2025).

Por sua vez, Yasuhiro Morinaga inaugura a nova Sala de Som, com a instalação inédita The Voice of Inconstant Savage (21 setembro – 13 janeiro 2025).

 

No átrio do CAM, passará a estar instalada uma sala de vídeo itinerante – a H BOX – concebida pelo artista luso-francês Didier Faustino, onde o público terá acesso gratuito a um conjunto de vídeos de artistas internacionais, sempre em regime de rotatividade.

 

E porque falamos de um espaço que quer “ser vivido pela comunidade”, como sublinhou, na apresentação do novo espaço à imprensa, Ana Botella, vice-diretora do CAM, haverá ainda um novo restaurante e uma nova loja.
O restaurante, que se chamará A Mesa do CAM (e que fica exatamente onde estava o antigo e emblemático self-service) vai propor uma experiência gastronómica farm to table, recorrendo a produção própria e a uma rede de produtores locais.
Liderado pelo chef André Magalhães (da Taberna da Rua das Flores), privilegiará a sustentabilidade e a sazonalidade dos produtos, apresentando diferentes propostas ao longo do ano. Para a escolha do nome, contribuiu a grande mesa desenhada por Kengo Kuma, que se divide em mesas de vários tamanhos em função do número de comensais.
A Loja, voltada sobretudo para o design, propõe-se desafiar criadores e marcas a desenvolver peças exclusivas inspiradas pelas coleções artísticas. Entre as primeiras peças à venda estarão as obras produzidas pela Portugal Jewels e criadas pela jovem designer Tamia Dellinger, finalista da Ar.Co.
Será também lançada uma linha de perfumes inspirada no aroma do Engawa jardim, com a assinatura da indiana Jahnvi Lakhota Nandan. Para além dos catálogos das exposições e dos livros de arte, a loja apresentará ainda linhas próprias de merchandising a partir da nova imagem do CAM.
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O fim de semana de inauguração terá vários momentos musicais que se prolongarão noite fora nos espaços interiores e exteriores do CAM, numa programação realizada em colaboração com a Associação Cultural Filho Único. A artista belga, de origem caribenha e radicada em Londres, Nala Sinephro, que se tem destacado no campo do jazz experimental, atua no Anfiteatro ao Ar Livre pela primeira vez em Portugal.

 

Já os DJ Nídia e Tim Reaper vão animar o Engawa com as suas propostas musicais alternativas.  Haverá ainda lugar para apresentações musicais em diálogo com as obras de arte expostas nos vários espaços do CAM.

 

Será o caso do espetáculo de Éliane Radigue, pioneira da música eletrónica, que fará uma série de concertos-performance na Nave do CAM,  a partir da instalação escultórica de Leonor Antunes.

 

A artista multidisciplinar brasileira Jota Mombaça fará, por sua vez, uma performance especialmente criada para a ocasião – Sempre viva cobra d’água – que cruza a escultura, a arte pública e a performance ambiental.

 

O edifício original do CAM inaugurou a 20 de julho de 1983, tendo como principal objetivo reunir e dar a ver a coleção de arte contemporânea que a Fundação Gulbenkian vinha a reunir desde o final da década de 1950.
Com a sua abertura, José de Azeredo Perdigão, primeiro presidente da instituição, realizava o velho sonho de complementar a oferta proporcionada pelo Museu Gulbenkian, cujo acervo termina nas primeiras décadas do século XX.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito das imagens: Leonardo Negrão