Foi por volta da meia-noite desta segunda-feira que o brasileiro Francis Ferreira, imigrante em Portugal há dois anos, chegou o Centro Hindu em Telheiras com um banco para se sentar.
Ficou ali à espera durante toda a madrugada, em busca de respostas para o seu título de residência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Mas a espera foi em vão: apenas os utentes com marcação podem entrar no prédio onde funciona a estrutura de missão da Agência para Integração, Migrações e Asilo (AIMA). Os profissionais só autorizam a entrada minutos antes do horário agendado.
A maior parte das dezenas de pessoas que estavam no local às 8.00, hora de abertura do portão, não tinham recebido um e-mail de agendamento. Foram porque estão desesperadas por informações ou por respostas.
O DN conversou com alguns deles. Os motivos são diversos: cartão renovado que não chegou, pedido de reagrupamento pago e não marcado há meses, dificuldade em conseguir renovar o documento, procura de vaga para regularização.
Já os problemas são os mesmos: os e-mails não são respondidos e os telefones não são atendidos. Por isso, resta a alternativa de ir buscar respostas pessoalmente. A notícia de um novo um centro de atendimento com horáro alargado foi uma esperança para alguns. É o caso de Francis, brasileiro que era o primeiro da fila.
De facto, a AIMA não informou publicamente com pormenores como seria o atendimento. O DN questionou sobre a necessidade de agendamento prévio, mas não teve resposta. “Não estava escrito que não iam atender sem marcação”, diz Francis, o primeiro da fila.
Ao explicarem que não poderia ser atendido, o imigrante desesperou. “Só recebo respostas automáticas por e-mail, recebo respostas genéricas, não sei o que fazer”, afirma.
O caso do brasileiro é complexo: possui o título CPLP e é mais um dos milhares que não foram informados pelo Governo anterior sobre quais os direitos que teriam com o documento, que é uma folha de papel com QR Code, sem foto e dados biométricos.
O trabalho do imigrante, que atua como vigilante, está em risco caso não consiga trocar por um título de residência igual aos demais.
Os que perderam a viagem foram informados para se dirigirem ao centro da AIMA nos Anjos, Desde hoje, o local atende exclusivamente pessoas em busca de informações, sem necessidade de marcação prévia, mediante as senhas disponíveis. Esta segunda-feira, às 8h57, as 120 senhas disponíveis estavam todas esgotadas.
Horário marcado
Apesar de serem uma minoria, alguns na fila estavam com o agendamento em mãos. É o caso da brasileira Camila Ferreira, empregada de limpezas que trabalha em Portugal há dois anos. A imigrante recebeu um e-mail da AIMA no sábado, 31 de agosto, avisando que seu tão esperado horário de atendimento que era na segunda-feira a seguir, 2 de setembro, estava cancelado.
“Eu não sabia o que fazer, se era um e-mail real ou não, então fui”, conta ao DN. Ao chegar na loja da AIMA em Sintra o nome não estava na lista, mas os funcionários também não sabiam dizer se a comunicação eletrónica que recebeu era verdadeira.
O e-mail recebido estava com uma marcação para esta segunda-feira. Foi quando as primeiras notícias sobre o centro começaram a sair que Camila teve mais certeza que a comunicação era verdadeira. “Finalmente chegou o dia, foi uma longa espera”, destaca com a pasta de documentos em mãos.
A Estutura de Missão da AIMA atende exclusivamente pessoas com manifestação de interesse e que atenderam previamente os requisitos previstos em lei. Um dos passos obrigatórios para ter a marcação confirmada é subtemter todos os documentos necessários, como cópias dos últimos seis recibos verdes ou contrato de trabalho.
No novo centro, é realizada a recolha dos dados biométricos para a emissão do título de residência. O atendimento será diário, das 8h às 22h. Além de Lisboa, a previsão do Governo é ter outros espaços semelhantes noutras partes do país.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Gerardo Santos