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Eleições nos EUA: em discurso, Kamala Harris promete ser “presidente para todos os americanos”

Kamala Harris aceitou na  nesta quinta-feira a nomeação para candidata democrata às presidenciais e prometeu ser uma “presidente para todos os americanos”, durante o discurso na Convenção Nacional Democrata, realizada em Chicago.

“Sei que há pessoas com várias visões políticas a assistirem esta noite. Quero que saibam isto: prometo ser uma presidente para todos os americanos”, afirmou.

“Vou ser uma presidente que nos une em torno das nossas mais elevadas aspirações”, continuou. “Uma presidente que lidera e que ouve. Que é realista, prática e tem senso comum”, prometeu. “E que luta sempre pelo povo americano, do tribunal até à Casa Branca. Esse tem sido o trabalho da minha vida”.

Um mês depois da desistência de Joe Biden que abriu caminho para a nomeação, Kamala Harris dirigiu-se a milhões para dizer que a nação tem aqui “uma oportunidade preciosa e fugaz de ultrapassar a amargura, cinismo e batalhas divisórias do passado”.

É uma oportunidade, defendeu, de construir um novo caminho “não como membros de qualquer partido ou fação, mas como americanos”.

Harris galvanizou os milhares de participantes em Chicago enumerando políticas concretas que vai tomar como presidente e a sua estratégia de política externa, prometendo acabar com a guerra em Gaza e continuar a defender a Ucrânia.

A ex-procuradora procurou apresentar-se novamente ao eleitorado, contando histórias da sua infância e adolescência e ligando o percurso dos seus pais imigrantes ao idealismo do que significa ser americano.

“América, o caminho que me trouxe aqui nas últimas semanas foi, sem dúvida, inesperado”, reconheceu a candidata. “Mas eu não sou estranha a jornadas inesperadas”, declarou, falando de como a sua mãe emigrou da Índia para a Califórnia com apenas 19 anos para perseguir o sonho de ser a cientista que ia curar o cancro da mama.

Filha de pai jamaicano, Harris contou que foi sobretudo a mãe que tomou conta dos filhos e que viveram em apartamentos arrendados antes de conseguirem juntar dinheiro para comprar uma casa.

“Vivíamos num bonito bairro da classe trabalhadora com bombeiros, enfermeiros e trabalhadores da construção civil, onde todos cuidavam com orgulho dos seus relvados”, descreveu.

“A minha mãe disse-nos para nunca nos queixarmos da injustiça e sim fazermos alguma coisa por isso”, lembrou, contando que cresceu submersa no movimento dos direitos civis.

A candidata traçou paralelos entre a sua história e a de milhões de norte-americanos que trabalham para melhorar as suas vidas e as da família, procurando mostrar-se alguém como eles. Falou de comunidades fortes e de valores como a importância de tratar os outros como queremos ser tratados.

“Sabemos que uma classe média forte sempre foi crítica para o sucesso da América”, afirmou. “E que construir a classe média vai ser um objetivo definidor da minha presidência”, prometeu. “Isto é pessoal, para mim. A classe média é de onde eu venho”

Promete corte de impostos para classe média e é favorável ao aborto

A candidata democrata à presidência dos EUA Kamala Harris apresentou o plano económico e social se for eleita, incluindo um corte de impostos para a classe média, e é favorável ao aborto.

“Vou criar uma economia de oportunidades onde toda a gente tem a chance de competir e ter sucesso, quer viva numa pequena aldeia ou grande cidade”, afirmou a candidata, na quinta-feira à noite, no discurso de encerramento da convenção nacional democrata em Chicago.

“Vamos aprovar um corte de impostos para a classe média que vai beneficiar 100 milhões de americanos”, prometeu, acrescentando que o seu plano económico inclui programas de acesso a financiamento para pequenas empresas e empreendedores.

Uma futura administração Harris também tentará juntar sindicatos e empresas para melhorar salários e condições de trabalho, e ainda reduzir os custos dos produtos de uso quotidiano.

“Vamos acabar com a escassez de habitação na América”, garantiu, comprometendo-se também a proteger os benefícios da Segurança Social e Medicare.

Ao nível de políticas de saúde e sociais, Harris mostrou-se favorável ao aborto, após a revogação pelo Supremo Tribunal, e a proteção de outros direitos ameaçados, como acesso a contracetivos e a inseminação artificial.

A democrata disse que o candidato republicano, o antigo presidente Donald Trump, responsável pela nomeação dos juízes que revogaram a lei, ainda não está satisfeito.

“Como parte da sua agenda, ele e os seus aliados vão limitar o acesso a contracetivos, banir medicação abortiva e instaurar uma proibição nacional do aborto”, avisou, referindo a intenção descrita no Projeto 2025 de criar um Coordenador Nacional de Aborto para registar abortos, incluindo os espontâneos.

Harris também prometeu aprovar legislação para reforçar o direito ao voto e abordou a questão da segurança na fronteira, um dos pontos mais fracos da administração devido ao grande aumento de migrantes (legais e ilegais).

A candidata falou do pacote de segurança para a fronteira acordado entre democratas e republicanos, que não foi aprovado porque Trump pediu aos congressistas, liderados por Mike Johnson, que o abandonassem, por considerar que seria mau para a sua campanha.

“Como presidente, vou recuperar a lei bipartidária que Donald Trump matou e vou promulgá-la”, disse Harris. “Podemos honrar a nossa herança como nação de imigrantes e reformar o nosso sistema disfuncional de imigração”, considerou. “Oferecer um caminho para a cidadania e proteger a fronteira”, acrescentou.

Defende Israel e Ucrânia e quer reforçar poder militar dos EUA

A candidata presidencial Kamala Harris prometeu defender Israel e Ucrânia, apoiar os aliados e membros da NATO e garantir que os Estados Unidos têm o maior poder militar do mundo.

Num dos momentos mais esperados do discurso, perante protestos à volta da convenção por grupos pró-palestinianos, Harris não deixou margem para dúvidas no que toca ao apoio a Israel, mas também defendeu os direitos dos palestinianos.

“No que respeita à guerra em Gaza, o presidente Biden e eu estamos a trabalhar sem parar, porque agora é o momento para conseguir um acordo para libertar os reféns e um cessar-fogo”, afirmou a candidata democrata.

Chegou a temer-se que os delegados não comprometidos, que queriam falar durante a convenção, pudessem tentar interromper o discurso, algo que não aconteceu.

“Deixem-me ser clara: vou sempre defender o direito de Israel de se defender a si própria e vou garantir que tem a capacidade de o fazer, porque o povo de Israel nunca mais deverá ter de enfrentar o horror que uma organização terrorista chamada Hamas causou a 7 de outubro”, afirmou.

Mas Harris também criticou o que está a acontecer em Gaza, considerando a situação dos últimos dez meses devastadora e defendendo o direito dos palestinianos a viver em paz e segurança.

“Tantas vidas inocentes perdidas, pessoas desesperadas e esfomeadas a fugirem sem parar”, descreveu. “A dimensão do sofrimento é de partir o coração”, continuou.

Harris assegurou que a Administração está a trabalhar para acabar com esta guerra e “assegurar que o povo palestiniano pode realizar o seu direito a segurança, liberdade e autodeterminação”.

A democrata disse que não irá tolerar ditadores, ao contrário de Donald Trump, e que vai assegurar o poder militar do país.

“Como comandante suprema, vou garantir que a América tem sempre a maior e mais letal força de combate do mundo e vou cumprir a nossa obrigação sagrada para com as nossas tropas”, afirmou a candidata.

Esta parte do discurso, em que abordou diretamente o que será a sua política externa, arrancou muitos aplausos e foi ligada a um sentimento de patriotismo e crença no sonho americano que permeou a convenção.

“Meus caros americanos, adoro o nosso país com todo o meu coração”, disse Harris. “Somos os herdeiros da maior democracia na história do mundo”, considerou, pedindo aos eleitores que mostrem uns aos outros e ao resto do mundo aquilo que a nação é e o que defende: liberdade, oportunidade, compaixão, dignidade, justiça e possibilidades intermináveis.

“Temos de estar à altura desde momento”, declarou.

A ex-procuradora também mencionou os outros casos em que Donald Trump foi considerado culpado, desde abuso sexual a fraude e interferência eleitoral em Nova Iorque.

O discurso encerrou a convenção nacional democrata, um mês depois de Joe Biden ter desistido da corrida e aberto as portas a Kamala Harris.

Fonte: Diário de Notícias / Portugal

Crédito da imagem: Michael Reynolds / EPA