Foi num ambiente de pura emoção (programada) que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, consolidou a elevação de Kamala Harris à condição de candidata às presidenciais de novembro pelo Partido Democrata e de principal entrave ao regresso do republicano Donald Trump à Casa Branca.
Biden, que se emocionou por diversas vezes – como mandam os figurinos destes encontros – disse que a sua vice-presidente é a melhor esperança para preservar a democracia norte-americana.
Biden foi o centro das atenções na noite de abertura da Convenção Nacional Democrata, esta segunda-feira, tendo sido mimoseado com uma longa ovação em pé pelos muitos milhares de militantes que enchiam o pavilhão e empunhavam cartazes que diziam “We (love) Joe” – algo que não é costume nas convenções.
Secando as lágrimas depois de ser apresentado pela sua filha Ashley, Biden acenou para a multidão que segurava cartazes e perguntou-lhes:
“Vocês estão prontos para votar pela liberdade? Vocês estão pronto para votar pela democracia e pela América? Deixem-me perguntar-lhes, vocês estão pronto para eleger Kamala Harris e Tim Walz?”.
O discurso de Biden em Chicago deu início a um evento de quatro dias alimentado pelo entusiasmo por Kamala Harris e de alívio por Biden ter abandonado a sua própria candidatura à reeleição.
A relutante decisão do presidente de renunciar (em 21 de julho) parece tê-lo libertado para uma postura mais distendida e onde os equívocos ficaram de parte – pelo menos as televisões não evidenciaram nenhum percalço notório. “Eu amo o trabalho, mas amo mais o meu país”, disse Biden, atraindo gritos de “Nós amamos Joe”.
Num contexto em que toda a gente ama toda a gente, Biden pediu aos democratas que se unam em torno de Kamala Harris em 5 de novembro, data das eleições norte-americanas.
O país foi aliás percorrido por uma onda de contagens, listagens e rankings: Harris tem sido apontada como a primeira mulher, ou a segunda ou mesmo a quarta a atingir determinados lugares, desde a vice-presidência à candidatura à presidência, passando pela procuradoria ou pelo Senado.
Harris acabaria por juntar-se a Biden no palco – naquele que foi um dos momentos mais emocionantes do agendamento previsto para a convenção.
Biden comparou Harris, a promotora, com Trump, condenado, e catalogou o que chamou de fracassos da política externa do candidato republicano, acusando-o de se curvar perante presidente russo, Vladimir Putin, e de tentar destroçar a NATO.
“Ele é o perdedor”, disse Biden. Ao contrário da maioria das intervenções anteriores, Biden reconheceu a raiva de milhares de manifestantes pró-palestinianos que se reuniram do lado de fora da arena da convenção, dizendo que tem trabalhado sem parar para alcançar um cessar-fogo.
“Aqueles manifestantes na rua, eles têm razão”, disse. “Muitas pessoas inocentes estão a ser mortas em ambos os lados”.
No início do dia, milhares de manifestantes reuniram num parque próximo para pressionar os delegados a abandonar o apoio militar do partido à ofensiva israelita em Gaza.
Os manifestantes pró-palestinianos eram menos que as dezenas de milhares que os organizadores previram, mas um grupo dissidente deixou a marcha principal e rompeu um perímetro de segurança perto do centro de convenções, atraindo a tropa de choque, que deteve quatro pessoas.
No início da noite, Kamala Harris fez uma aparição surpresa, atraindo aplausos da multidão enquanto jurava derrotar Trump. “Lutemos pelos ideais que prezamos e lembremo-nos sempre: quando lutamos vencemos!”.
Ao longo da noite, os presentes ainda tiveram tempo para aplaudir a derrotada candidata presidencial de 2016, Hillary Clinton. “A história da minha vida e a história do nosso país é que o progresso é possível, mas não garantido”, disse.
“E agora, estamos a escrever um novo capítulo na história da América”, disse. “Kamala tem o caráter, a experiência e a visão para nos levar adiante”, disse a antiga primeira-dama.
Fonte: O Jornal Económico / Portugal
Crédito da imagem: Justin Lane / EPA