Nas cinquenta primeiras posições do ranking nacional das escolas secundárias, elaborado a partir dos dados divulgados pelo Ministério da Educação, encontramos apenas três escolas públicas.
Uma delas, na 48.ª posição, é a Escola Básica e Secundária José Relvas, em Alpiarça que, num concelho maioritariamente rural, consegue este ano posicionar-se como a segunda entre as públicas, e a primeira no distrito de Santarém, com 13,76 valores de média nos exames do ensino secundário.
Satisfeita com a recuperação conseguida face ao ranking de 2022, no qual a escola ocupava a 93.ª posição, a diretora, Isabel Silva, discorda, contudo, com a forma como são avaliados os critérios nestes rankings.
A professora de Geografia, que preside a direção desta escola há 22 anos, considera que “não há equidade porque se comparam resultados de escolas em contextos diferentes, desde logo com a grande diferença que existe entre escolas públicas e privadas”. Mesmo entre as escolas públicas existem grandes diferenças, aponta.
“Há escolas públicas com condições até luxuosas, e outras em que para se desenvolver o processo de ensino-aprendizagem é um milagre constante”.
Inovação faz parte do dia-a-dia
Integrada numa região com um contexto socioeconómico pouco favorecido, a EB2,3 e Secundária José Relvas tem, nas palavras da sua diretora, “uma enorme capacidade de adaptação”.
Isabel Silva destaca os desafios que a escola enfrenta, especialmente desde a pandemia, a que se seguiram as obras de remodelação que estão finalmente a terminar, mas reconhece que alunos, pais e corpo docente conseguiram superar-se e atingir os objetivos a que se propuseram.
“Todos os anos fazemos algo diferente, estamos sempre a entrar em novos desafios, e temos um conjunto de fatores que que se iniciam com um trabalho de continuidade desde a educação pré-escolar”, explica a responsável pela direção que se assume como “eterna insatisfeita” no que diz respeito a diversificar iniciativas e a oferecer o que considera melhor para os alunos.
Esta escola, com cerca de 800 alunos, faz parte dos cerca de 80 agrupamentos que integram a Rede de Inovação. Ou seja, a José Relvas implementou, pela primeira vez em 2019, o Plano de Inovação que abrange todo o ensino secundário e também a educação pré-escolar.
“É um trabalho que se inicia a partir da educação pré-escolar, com alguns projetos diferenciadores como é, por exemplo, o ‘Inglês a brincar’, em que as nossas crianças do ensino pré-escolar tomam contacto com este idioma a partir dos quatro anos, e que depois tem continuidade, mesmo não sendo obrigatório no primeiro e no segundo ano, como oferta complementar em todos os níveis de ensino”.
Além do inglês, e ainda no primeiro ciclo, os alunos tomam o primeiro contacto com as TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação) experimentais, e com a leitura que também acompanha o currículo até ao 12.º ano.
Já no segundo ciclo, disciplinas como ‘Ser ativo’ promove o interesse pela cidadania, com a possibilidade de os alunos simularem eleições, ou de se empenharem a desenvolver ideias e sugestões para o Orçamento Participativo do município.
Metodologias de trabalho ativas, muito trabalho colaborativo e disciplinas diferentes das do currículo da matriz base são igualmente fatores de diferenciação na escola José Relvas.
Neste modelo, explica Isabel Silva, alunos e professores preparam semanalmente as aulas em conjunto e há disciplinas que contam com três, quatro ou cinco professores a lecionar ao mesmo tempo. “Disciplinas que não são do currículo nacional, que são só nossas”, reforça.
Uma das iniciativas colaborativas destacada por Lina Duarte, professora responsável pela área de projetos, é a articulação entre as disciplinas de Biologia e Geologia, a de Física e Química A. A docente explica que, até 2019, estas últimas eram aquelas em que a escola tinha piores resultados nos exames nacionais. Com este modelo de trabalho houve uma grande recuperação e os resultados “são muito positivos”.
Com um calendário escolar composto por dois semestres e não por três períodos letivos, como é tradicional, esta escola evita “avaliações desnecessárias”, como reconhece Isabel Silva, e consegue trabalhar competências nos alunos, mais em linha com a realidade.
Lina Duarte destaca algumas: comunicação (oral e através das TIC), criatividade, sensibilidade estética através da forte aposta em proporcionar acesso à cultura, pensamento crítico, resolução de problemas ou trabalho colaborativo. No fundo, “aquilo que lhe fará falta na vida real”, salienta.
“O que tentamos fazer desde a educação pré-escolar até ao 12.º ano é oferecer-lhes experiências educativas, que sejam significativas, e que eles não têm à partida, procurando que não fiquem em desvantagem em relação aos alunos que estudam em cidades maiores, como Lisboa”, acrescenta Isabel Silva.
Igualmente importante nesta escola é o desporto escolar que, além das modalidades mais habituais, oferece aos alunos atividades como hipismo ou canoagem, além da participação num conjunto de competições regionais, nacionais e mesmo internacionais.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Reinaldo Rodrigues / Global