Os eleitores franceses acorreram às urnas este domingo em números não vistos há décadas na primeira volta das eleições legislativas antecipadas, convocadas por Emmanuel Macron após a vitória do partido de direita Reunião Nacional (RN) nas europeias do início do mês.
Mas o tiro saiu pela culatra ao presidente francês, pois as primeiras projeções saídas das urnas davam 34,5% à força liderada por Marine Le Pen e Jordan Bardella, o candidato a primeiro-ministro do RN, 28,5-29,1% à aliança de esquerda Nova Frente Popular, e 20,5-21,5% ao campo centrista de Macron.
Para a segunda volta, no próximo domingo, fica a decisão dos franceses sobre se darão uma maioria absoluta na Assembleia Nacional à direita, um pedido que Le Pen fez logo na sua declaração depois de conhecidos os primeiros números.
“Nada está ganho e a segunda volta é decisiva”, pediu Le Pen aos seus apoiantes. “Precisamos de maioria absoluta para que Jordan Bardella seja nomeado primeiro-ministro por Emmanuel Macron dentro de oito dias”, prosseguiu a líder do RN, lembrando que Bardella disse que queria ser o “primeiro-ministro de todos os franceses”.
Com os eleitores a serem confrontados com as escolhas mais polarizadoras da história recente, a participação disparou. De acordo com a Elabe, prevê-se uma participação de 67,5%, a maior registada numa eleição legislativa de formato regular em França desde 1981. A participação final em 2022 foi de apenas 47,5%.
Estas eleições poderão colocar a direita no poder em França pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial e dar a Jordan Bardella, de 28 anos, a oportunidade de formar um governo.
Um cenário que criaria um período tenso de “coabitação” com Macron, que prometeu cumprir o seu mandato até 2027. No entanto, terá mesmo de se esperar pelos resultados finais da segunda volta, pois Bardella garantiu durante a campanha que só formará governo se o RN obtiver maioria absoluta.
De acordo com a lei eleitoral francesa, um candidato que obtenha a maioria absoluta dos votos válidos e um total de votos superior a 25% do eleitorado registado é eleito na primeira volta. Se nenhum candidato atingir este limite, haverá uma segunda volta entre os dois candidatos mais votados e qualquer outro que tenha recebido um total de votos superior a 12,5% dos eleitores registados em cada círculo. Na segunda volta, é eleito o candidato mais votado.
Nas legislativas de 2022, apenas cinco deputados foram eleitos à primeira volta: um do Juntos pela República, a coligação de Emmanuel Macron, e quatro da aliança das esquerdas.
Houve outros candidatos que, logo na primeira volta, conseguiram mais de 50% dos votos, por exemplo, Marine Le Pen, mas como a abstenção nos seus círculos foi demasiado alta, tiveram de se sujeitar à segunda volta. Este domingo, a líder da extrema-direita conseguiu ser eleita à primeira. O mesmo aconteceu com o secretário-geral do Partido Socialista, Olivier Faure.
Estas regras levaram quase todos as forças políticas a concurso, da direita à esquerda, a anunciarem como procederão na segunda volta.
Num comunicado, a coligação presidencial Juntos pela República anunciou que vai apelar aos seus candidatos que ficaram ontem em terceiro lugar para se retirarem da corrida “em benefício dos candidatos capazes de vencer o Reunião Nacional e com quem [partilhamos] o essencial: os valores da República”, sem clarificar, porém, a sua posição perante os candidatos da França Insubmissa (LFI), força de extrema-esquerda integrante da Nova Frente Popular.
No entanto, no mesmo comunicado, é referido que a NFP, que ficou em segundo lugar a nível nacional, está a “pagar a sua aliança com a LFI, conhecida pelos seus excessos antirrepublicanos” e “não terá condições de vencer no dia 7 de julho e não conseguirá governar o país sozinha e na sua forma atual”.
À esquerda também se multiplicaram os apelos à desistência dos seus candidatos que passem à segunda volta em terceiro lugar em corridas onde estejam representantes do RN.
“A história está a olhar para nós e a julgar-nos. A direita nunca esteve tão perto de tomar o poder nas urnas no nosso país. Devemos, coletivamente, estar à altura do momento que atravessamos”, referiu Raphaël Glucksmann, do Praça Pública, que faz parte da Nova Frente Popular.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Crédito da imagem: Yves Herman / Reuters