É a maior livraria do país”, afirma Pedro Sobral, presidente da APEL – Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, entidade que organiza há décadas a Feira do Livro de Lisboa.
Na verdade, os números anunciados para o evento, que inaugura esta quarta-feira às 20.00 horas, na presença do Presidente da República, da ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, e do presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, são impressionantes: 350 pavilhões, 960 marcas editoriais, uma oferta de mais 85 mil títulos disponíveis e mais de 3000 eventos agendados.
No lugar habitual (e que não poderia ser outro, segundo Pedro Sobral), esta será a maior edição de sempre com duas praças, horário alargado e uma forte aposta na acessibilidade de pessoas com necessidades especiais.
Com estes 350 pavilhões, está, assim, atingido este ano o limite máximo de crescimento do recinto, o que deixa aos organizadores um desafio para o futuro. Em declarações ao DN, Pedro Sobral diz que “o Parque é um organismo vivo, que não se pode estender de acordo com a nossa vontade – e ainda bem.”
O problema é que, mesmo estando no limite, continuam a aumentar os pedidos de novos participantes, o que, no futuro, poderá significar sacrificar a atribuição de alguns pavilhões, porque retirar a Feira do Livro do Parque está fora de questão.
“Prefiro ter de enfrentar este problema do que o inverso, que seria ver diminuir o número de interessados em participar na Feira. Mas também estou muito ciente de que ela só tem este êxito todo porque está no Parque. Este é realmente um sítio muito central, onde as pessoas gostam de passear, e isso tem de ser ponderado quando pensamos qual é o público a que nos destinamos”.
“Estou convencido de que quem tem hábitos de leitura enraizados, compra livros em qualquer lugar, mas a nossa principal aposta é ganhar novos leitores e, assim sendo, um lugar tão aprazível como o Parque, nesta época do ano, é fundamental.”
Atividades para todas as idades… e gostos
Como de costume, é vasta e muito diversificada a agenda de atividades paralelas ao comércio de livros. No ano passado realizaram-se perto de 2600 eventos e este ano, na véspera da abertura, já estão marcados mais de 3000, salientando Pedro Sobral que, ao longo da feira, os vários agentes envolvidos marcam sempre novas iniciativas.
Logo no primeiro fim de semana (a 2 de Junho), o escritor norte-americano Michael Cunning- ham (Prémio Pulitzer pelo romance As Horas), será a “estrela”, mas, conforme o esperado, muitos mais autores de ficção e não-ficção, para público adulto e infantojuvenil, nacionais e estrangeiros, aparecerão quer em sessões de autógrafos, quer em lançamentos de novas obras. Para o visitante só há um embaraço: o da escolha.
À imagem do que tem vindo a acontecer nas edições anteriores, também não faltarão descontos especiais. De 2ª a 5ª feira (exceto feriados), das 21.00 às 22.00 horas as editoras aderentes ao programa Hora H vão fazer descontos mínimos de 50% em títulos publicados há mais de 24 meses.
Também o Plano Nacional de Leitura volta a marcar presença com um espaço próprio e uma série de iniciativas dedicadas, não apenas às crianças e jovens em idade escolar, mas a toda a família. Destacam-se o Consultório de Leitura, onde os leitores podem encontrar sugestões de acordo com o seu perfil; o Clube de Leitura, que terá três sessões com Inês Maria Meneses, Gisela Casimiro e João Tordo; e um encontro para Ler e Conversar com Música, inspirada no sucesso do projeto nova-iorquino Reading Rythms.
Voltada ainda para o público infantil é a iniciativa Acampar com Histórias, que permite a crianças entre os 8 e os 10 anos (mediante inscrição e com um custo de 18,5€) dormirem no Parque Eduardo VII, num ambiente de literatura e longe dos equipamentos eletrónicos. Esta ação vai ter seis sessões (sextas, sábados e vésperas de feriado) e tem capacidade para 25 crianças por noite. É o regresso daquela que é a 5.ª edição desta iniciativa, que foi interrompida durante a pandemia.
Mas nem só de livros vive a programação cultural da Feira. Está prevista pelo menos uma sessão de cinema. No dia 15 de Junho, a partir das 20.00, no Auditório Sul, será exibido o filme de animação japonês Naze Ikiru, que conta a história de um jovem camponês que, depois de perder a esposa grávida, é convidado a assistir à palestra de um monge budista.
Segue-se a apresentação do livro Porque Vivemos, de Kentetsu Takamori, em que o filme se inspira.
Às sextasfeiras à noite também haverá música. A 31 de maio é Joana Alegre, cantautora que navega entre o folk, art-rock e baroque pop, que sobe ao palco.
A 7 de junho segue-se JP Simões, cantor, compositor, letrista, contista e dramaturgo. E finalmente, a 14, será a vez da cantora, compositora e cineasta lisboeta Ela Li. Nos restantes dias há mais momentos musicais para toda a família, nos mais diversos horários.
Outra iniciativa que requer a colaboração do público é a campanha Doe os seus Livros, uma parceria da APEL com o Banco de Bens Doados. As ofertas vão ser encaminhadas para as crianças apoiadas por instituições da Entrajuda e importa referir que, desde 2015, já foram angariados mais de 264 mil livros. Isto para não falar na oferta gastronómica, que vai da tradicional fartura a experiências mais inovadoras.
Uma Feira mais inclusiva
O Parque Eduardo VII pode ser muito apetecível, mas não para quem tem a mobilidade condicionada. Graças a um protocolo de três anos assinado com a Access Lab (empresa especializada em mobilidade de pessoas com deficiência) a APEL está agora a trabalhar a questão da inclusão e os modos de facilitar a visita e a frequência de pessoas com a locomoção menos ágil.
“É um trabalho gradual”, diz-nos ainda Pedro Sobral. “Há ali uma série de desafios que demoram a ser respondidos e, como tal, é preciso fazer uma série de levantamentos, mas já este ano vamos ter, por exemplo, mais casas de banho com acesso para estas pessoas de mobilidade condicionada.
Adicionalmente, as rampas vão estar mais bem sinalizadas e vai haver “uma formação bastante intensa, por parte da Access Lab quer ao staff da APEL, quer aos participantes, para poderem dar informação adequada às pessoas de mobilidade condicionada.”
Também a programação de eventos se tornou mais inclusiva, com um conjunto de iniciativas acompanhadas por intérpretes de língua gestual portuguesa, e a existência de um alfabeto de cores para daltónicos, que, entre outras coisas, ajuda as pessoas a orientarem-se nas praças que são definidas por cores.
Conforme sugerido pelos utentes em edições anteriores, também vão estar disponíveis espaços de apoio às famílias, junto à Entrada Sul da feira, para que seja possível mudar fraldas, amamentar ou dar comida a bebés. Já no topo norte, estará aberto um segundo espaço com condições para amamentação e fraldário.
Este ano, pela primeira vez, o visitante poderá dispor de um serviço de bengaleiro, que permitirá não só guardar casacos, chapéus de chuva e outros acessórios, como as compras que for fazendo. Aí estará também disponível um serviço de apoio que permitirá carregar telemóveis ou fazer expedição de livros por correio.
Outra das grandes novidades deste ano é a antecipação do horário de abertura da feira, que passa a abrir às 12.00 horas durante a semana, e às 10.00 ao fim de semana e feriados. O horário de encerramento mantém-se: 22.00 horas nos dias de semana e 23.00 aos sábados, sextas-feiras e vésperas de feriado.
A Feira do Livro, que no ano passado ultrapassou os 800 mil visitantes, prepara-se, este ano, para chegar ao milhão. Pedro Sobral gostaria, mas não faz disso ponto de honra: “Aquilo que queremos é que a Feira seja um motor de formação e de promoção dos índices de leitura. Se chegarmos a mais pessoas, maior será a probabilidade de aumentar os índices de leitura, aproximando-nos dos índices da União Europeia.”
Ao longo da sua vida quase centenária, a Feira do Livro de Lisboa foi mudando de “palco” mas nunca permitiu que a metessem debaixo de telha. Tudo começou por iniciativa de um livreiro luso-espanhol, natural de Olivença, que, em meados do século passado, se destacou pelo dinamismo cultural da Baixa de Lisboa.
Ventura Ledesma Abrantes, assim se chamava, moveu céus e terras, criou a Associação de Classe dos Livreiros de Portugal (antepassada da atual APEL) e lá conseguiu que, em 1931, se realizasse a ainda designada Semana do Livro. Foi inaugurada às 14.00 horas de um outro 29 de maio, faz hoje 94 anos, frente ao Teatro Nacional Dona Maria II.
Fonte e crédito da imagem: Diário de Notícias / Portugal