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Aposta ou capitulação? Sunak anuncia eleições para 4 de julho

É uma espécie de prenúncio para aquele que deverá ser o próximo capítulo da política britânica: enquanto o primeiro-ministro Rishi Sunak anunciava à porta do número 10 de Downing Street, debaixo de uma forte chuvada, a decisão de convocar eleições gerais para 4 de julho, a sua voz era quase abafada pelo som do hino de campanha do Labour, Things can only get better (As coisas só podem ficar melhores, em português), vindo da rua ao lado.

Uma ida às urnas que terá como desfecho mais do que esperado a vitória dos trabalhistas, pondo fim a 14 anos dos conservadores no poder, e chegada de Keir Starmer à liderança do governo.

“Espero que o meu trabalho desde que me tornei primeiro-ministro mostre que nós temos um plano em que estamos preparados para tomar ações ousadas necessárias para o nosso país florescer”, afirmou Sunak, admitindo que “não posso e não vou afirmar que acertámos em tudo. Nenhum governo poderia, mas estou orgulhoso do que alcançámos juntos, das ações ousadas que tomamos. Estou confiante sobre o que podemos fazer no futuro”.

Falando no seu adversário político mais direto, Rishi Sunak garantiu que “não posso dizer o mesmo do Partido Trabalhista porque não sei o que eles oferecem. E, na verdade, acho que vocês também não sabem. E isso é porque eles não têm plano. Não há ação ousada. E, como resultado, o futuro só pode ser incerto com eles”.

“No dia 5 de julho, Keir Starmer ou eu seremos primeiro-ministro. Ele mostrou repetidas vezes que escolherá o caminho mais fácil e fará qualquer coisa para obter poder”, vaticinou o primeiro-ministro britânico, cargo que ocupa desde outubro de 2022, e que irá agora, pela primeira vez, discutir a liderança do governo numas eleições gerais.

A marcação de eleições para 4 de julho apanhou muitos de surpresa, inclusivamente entre os conservadores, e é vista como uma jogada de risco por parte de Sunak, já que o Partido Conservador tem surgido sempre atrás dos trabalhistas em todas as sondagens desde dezembro de 2021 e o estudo de opinião mais recente, conduzido nos últimos dois dias pela Survation, dá 47% das intenções de voto ao Labour, 21 pontos à frente dos tories.

Rishi Sunak – que podia esperar até janeiro para a realização das eleições gerais – não deu ontem qualquer explicação para as estar a convocar já para 4 de julho, quando até muito recentemente planeava eleições no outono, tendo dito apenas que “agora é o momento para o Reino Unido escolher o seu futuro”.

“A sua corrida às urnas a 4 de julho sugere que um primeiro-ministro com reputação de cautela e obsessão por folhas de cálculo é na verdade um jogador”, defendia ontem Jon Craig, correspondente chefe de Política da Sky News.

“Convocar eleições gerais com o seu partido consistentemente atrás do Trabalhista por 20 pontos na sondagem Sky News, na melhor das hipóteses, parece corajoso e, na pior, imprudente. Se conseguir, no entanto, terá alcançado a maior vitória eleitoral dos Conservadores contra todas as probabilidades desde que John Major obteve uma maioria de 21 lugares em 1992”, prosseguiu.

“Alguns comentadores descrevem isto como uma ‘aposta’, mas isso implica que Sunak espera um resultado positivo. Isto parece mais uma capitulação, um reconhecimento de que todas as suas outras opções são piores”, escrevia ontem, por seu turno, o The Guardian.

Fonte: Diário de Notícias / Portugal

Crédito da imagem: Henry Nicholls / AFP