Seis meses depois da posse como líder, no 40.º Congresso, nos primeiros dias de julho de 2022, já Luís Montenegro pensava de “forma preliminar” nos nomes, nas pessoas à sua “volta” e noutras que foi “conhecendo de fora do PSD” para um futuro governo PSD.
No final de um dia com o DN, em abril do ano passado, o agora próximo primeiro-ministro [a posse está marcada para terça-feira da semana que vem] explicava que era “preciso estar preparado, ir modelando as coisas para não haver surpresas”.
Modelar, explicou, significa “ter a perceção de que este tipo dava um bom ministro, um bom secretário de Estado. Pensar isto faz parte da reflexão, até porque para cada lugar tem de haver sempre uma boa meia dúzia de possibilidades”. Algum perfil? “Pessoas que vão mostrando algumas capacidades e talentos para poderem um dia desempenhar essa função. São pessoas que nós vamos [é a única vez que fala no plural] registando como possibilidades.”
Para além dos “mais próximos” e “habituais” [Paulo Rangel, Miguel Pinto Luz, Margarida Balseiro Lopes, António Leitão Amaro, Paulo Cunha, Inês Ramalho, Hugo Soares, Joaquim Miranda Sarmento, Pedro Alves, Pedro Duarte e Pedro Reis], Luís Montenegro inclui na lista de “conselheiros” Pedro Passos Coelho, Cavaco Silva, Francisco Pinto Balsemão, Pedro Santana Lopes “algumas vezes” e “pessoas ligadas a empresas, à academia, até amigos ideologicamente de outras áreas políticas”.
Alguns dos de “capacidades e talentos” e “mais próximos” como Paulo Rangel, Pedro Reis, Joaquim Miranda Sarmento, Miguel Pinto Luz têm sido apontados como “possibilidades” para ministros. Um núcleo político para as pastas “estruturais”: Negócios Estrangeiros, Economia, Finanças e Infraestruturas, respetivamente.
António Leitão Amaro (ministro Adjunto), do “núcleo duro”, Nuno Melo (Defesa), José Matos Correia (administração Interna), Clara Marques Mendes (Segurança Social), José Eduardo Martins (Ambiente), Ana Paula Martins (Saúde), Margarida Oliveira (Agricultura), Alexandre Homem de Cristo (Educação) e Miguel Poiares Maduro são outros dos nomes “ministeriáveis”.
A dúvida? “O espantoso resguardo. Por esta altura, o normal seria haver um corre-corre de nomes, mas não tem sido assim”, refere fonte social-democrata.
A justificação? “Ou está tudo a correr bem ou há dificuldades em ter gente fora do partido que esteja disponível. Um Governo de minoria neste quadro político atual, com o Chega assim e o PS com a narrativa do excedente, com a propaganda do foguetório, que não é o que parece, deve causar incertezas enormes”, acrescenta.
A sustentar os argumentos da “propaganda” é sublinhada a frase, de ontem no Parlamento, de Pedro Nuno Santos que “misturou um problema causado pelo Chega com um Programa de Governo e Governo que não conhece”.
“O que a AD e o primeiro-ministro indigitado mostrou neste processo é que não tem uma solução parlamentar estável, nem tem uma solução de Governo estável, e revelou também que não tinha capacidade de iniciativa e de liderança para resolver impasses”, afirmou o líder socialista.
Outro “facto” da “narrativa” socialista , sublinha fonte social-democrata, é a “pasta de transição”com as 24 áreas-chave da governação para o indigitado primeiro-ministro que António Costa já entregou ao Presidente da República.
O encontro entre Luís Montenegro e Marcelo Rebelo de Sousa agendado para o dia de hoje só vai acontecer às 18h00.
Os souvenirs e autoelogios de Costa na hora da despedida
“Não há dinheiro para tudo, os cofres não estão cheios, é tudo um truque para incentivar reivindicações, é uma narrativa-Calimero de quem perdeu as eleições e tenta agora salvar a face.”
A frase, de um dirigente social-democrata, tal como já o fizeram Marques Mendes e Miguel Poiares Maduro, contesta e contrasta com o autoelogio de ontem de António Costa à sua governação.
O ainda primeiro-ministro, numa conferência de imprensa na residência oficial do primeiro-ministro, ontem, em São Bento, lembrou que em 2015 havia “um défice de 4% (…), os ordenados da Função Pública cortados (…), pensões cortadas e depois de um enorme aumento de impostos. Nós temos agora este saldo orçamental positivo, já tendo reposto integralmente os vencimentos e as pensões cortadas”.
António Costa fez questão de recordar que quando tomou posse a “preocupação das pessoas não era com um excedente orçamental”, mas antes “como é que se arranjava dinheiro para pagar o que era necessário pagar”.
“O que sinto que é a minha missão é ter deixado o Estado em condições de, quer Governos, quer oposições, poderem ter mais liberdade de escolha”, disse.
O primeiro-ministro garantiu que não foi devido à despesa que se registou um excedente, uma vez que, apesar de ter havido “um crescimento significativo” dessa componente, se registou também um défice no Estado, nas autarquias e regiões.
“Onde é que está a chave do saldo positivo do ano passado? Está no enorme crescimento das receitas da Segurança Social. É o saldo de 5670 milhões da Segurança Social que cobriu o défice de 2322 milhões do Estado, das regiões e das autarquias locais”, justificou.
E esse saldo positivo da Segurança Social, assegurou, teve origem no facto de ter havido “mais empregos do que o que tinha sido previsto”, mas também porque os salários “subiram muito acima do que tinha sido o acordo estabelecido no acordo em Concertação Social” – tinha sido acordado um aumento de 5%, e foi de 8%.
Fonte: Diário de Notícias / Portugal
Gerardo Santos / Global Imagens