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Encomendas de alimentos da UE começam a falhar

Já se fazem sentir em Portugal os impactos dos bloqueios dos agricultores em protesto nas principais vias em França e em Espanha. Não está em causa a falta de bens nas prateleiras dos supermercados, mas sim, nas exportações de alimentos para a Europa. Os transportadores portugueses estão em apuros.

“Os clientes têm sido flexíveis, mas começam a diminuir as encomendas e a substituir os nossos produtos por outros de origens como Egito, Turquia, Grécia ou Polónia”, lamenta Gonçalo Santos Andrade, presidente da Portugal Fresh, admitindo que ,“devido ao bloqueio de muitas autoestradas em França, estamos a chegar com atrasos de cerca de 12 a 48 horas aos clientes de França, Países Baixos, Alemanha e Reino Unido”.

Está em causa a exportação de frutas, legumes e plantas, bens que carecem de entregas rápidas, num setor que “exporta 80% do valor para a União Europeia”, na ordem dos “40 a 50 milhões de euros por semana”.

Do lado da Federação das Indústrias Portuguesas Agroalimentares (FIPA), Jorge Henriques salvaguarda que “há no país stock de segurança de matérias-primas alimentares que importamos”.

No entanto, alerta que, “apesar de não haver registo de situações anómalas, não quer dizer que, se os protestos de prolongarem no tempo, não possa haver falhas de matérias-primas ou problemas com os produtos acabados para a exportação”.

E acrescenta que “por este corredor [Espanha-França] circulam também peças e componentes para os equipamentos das nossas indústrias, cuja falta pode afetar o normal funcionamento das fábricas”.

Da parte dos transportadores, a ANTRAM mostra-se “preocupada com a sobrevivência” de muitas empresas, falando mesmo numa situação “que se poderá revelar trágica” se os protestos pela Europa se estenderem no tempo.

André Matias de Almeida, porta-voz da associação, diz que houve dezenas de veículos retidos ontem, em Portugal, nos acessos à fronteira espanhola, agravando as dificuldades de um setor que “está há quase duas semanas a sofrer os constrangimentos dos bloqueios em França”.

O aumento dos custos, designadamente a subida de 8% nos salários – a atualização salarial está indexada, por convenção coletiva, ao aumento do salário mínimo nacional –, é um problema, sobretudo devido à incapacidade de os repercutir no preço final.

“A grande distribuição tem sido altamente insensível, ao longo dos últimos anos, aos problemas do transporte de mercadorias e à necessidade de aumentar preços e isso faz com que muitas destas empresas estejam em situações muito delicadas”, sublinha.

André Matias de Almeida reconhece que as paragens forçadas e os atrasos nas entregas vão causar prejuízos, que terão de ser os operadores do transporte internacional de mercadorias a suportar.

Uma queixa que a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) se recusa a comentar, sublinhando apenas que “todos precisamos uns dos outros, sobretudo numa altura de grande pressão como a que vivemos”. 

Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da associação, acredita que não faltarão produtos nos supermercados por causa destes protestos, no entanto, não esconde que o aumento de preços se fará sentir também no bolso dos consumidores.

“Quem vai pagar esta fatura? Em bom rigor, paga toda a cadeia de valor. Por muito esforço e eficácia que a distribuição tenha nas suas operações, torna-se impossível não transmitir parte destes custos para o consumidor final”, reconhece.

Sobre os protestos dos agricultores, que diz “respeitar e aceitar”, a APED garante que não estão a ser sentidos “constrangimentos de maior” no abastecimento ao mercado.

E embora considere que os agricultores portugueses não têm “o mesmo capital de queixa” dos franceses, pede mais apoios à produção nacional.

“Reconhecemos que há disparidades na tipologia de apoios que existem nos vários Estados-membros e Portugal pode e deve melhorar o apoio aos agricultores e o nível de utilização dos envelopes financeiros que existem na União Europeia para esse fim”, defende Gonçalo Lobo Xavier.

Fonte: Diário de Notícias / Portugal

Crédito da imagem: Pedro Rocha / Global Imagens