Artigo escrito por Ademir Pestana – Presidente do Hospital Sociedade Portuguesa de Beneficência e vereador de Santos, sobre os 50 anos da Revolução dos Cravos
A Revolução de 25 de Abril, também conhecida como Revolução dos Cravos e Revolução de Abril, conflito ímpar na história da humanidade foi um movimento popular e militar, cujo ápice aconteceu em 25 de abril de 1974, colocando fim a ditadura salazarista que vigorou por 41 anos em Portugal.
Fala-se muito sobre a Revolução dos Cravos, um dos mais importantes acontecimentos históricos da década de 70, mas em se tratando de Democracia, o bastante nunca será suficiente, em especial, para não esquecermos das lutas por sua conquista e mais ainda, mantê-las vivas em nossas atitudes.
Em meio ao mundo conturbado por conflitos em que vive a humanidade, mais que dantes é tempo de falar, de lembrar que Democracia só existe com respeito e tolerância às diferenças, independentemente de onde o regime político no qual a soberania é exercida pelo povo está instalado.
A celebração pelos 50 anos da Revolução dos Cravos – nesta data 25 de abril de 2024 – é uma boa oportunidade para nós brasileiros, especialmente a sua esmagadora maioria descendente de portugueses, refletirmos sobre o que viveram nossos parentes próximos com as consequências financeiras do regime salazarista (António Salazar Oliveira que chefiou o governo de Portugal no período de 1933 a 1968, e pós-morte foi substituído por Marcello Caetano que deu sequência ao governo ditatorial) e o desgaste das guerras coloniais no continente africano.
Contra a vontade do povo, o governo salazarista mantinha, apesar do alto custo financeiro e especialmente de vidas, a guerra colonial para manter as então colônias portuguesas na África: Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Cabo Verde.
Essa guerra e a grave crise econômica fizeram com que a insatisfação se intensificasse. Poucas eram as famílias que não tinham, no mínimo, um filho nessas guerras e o empobrecimento do país caminhava a largos passos.
25 de abril de 1974 – A democracia de Portugal, uma revolução cultural onde cravo (flor) e música tingiram e deram o tom da coragem e união de um povo, tem como principais símbolos, os cravos, colocados nas pontas das baionetas dos militares e a música “Grândola, Vila Morena”, a senha que anunciou o começo da revolução.
Falando ou escrevendo dessa forma, parece que foi simples, fácil, rápido.
Muito pelo contrário. Desde os anos 60, artistas populares tentavam envolver a população em manifestações para uma consciência política através da cultura, notadamente pela música, para reivindicar seus direitos. Tarefa árdua porque o país praticamente agrário não estava aberto à cultura de massas.
Portugal, de literatura vasta, internacional, mas praticamente voltada à elite, tinha no fado a canção típica do país, seu modelo (o que continua e para sempre) não se abrindo à música popular, muito menos de protesto.
Mas esses artistas plantaram a semente. Isso ficou evidente em 1974, quando a revolução já estava alinhada pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) formado em sua maioria por capitães que participaram da guerra colonial.
Contando com o apoio dos civis a união pela democracia teve seus momentos decisivos marcados pela questão cultural, quando os responsáveis pelas estratégias para isolar o governo, usaram músicas como senhas para orientar o povo sobre a movimentação dos revolucionários.
E para isso fizeram uso do meio de comunicação mais popular à época, o rádio, um dos mais importantes meios de comunicação social durante o 25 de abril de 1974.
Foi pelo rádio que se ouviram as senhas confirmando a arrancada da revolução festejada com música e distribuição de cravos aos militares e à população. E pela Democracia, celebremos todos os dias.