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29 anos depois, o português Artur Jorge leva o Botafogo ao título de campeão brasileiro

O Botafogo de Artur Jorge sagrou-se este domingo campeão brasileiro de futebol, uma semana e um dia depois de ter conquistado a Taça Libertadores (a Champions sul-americana).

Um feito histórico do treinador português que em abril deixou o Sp. Braga para abraçar esta aventura do outro lado Atlântico, ganhando os dois importantes troféus e devolvendo a glória ao clube do Rio de Janeiro – foi a primeira Libertadores da história do Fogão e o terceiro campeonato, sendo que o último tinha sido ganho há 29 anos.

O Fogão chegou à última jornada a precisar apenas de um empate, mas não facilitou e venceu neste domingo (2-1, com golos de Savarino e Gregore) o São Paulo , terminando a prova com 79 pontos (23 vitórias, 10 empates e 5 derrotas).

Já o Palmeiras de Abel Ferreira, que precisava de vencer e esperar que o Botafogo perdesse para se sagrar campeão, acabou derrotado em casa pelo Fluminense (0-1).

“Estou muito, muito feliz porque, para além de ter sido um projeto que acaba por ser plenamente realizado em relação à conquista de títulos, estou feliz por estes jogadores, grande parte deles merecia isto desde o ano passado, os outros que vieram, e eu, viemos para acrescentar, para quebrar um ciclo, para poder mostrar que estamos cá para poder levar o Botafogo à elite do futebol mundial”.

“Fizemos uma época extraordinária, estou muito feliz pelos nossos adeptos, é uma torcida que tem a fama de ser muito sofrida, e de facto sofreram, e muito, neste campeonato, mas mereceram est festa. É um momento muito especial para mim, estou mesmo muito contente”, referiu Artur Jorge no final do jogo, ele que não conseguiu conter as lágrimas quando o árbitro apitou para o final do jogo.

Artur Jorge, 52 anos, nascido em Braga, entrou para a restrita lista dos treinadores de clubes brasileiros que venceram no mesmo ano a Libertadores e o campeonato, igualando os feitos de Lula no Santos (1962 e 1963) e de Jorge Jesus no Flamengo (2019).

Estas duas conquistas, além do carisma desportivo que devolveram ao clube que tinha fama de azarado, encheram os cofres do Botafogo: a Libertadores rendeu qualquer coisa como 35 milhões de euros, e o Brasileirão mais 7,5.

O título, curiosamente, foi assegurado no dia em que o Botafogo completou 82 anos de existência (após a fusão do Club de Regatas Botafogo e do Botafogo Football Club) e também no dia dedicado a Nossa Senhora da Conceição, padroeira do clube. Coisas do destino…

Se Artur Jorge e os jogadores têm grande parte do mérito nesta conquista, quem o escolheu também tem de ser destacado: John Textor, o empresário norte-americano que há uns anos quis entrar no capital da SAD do Benfica e que entretanto investiu em vários clubes de futebol, comprando o Botafogo em 2021 por cerca de 62,5 milhões de euros – detém ainda participações no Lyon (França), RDW Molenbeek (Bélgica) e Crystal Palace (Inglaterra).

Confiança no projeto

O então treinador do Sp. Braga foi sempre a primeira escolha de Textor, que veio a Portugal em março para o convencer a assinar pelo Botafogo, pois seguiu a carreira do português no Sp. Braga e achou que encaixava no perfil que pretendia.

O projeto agradou ao técnico e tudo ficou fechado, com o empresário a pagar a cláusula de rescisão ao Sp. Braga. Antes de Artur Jorge, na época passada, estiveram no clube carioca os portugueses Luís Castro (saiu por ter recebido uma proposta do Al Nassr) e Bruno Lage (despedido após 16 jogos).

“Confesso que a primeira imagem que tinha enquanto espectador não era a melhor sobre o futebol brasileiro, justamente pela constante troca de treinadores. Muitos em cima de um ou dois resultados. Isso não mostra estabilidade do projeto, é uma tremenda prova de falta de confiança. Mas vim muito seguro do projeto que abracei. Sempre que conversei com Textor foi no sentido de olhar como sendo um projeto com princípio, meio e fim”, afirmou o treinador quando assinou.

O projeto assentava também no reforço da equipa de futebol. Por isso foi feito um investimento forte e chegaram jogadores como o argentino Thiago Almada, contratado em julho aos norte-americanos do Atlanta United por 19,5 milhões de euros – a transferência mais alta da história do clube -, Matheus Martins, extremo esquerdo ex-Udinese que custou 10 milhões de euros, Vitinho, lateral direito oriundo do Burnley, de Inglaterra, por oito milhões. E ainda Alex Telles, internacional brasileiro e antigo jogador do FC Porto, que chegou a custo zero.

No total foram nove as contratações. Um lote que se juntou a um grupo de bons jogadores, onde se destacaram os alas Luiz Henrique e Jefferson Savarino, e jovem ponta-de-lança Igor Jesus, já chamado à seleção brasileira.

“O segredo é ter paixão e respeito pelos atletas. Temos um grupo de grande qualidade humana e temos a ambição que faz parte de um projeto de sucesso. O nosso dia a dia é materializado com resultados, mas é um trabalho diário de toda uma estrutura”, disse Artur Jorge no final de setembro, longe de sonhar que iria conquistar a Libertadores e o Brasileirão no seu ano de estreia.

Ele que até há pouco mais de uma semana tinha no palmarés apenas um troféu: uma Taça da Liga conquistada pelo Sp. Braga em 2023-24.

Com estas duas grandes conquistas, o treinador português viu a sua cotação subir em flecha. Mesmo com o contrato a expirar apenas em dezembro 2025, o próprio já admitiu que foi alvo de várias sondagens. Mas Textor pretende reunir-se com o técnico e apresentar-lhe já uma proposta de renovação.

E até ao final do ano pode haver mais um festejo. A comitiva mal celebrou o título, preparava-se para viajar para Doha, onde vai participar no Mundial de Clubes. A estreia é já quarta-feira, contra o Pachuca, do México. Se vencer, o adversário nas meias-finais será o Al-Ahly. E se passar à final tem à espera o Real Madrid, no dia 18.

Fonte: Diário de Notícias / Portugal

Crédito da imagem: António Lacerda / EPA